MAURO ZAFALON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donald Trump assume a Presidência dos Estados Unidos em um momento muito frágil para a agropecuária do país.
Incremento do déficit mercantil, preços baixos das commodities, custos elevados, superoferta de grãos no mundo, queda de renda, aumento de falências no campo, além de uma pecuária recheada de problemas sanitários, são alguns dos principais problemas vividos pelo setor americano.
Tudo isso leva a uma aceleração interna da inflação dos provisões e, se as promessas de campanha forem cumpridas, o novo presidente trará um cenário ainda mais frágil para o setor. Se o novo presidente colocar em prática as tarifas de 10% para a maioria dos países e de até de 60% para outros, muitas portas serão fechadas para os produtos americanos.
Um dos focos principais será a China, mas o primeiro procuração de Trump foi um sinistro para o campo. O espírito beligerante do presidente trouxe uma perda de US$ 27 bilhões para o setor de meados de 2018 ao final de 2019, quando a guerra mercantil com a China foi acirrada. Deste valor, 71% foram perdas com soja e 6% com sorgo.
No governo Trump, os EUA registraram o primeiro déficit mercantil anual do agronegócio posteriormente seis décadas contínuas de saldo positivo. O setor não se recuperou, e o cenário atual continua piorando.
As exportações caem, e as importações sobem. Há dez anos, as importações representavam 19% do consumo americano. Atualmente está em 27%. As exportações para a China somavam US$ 22 bilhões por ano antes da chegada de Trump no primeiro procuração. Em seu governo, chegou a desabar para US$ 10 bilhões. Neste ano, as importações deverão atingir US$ 216 bilhões, com déficit de US$ 46 bilhões. Se essas estimativas se confirmarem, as importações americanas vão crescer 77% em uma dez.
As novas tarifas de importação prometidas por Trump interferem também na pecuária. Os Estados Unidos vivem uma proliferação da gripe aviária. Desde 2022, quando ressurgiu a gripe aviária no país, foram afetados 136 milhões de aves, em 1.420 focos, espalhados por 51 estados. No ano pretérito, a doença foi constatada em manada e já se espalha por 17 estados, somando 930 focos.
A negação de Trump sobre os efeitos climáticos anula programas voltados para o setor e, além de inibir novos investimentos, prejudica os produtores que têm projetos em curso. Para Trump, o aquecimento global não existe. É uma farsa.
A guerra mercantil via tarifas deve promover elevação de preços internos e inflação nos Estados Unidos. Juros e dólar influenciam economia mundial e devem retrair demanda para os produtos agrícolas.
O novo presidente promete reduzir numerário para os programas de conservação de terras em pousio e para o seguro rústico, em um período de grandes incertezas climáticas. Ele quer tirar o foco dos programas que visam questões climáticas.
A questão da imigração é fundamental para a lavoura em vários estados, principalmente para a Califórnia. Os californianos lideram as exportações do país, com US$ 25 bilhões, e não há americanos interessados no trabalho do campo para substituir os imigrantes.
Uma vez que afeta o Brasil essa política beligerante do Trump? É preciso ver se ele realmente vai colocar em prática essas ameaças tarifárias ou se vai ser contido pelas grandes corporações que o apoiam. O Brasil vem aproveitando essa tendência de maior prolongamento das importações e de desaceleração das exportações dos americanos. No ano pretérito, conforme dados da Secex (Secretaria de Negócio Exterior), as exportações do agronegócio atingiram o recorde de US$ 7,3 bilhões para os Estados Unidos.
O Brasil poderá lucrar mais espaço no mercado extrínseco com eventuais tarifas de Trump. Em secção, porém, esse proveito já vem sendo concretizado desde 2017, quando os chineses passaram a encarar a relação mercantil com os americanos com uma ração de suspeição.
Os chineses, que importaram US$ 34 bilhões dos americanos em produtos do agronegócio em 2023, não deverão reduzir esse volume para um montante tão reles uma vez que os US$ 10 bilhões de 2019. Devem admitir um pouco de pressão de Trump no agronegócio para não perder as demais exportações.
O Brasil exporta produtos essências para os Estados Unidos, e uma tarifa pesada sobre eles vai custar para o bolso dos americanos. Em 2024, o país vendeu o equivalente a US$ 1,94 bilhão em moca e US$ 1,1 bilhão em carnes. No primeiro caso, grande secção do moca importado pelos EUA tem de trespassar do Brasil. Com relação à músculos, o rebanho americano, que terminou os anos 1990 próximo de 100 milhões de cabeças, está em 88,5 milhões.
Celulose e madeira, outros produtos essenciais nas importações dos Estados Unidos, também figuram na lista das principais compras dos americanos no Brasil, e eles não têm outros mercados com tanto resultado disponível para recorrer.
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