SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O agronegócio é apontado como um dos maiores beneficiados com a chegada do 5G em eventos e cerimônias com a participação de Fábio Faria, ministro das Comunicações, Tereza Cristina, da Agricultura, e outros representantes do governo.
A expectativa do setor também é grande, mas num degrau abaixo: o leilão deve estimular, na verdade, a implementação do 4G nas áreas rurais.
Expandir a conectividade por meio do 4G é meta do próprio Ministério da Agricultura. A pasta publicou em maio um estudo da Esalq USP afirmando que é preciso instalar antenas em 4.400 torres já existentes e implementar outras 15.182 para cobrir o sinal no campo. Projeções com 5G, cujo leilão está marcado para esta quinta-feira (4), não são citadas no diagnóstico.
Para Gregory Riordam, presidente da ConectarAgro, associação que estimula a conectividade no campo, a estimativa é que a expansão do 4G em áreas remotas ocorra diante das exigências impostas às operadoras que adquirirem frequências no leilão. Segundo ele, a situação hoje é de “ZeroG” em muitas localidades.
“O 4G atende plenamente as aplicações do campo. O leilão traz um mecanismo para estender ou expandir essa conectividade mais adequada, que é o 4G, subindo a cobertura para além do número baixíssimo que temos hoje”, afirma.
O Ministério da Agricultura diz que 23% do espaço agrícola, o que considera mais que domicílios, conta com alguma cobertura de internet. Dados do Cetic.br mostram que 26% das pessoas em zonas rurais nunca acessaram a internet, índice que é de 12% nas áreas urbanas. A Pnad TIC 2019, do IBGE, revela que, pela primeira vez, mais da metade dos domicílios em zonas rurais estão conectados à internet.
O sinal residencial, no entanto, não garante que todo o espaço de cultivo das áreas agrícolas esteja coberto, o que seria essencial para atividades ligadas à chamada agricultura de precisão, com maquinário e lavouras conectadas por meio de sensores.
O agro é um alvo do governo nas ações de marketing do 5G, com vários testes públicos da tecnologia em propriedades rurais. Trata-se de uma estratégia que faz sentido mesmo ao setor privado. Conectar um setor de peso ao PIB nacional seria garantir mais competitividade no comércio global.
Além disso, o leilão de 5G tornou-se uma das bandeiras do governo Bolsonaro, que fez esforços para realizar o leilão em 2021, antes do ano eleitoral. Apesar do tombo de popularidade do presidente, parte do apoio ainda vem do setor ruralista.
O apoio da Frente Parlamentar Agropecuária à liberação do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para expansão do acesso à internet também foi fundamental para aprovar a pauta, que estava paralisada no Congresso há mais de dez anos.
O fundo arrecadou mais de R$ 20 bilhões desde 2001, mas não foi destinado ao setor, e sim para manter o superávit primário da União. No fim do ano passado, Bolsonaro liberou o fundo para ampliar acesso à internet, que impactará zonas rurais.
A implantação do 5G no agronegócio é usualmente associada a tratores autônomos e a imagens captadas por drones em alta resolução e exibidas em tempo real em um tablet, mas esse cenário é distante para a maioria das fazendas no Brasil. Necessidades como a identificação da situação sanitária das lavouras por sensores e a irrigação eficiente são mais palpáveis e urgentes.
“Lá na frente, quando tivermos todo território dominado, o 5G vai permitir aplicações mais específicas e de alta capacidade de transmissão. Mas o primeiro problema do produtor não é conectar a máquina dele, é fazer com que o cara que dirige a colheitadeira consiga conversar pelo celular com quem está na oficina”, acrescenta Riordam.
Na base de necessidades, os produtores, em especial os pequenos, precisam de sinal de celular estável para conseguir se comunicar.
“Com a quantidade de estabelecimentos offline, até 2G no campo já ajudaria. É preciso diminuir com urgência o percentual de propriedades offline porque esse vazio de internet afeta a segurança, o ensino à distância, o trabalho do agricultor”, diz Joaci Medeiros, coordenador técnico do Instituto CNA.
A cobertura total de internet no campo depende políticas públicas, ainda mais para os agricultores familiares, responsáveis por cerca de 20% do valor bruto da agropecuária nacional e que carecem de educação digital básica para serem inseridos na economia.
Para o setor privado, o agro também é tido como propulsor de receita tanto no curto como no longo prazo.
Pietro Labriola, presidente da TIM no Brasil e da Conexis, que reúne as grandes operadoras, diz que o Brasil só conseguirá suprir a demanda por alimentos se apostar em expansão tecnológica. Ele pontua que o país será responsável por 40% da produção global de comida em 2050, segundo a FAO.
“Trabalhamos com o agro sendo o negócio que mais vai crescer na economia do Brasil nos próximos 20 anos. Não seria particularmente inteligente não trabalhar com esse setor”, diz Labriola.
Segundo ele, o agro não figura entre as principais áreas de desenvolvimento do 5G em outros países e isso pode ser vantajoso ao Brasil. “Por que o agro não aparece? Porque esse benchamark [ponto de referência] não existe. O Brasil é líder”, afirma.
A demanda por 5G no campo é inevitável no longo prazo, de acordo com outro executivo do setor. Ele afirma que, à medida que as tecnologias se disseminarem com a cobertura 4G, produtores tendem a instalar novos dipositivos para garantir mais produtividade, o que exigirá conexão mais rápida.
Para curto prazo, as operadoras já trabalham em um nicho de mercado que vende soluções fechadas para fazendas, como redes privativas de 5G e plataformas que conectam máquinas e sensores de acordo com a necessidade do contratante.
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