Na última segunda-feira (18) foi comemorado o Dia do Médico – data de celebração aos responsáveis por cuidar da saúde de milhões de pessoas.
Esse dia também foi a concretização de um sonho para um jovem que superou inúmeros obstáculos sociais e econômicos para atingir seus objetivos de vida.
Estamos falando do estudante Joel Mistokles Luis da Silva, 33 anos, morador do bairro São Bernardo, na periferia de São Luís (MA), que conquistou o diploma de Medicina e em breve vai exercer sua profissão na integralidade.
Em entrevista ao portal G1, Joel contou que “lutou por 7 anos” para chegar à conclusão do curso, com inúmeros desafios, como dar sustento à família (filhos e esposa), a falta de recursos para pagar a faculdade, e ainda levar esperança às pessoas por meio da música, dentro dos ônibus da capital maranhense.
“Sempre tive o sonho de ser médico e lutei por esse sonho com a ferramenta que eu tenho, que é a música. Nunca foi fácil. Eu e minha esposa sempre tivemos dificuldade, tínhamos nosso filho para cuidar… mas eu não desisti. Quando finalmente passei para medicina, eu já cantava nos ônibus. Então vendia o CD nos coletivos, o material que eu tinha às vezes, cabo, carregador, película de celular… porque quando a gente tem um sonho, luta com o que tem”, disse Joel Mistokles, “o cantor dos ônibus”.
Diploma em pleno Dia do Médico
Durante a cerimônia de colação de grau, realizada na última segunda (18), Joel foi um dos alunos mais aplaudidos e reverenciados.
Ali, contou com a presença de amigos, familiares, professores e alunos que acompanharam as batalhas que travou durante o curso.
“Eu sei de sua história. Eu sei de tudo o que você passou para estar aqui hoje. E eu te reverencio em nome de todos os que estão aqui presente para mostrar que sonhar não é proibido. E eu te parabenizo, Doutor”, declarou a professora e enfermeira Cianna, coordenadora da colação dos alunos de medicina.
Caminho rumo ao diploma
Há cinco anos, uma emissora de TV local contou um pouco da história do jovem cantor Joel Mistokles, que naquela época começava o curso de Medicina e tinha como desafio pagar os (muitos) materias do curso, além de garantir o sustento da família.
“A gente levantava de manhã cedo, 4… 6 horas da manhã para fazer beiju, cuscuz de arroz, de milho, bolo de milho… vários tipos. E vendia café da manhã na porta de casa antes de ir para a faculdade. Ela [minha esposa] ficava em casa, cuidando do bebê. E quando eu voltava da faculdade, ainda dava ‘tempo’ de vender churrasquinho, eu e ela também, para complementar a renda de casa”, disse Joel.
Apresentar-se de ônibus em ônibus foi uma ideia surgida quase por acaso: Joel já cantava em uma igreja evangélica, mas foi em um momento de angústia, em janeiro de 2014, que ele percebeu que poderia usar seu dom para levar esperança às pessoas e ainda realizar o próprio sonho.
“Houve um dia que eu estava triste porque faltavam as coisas em casa. Então eu estava em um ônibus e comecei a cantar como se eu tivesse dentro do meu quarto. As lágrimas vieram para o meu rosto, cantei como se estivesse cantando para o meu próprio Deus. E quando eu passei a catraca, percebi que algumas pessoas estavam chorando dentro do ônibus. Então eu pensei: Isso só pode ser Deus. Não é o Joel. Então eu entendi que era ali, no ônibus, que eu deveria começar a cantar”, disse.
De lá pra cá, suas apresentações nos ônibus de São Luís viraram trabalho.
Depois de passar no vestibular, Joel começou a cantar músicas na ida e na volta das aulas, sempre sem cobrar. Primeiro Joel canta, depois oferece seu CD, mas cada passageiro dá o valor que pode.
“A mudança real que esse trabalho tem feito em mim é a forma de eu enxergar as pessoas e ver as necessidades dela. Porque às vezes as pessoas estão em um ônibus, com a cabeça tão cheia de problemas, pensando nas contas que têm, pensando no que perdeu … Então você chegar com uma mensagem positiva, falando sobre o amor de Deus, porque Deus ama todos nós. Eu creio que isso venha fazer a diferença. Eu creio que o amor ao próximo é o que me motiva”, contou o cantor.
Apresentação nos hospitais
Desde 2014, o formando maranhense também canta em hospitais e espaços de acolhimento para pessoas carentes. Suas performances têm sido cada vez mais requisitadas.
Joel já participou de eventos gospel, se apresentou para uma multidão na Praça Maria Aragão, e até foi convidado a participar de um programa de TV.
“Foi em agosto de 2018. Eu estava numa situação delicada financeiramente. Minha esposa indo para o quinto período de odonto e precisando de R$ 5 mil pra comprar de material, mas a gente não tinha nada. Pensei em desistir nesse momento. Foi aí que recebi a ligação para participar do programa fazendo um cover de Reginaldo Rossi. Não parecia nada, mas aí eu fiz do Elvis Presley e consegui a premiação de R$ 10 mil”, comemorou.
A vez da esposa
A esposa de Joel, Lorrane Pereira, realizou o sonho de trabalhar na área de odontologia no final de 2019.
No entanto, após o nascimento da segunda filha do casal, a Pérola Sophie, ela parou de trabalhar. Agora, o esposo quer garantir uma chance dela seguir na profissão que escolheu.
“Em 2022 ainda não vou fazer residência. Vou ajudar quem cuidou de mim e da minha filha. Ela [Lorrane] terminou o curso dela em dezembro de 2020 e tivemos uma filha pequena que nasceu em março. Ela focou em cuidar de nossa filha e não trabalhou. Agora como médico eu espero dar condições dela exercer com mais excelência ainda o trabalho que ela escolheu, que é de ser dentista”, disse.
O próximo grande objetivo do jovem, agora formado, é cada vez mais exercer a profissão com excelência e levar saúde a quem mais precisa.
“Meus planos para o futuro são investir em conhecimento, aprender novas coisas para poder investir e aplicar na vida dos meus pacientes. Especialidade? Ainda não sei. Gosto de cirurgia, gosto de clínica médica. O que eu mais quero fazer é aprender e dar o meu melhor para meus pacientes”, concluiu.
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Fonte: Gazeta Web
Fotos: Arquivo pessoal
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