ADRIELLY SOUZA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Privacidade em primeiro lugar. Essa é a frase que você encontra ao acessar o site da empresa Tools for Humanity (TFH), que está coletando dados de milhares de brasileiros ao escanear a íris e gerar uma identidade do dedo, num processo irreversível e que acabou proibido na Europa.

 

Caroline Vieira da Silva, 22, faz segmento desse grupo que deixou seus olhos serem mapeados pela promessa de receber R$ 650 em troca. A influencer só não imaginava as diversas cláusulas, regras e taxas para conseguir receber qualquer valor em troca.

“Consegui sacar R$ 196 depois 24 horas. Depois dessa primeira parcela, eles podem disponibilizar o resto das criptomoedas em até 11 parcelas. Não dá nem R$ 50 por mês”, explica Caroline ao F5.

O valor mencionado pela influenciadora é pago em Worldcoins, uma criptomoeda com cotação atual de aproximadamente R$ 13 por unidade. Para transformar a moeda para reais, é cobrada uma taxa de R$ 10 por saque. A distribuição do montante é financiada pela rede World e direcionada às pessoas que aceitam realizar a biometria ocular. Segundo o site da empresa, todo o procedimento é feito em um dispositivo esférico e prateado chamado “Orb”.

Caroline relata que, antes da coleta, é mostrado um vídeo onde informam que os dados dos usuários não são armazenados e são usados exclusivamente para confirmar que se trata de um humano se cadastrando.

“Para iniciar o processo, você tem que conectar o celular na rede Wi-Fi deles e, depois, assiste algumas imagens explicando sobre a coleta. Fiquei receosa porque é um pouco novo, mas eles explicam de uma forma tão tranquila que você nem pensa na hora, sabe?”.

Apesar de parecer novidade, a empresa Tools for Humanity já fez uma passagem pelo Brasil em agosto de 2023. O número de biometrias só cresceu desde portanto, e as redes sociais foram propulsores dessa forma “fácil” de lucrar moeda.

Caroline registrou alguns vídeos do processo da “venda do olho” para seus seguidores. Em algumas horas, rendeu 3 milhões de visualizações e diversos comentários. “Eu imaginei que o ponto ia render, mas tomei um susto com a proporção negativa que recebi. Na minha cabeça, estava fazendo um pouco que não ia afetar em zero no meu dia a dia”, diz.

A influenciadora relata que, depois do retorno negativo, decidiu pesquisar os perigos de compartilhar seus dados e não saber onde estão sendo armazenados e nem para o que serão usados.

Ela revela que queria inaugurar o próprio negócio com uma amiga, mas que não tinham o moeda da mercadoria. Logo, decidiram as duas fazer a biometria uma vez que investimento. Mas, no termo, o que compensou foi o engajamento que ganhou nas redes sociais, mais do que a pequena parcela paga pela empresa.

Ao ser perguntada sobre o horizonte, Caroline não nega o terror. “Agora que entendi sobre o que se trata a empresa, acho perigoso sim. Tenho receio do que podem fazer com a minha íris no horizonte, não dá para saber”, concluiu.
O processo de cadastro da rede World está sendo fiscalizado pela ANPD (Poder Vernáculo de Proteção de Dados) desde novembro de 2022. A investigação procura entender se a tecnologia da empresa é segura para a privacidade dos brasileiros.

O governo também alerta sobre os riscos associados aos dados pessoais, em privado os biométricos, e recomenda que todo brasílio conheça os direitos e as garantias asseguradas pela Lei Universal de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

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