IPCA-15 reforça desinflação de serviços e cortes de 50 pb na Selic até fim do ano

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro reforçou a avaliação de que o processo de desinflação no Brasil continua, focado no alívio de serviços e da média dos núcleos, acompanhados de perto pelo Banco Central. Os dados sugerem que o ciclo de cortes da taxa Selic deverá continuar ao ritmo de 50 pontos-base (pb) por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), segundo economistas do mercado entrevistados pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

O índice desacelerou de 0,35% em setembro para 0,21% nesta leitura, exatamente em linha com a mediana da pesquisa Projeções Broadcast. As surpresas positivas vieram justamente da média dos núcleos (0,27% para 0,23%) e dos serviços subjacentes (0,34% para 0,14%) – ambos abaixo dos consensos, que apontavam variações de 0,30% e 0,32%, respectivamente.

“Os dados qualitativos vieram melhores do que o esperado, com destaque para os serviços subjacentes, que tiveram o melhor resultado mensal desde maio de 2021”, disse o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, em relatório enviado a clientes. “Música para os ouvidos do BC, que tem demonstrado muita preocupação com o comportamento desse grupo.”

Membros do Copom têm expressado cautela com a dinâmica dos serviços subjacentes, mais correlacionados à atividade econômica e ao mercado de trabalho, que continua robusto. Mesmo o diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, considerado menos ortodoxo, destacou este mês a resiliência do grupo como um fator de preocupação.

A equipe de estratégia da Warren Rena observou, em nota, que a média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada dos serviços subjacentes – métrica que indica tendência – caiu a 3,7% nesta leitura. Outros agrupamentos de serviços observados pela casa, como os serviços inerciais e essenciais, atingiram 3,6% e 2,5% nesta métrica, respectivamente – próximos do centro da meta este ano, de 3,25%.

“Esses patamares foram alcançados no pré-pandemia, entre 2017 e 2019, quando a inflação de serviços estava controlada e dentro do intervalo da meta de inflação”, disseram os estrategistas Andréa Angelo, Guilherme Gomes e Viniccius Valentim.

Quase todas as projeções divulgadas nesta quinta-feira após a divulgação do IPCA-15 indicam que o IPCA de 2023 deverá ficar abaixo do teto da meta, de 4,75%, como nos casos do MUFG Brasil (4,6%), Warren Rena (4,5%) e G5 Partners (4,7%).

O Bradesco informou ter viés baixista na sua projeção, de 4,8%, mas o economista-chefe do banco, Fernando Honorato Barbosa, já havia informado que, internamente, trabalha com uma estimativa mais próxima de 4,65% desde o IPCA de setembro.

Manutenção

Apesar dos sinais positivos do IPCA-15, economistas do mercado consideram que os números não serão suficientes para suscitar uma aceleração no ritmo de cortes da taxa Selic. Para os analistas, o desempenho da inflação subjacente até agora mostra que a “segunda etapa da desinflação” citada nos últimos meses pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem se desenvolvido como previa a autoridade monetária.

“Passado o alívio nos bens industriais e alimentos, essa segunda etapa está acontecendo, e conforme o Banco Central previa, de maneira lenta”, disse o economista da Rio Bravo Investimentos Luca Mercadante.

O diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, destacou em relatório que as surpresas benignas no IPCA-15 ajudam a sustentar a continuação do ciclo de cortes. Mesmo assim, ele notou que a combinação entre incertezas domésticas e cenário externo desafiador devem impedir qualquer aceleração dos cortes.

“Hoje, virtualmente não há espaço para uma aceleração dos cortes de juros no curto prazo, dado o mercado de trabalho apertado, o significativo fechamento do hiato do produto, as políticas fiscal e parafiscal expansionistas e as ainda desancoradas expectativas de inflação para 2024 e para o médio prazo”, disse Ramos. “O cenário externo complexo, juros altos de 10 anos nos Estados Unidos e os riscos para os preços de petróleo com o conflito no Oriente Médio também demandam cautela na calibragem da política monetária no curto prazo.”