SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As internações por Covid-19 no estado de São Paulo voltaram a subir, passando das mil hospitalizações nesta semana. Na última terça (28), o estado registrou 581 novas internações, atingindo a marca de 1.015 pacientes em leitos de UTI. Em leitos de enfermaria, há 1.454 pacientes internados com Covid.
O patamar de mil internações foi ultrapassado na sexta (24), com 1.020. No mesmo dia, foram registradas 492 novas internações.
Já a média móvel semanal de novas internações por Covid ou de casos suspeitos quase dobrou no último mês –pulou de 283, na primeira semana de dezembro para 465 nesta última (até terça 28), segundo dados do Infotracker, projeto da USP e da Unifesp que monitora a pandemia.
A variação no número de hospitalizações nos últimos sete dias foi de 19%. A tendência de aumento, porém, já podia ser notada desde a segunda semana de dezembro. O período coincide com a epidemia de gripe pelo vírus influenza que atinge a capital e com a transmissão comunitária da variante ômicron.
Como o governo paulista não discrimina os leitos a partir dos testes que diferenciam os vírus, não é possível saber com certeza se todas as internações se referem de fato à Covid.
A região metropolitana, especialmente a capital paulista, é a que concentra maior número de casos: são 604 internados, ou quase 60% do total de 1.015 internações em leitos de UTI, e a média móvel pulou de 156 para 308 nesta última semana. Só nesta quarta (29), o município de São Paulo estava com 219 pacientes internados. No dia 7, eram 107. A taxa de ocupação está em 30%.
Os dados foram retirados da plataforma Seade do Governo do Estado de São Paulo, que não utiliza as plataformas Sivep-Gripe e e-SUS Notifica, do governo federal, instáveis nas últimas semanas após um ataque hacker. Como os dados de internação hospitalar são enviados diretamente pelas secretarias municipais de saúde à Secretaria de Estado de Saúde, não estão sujeitos a atrasos.
Hospitais privados da capital também registram aumento nas internações por Covid-19. No Albert Einstein, o número subiu de 15 na primeira semana de dezembro para 43 na quarta semana (até o dia 28). Já na UTI-Covid houve queda de internados, de 57 para 23.
No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o número de casos de Covid-19 nas unidades de internação subiu de quatro casos, no início de dezembro, para 28. Desse total, três estão na UTI.
Para Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, é bem possível que grande parte dessas novas internações registradas no estado sejam decorrentes da Covid, se levado em conta o que está acontecendo nos outros países desde a chegada da variante ômicron.
“Estamos numa crescente. O governo tem sugerido que o aumento é devido ao surto de influenza. Mas é preciso ponderar que os testes rápidos para Covid, que estão sendo disponibilizados, não são tão efetivos para detectar a nova variante ômicron”, diz Casaca.
Outro dado que chama a atenção do pesquisador é o fato de o Rio de Janeiro também ter enfrentado uma epidemia de gripe, com muitos casos, mas as internações se mantiveram estáveis. “Por que São Paulo está tendo essa explosão de casos de internações por influenza e no Rio não?”.
A mesma visão é compartilhada pelo físico da Unesp e membro do Observatório Covid-19 BR Roberto Kraenkel. “Tem uma subida muito forte que não pode ser explicada somente por gripe já no início de dezembro, e naquele momento ninguém fazia teste para gripe. E a gente sabe que a ômicron tá vindo, é só ver que ela vem de todos os lados, na Europa, nos Estados Unidos, por que achar que aqui não vai ser assim também?”, diz.
O aumento na incidência de hospitalizações por síndrome gripal não dá sinais de que vai parar tão cedo, avalia o físico Leonardo Souto Ferreira, da Unesp, que pesquisa modelagem matemática de epidemias.
“Independente de modelo, o dado de novas internações nos últimos sete dias apresenta um crescimento claro desde o meio de dezembro, e ele é menos suscetível ao atraso dos finais de semana. Já o dado de novas internações diárias alcançou patamares de setembro”, avalia.
Procurada, a Secretaria do Estado de Saúde disse que mantém o monitoramento do cenário epidemiológico em todas as regiões, reforça a queda de indicadores da pandemia e afirma que é equivocado atribuir isoladamente os dados ao Sars-CoV-2, pois há outros vírus em circulação, como o influenza.
A cidade de São Paulo viu uma alta nas internações por gripe nas três semanas anteriores, verificada também na explosão de testes para influenza nos laboratórios privados e públicos. No Fleury, em dezembro de 2020, foram feitos 300 testes para gripe, número que chegou a 35 mil no período de 1? a 28 de dezembro deste ano.
“Mas não é só gripe. Nossos testes de Covid dobraram neste mês, atingindo o recorde diário de abril deste ano. Na última terça (28), foram 6.600 testes, frente a 3.000 em novembro e início de dezembro”, afirma o diretor-médico do Grupo Fleury, Celso Granato.
Assim como crescem os novos testes, a positividade, isto é, a taxa de resultados positivos dentre os exames realizados, explodiu. “Era de 2% no início de dezembro e chegou a 20% agora. Não acho que isso seja apenas de pessoas que queiram se testar preventivamente, isto para mim é a ômicron”, diz.
No Hospital Sírio-Libanês, a positividade para a Covid nos casos de sintomas gripais que chegam ao pronto-atendimento passou de 3% para 30%.
De acordo com Granato, a nova cepa já é predominante nas amostras sequenciadas. “Agora, ela tem um diferencial em relação às outras variantes que é uma carga viral altíssima. Muitos [dos pacientes] já tomaram a vacina e por isso podem ser quadros mais leves, mas se há um aumento de casos, consequentemente vai haver um aumento de hospitalizações”, afirma.
Segundo Miguel Cendoroglo Neto, diretor-superintendente médico e serviços hospitalares do Einstein, a maioria dos pacientes internados por Covid não tem demandado leitos de UTI.
Dos dez pacientes internados com Covid nesta terça, apenas um estava na unidade semi-intensiva. Nenhum precisou ser intubado. No auge da pandemia, o Einstein chegou a ter 305 pacientes internados, com 150 intubados.
De acordo com o último relatório do hospital, 61% das amostras sequenciadas são da ômicron. A maior parte se refere a pacientes sintomáticos, que passaram pelo pronto-atendimento.
O Einstein, de acordo com Neto, teve que recorrer a recursos adicionais, especialmente mais profissionais de saúde, para atender o grande volume de pacientes com síndromes respiratórias. A expectativa é que outros hospitais retomem as equipes e leitos para Covid.
Para os especialistas, os cuidados seguem os mesmos: uso de máscaras, de preferência as do tipo PFF2, distanciamento, evitar aglomerações, higiene das mãos com água e sabão ou álcool -no caso da gripe– e a dose de reforço da vacina contra Covid.
“Foi só relaxar um pouco que começou a aumentar novamente em um momento que surgiu uma nova variante, então é preciso retomar os cuidados”, afirma Granato.
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