THALES DE MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Hurry Up Tomorrow”, o novo álbum lançado por The Weeknd, é um excesso sem justificativas. Algumas boas canções, evidente, porque o cantor canadense já provou que é um hitmaker inegável. Mas estão perdidas numa enxurrada sonora: 22 faixas em uma hora e meia de áudio, com momentos muito frouxos. Há muito o que comentar, mas é bom avisar que o melhor é consumir os singles.

 

Desde que os primeiros discos conceituais surgiram na música pop, ainda nos anos 1960, a teoria de transformar um álbum em mais do que um punhado de canções, com uma temática conduzindo a obra uma vez que um todo, fez muitos artistas se perderem em suas pretensões.

Agora, Abel Tesfaye resolveu “matar” The Weeknd anunciando uma tempo futura na curso sob seu nome verdadeiro. Antes disso, completa uma trilogia iniciada com o ótimo “After Hours”, em 2020, e o unicamente bom “Dawn TV”, em 2022.

O que poderia vincular os três trabalhos é o clima sombrio nas letras. “After Hours” é um disco sobre desencanto, que fala uma vez que as coisas não estão bacanas. Já “Dawn TV” é um desfile de músicas sobre compunção, sobre desenredar que os erros existem e não são poucos. E “Hurry Up Tomorrow” é quase um pedido de desculpas, com promessas de partir para um pouco melhor.

Mas é impossível contemplar o lançamento fechando o olhar unicamente nesses três discos. Na audição das novas canções é provável perceber elementos de todos os seis álbuns que ele lançou, desde a estreia com “Kiss Land”, em 2013. Pode ser encontrado ali o genial The Weekend que, quando acelera o R&B, chega muito perto do beat de Michael Jackson e incendeia as plateias. Mas também surge o equivocado The Weekend que insiste em baladas arrastadas com vocal em falsete, num pastiche de Prince ou Smokie Robinson.

O pré-lançamento de “Hurry Up Tomorrow” foi feito com o show do cantor no estádio MorumBis, em São Paulo, no dia 7 de setembro do ano pretérito. The Weekend fez a transmissão ao vivo em seu ducto no YouTube, e os fãs pelo mundo puderam ouvir pela primeira vez sete faixas do álbum, algumas entre as melhores da safra, uma vez que “Timeless” e “Wake Me Up”.

Mas, nos quatro meses que separaram essa noite e o lançamento do álbum, o projeto só foi ganhando mais camadas, tomando um caráter megalomaníaco. Desde a proposta midiática de despovoar a figura músico The Weeknd à produção de um longa-metragem para ir aos cinemas.

Segundo a prelo norte-americana, pessoas que trabalharam com ele nas gravações ressaltam que The Weekend repetia quase uma vez que um mantra que buscava “o álbum perfeito”. Muito, entre desejo e realização existe um grande caimento.

“Hurry Up Tomorrow” mostra que ele confundiu quantidade com qualidade. Metade do material poderia ter ido para a lata de lixo. E, mesmo assim, o que sobraria não chega perto de seu segundo e até hoje melhor álbum, “Beauty Behind the Madness”, de 2015, um caldeirão de boas e ousadas ideias que ainda não indicava um artista preocupado por padrões já estabelecidos no pop.

De novo, é bom ressaltar que o novo álbum traz irrepreensíveis pérolas pop, uma vez que “Take Me Back to LA”, cantiga que terá todo o seu faturamento voltado para facilitar vítimas dos incêndios na Califórnia. O cantor cancelou um show de lançamento agendado para o último dia 25, no estádio Rose Bowl, em Pasadena, extensão muito atacada pelo lume.

Outro acerto é a fita que abre o álbum, “Wake Me Up”, que inicia enxurrada de pompa, mas antes de se perder em pretensão acaba se transformando num ótimo simulacro de Michael Jackson da tempo “Off the Wall”. “Open Hearts” é outra que vai nessa mesma pegada e certamente vai tocar em playlists por todo o planeta.

Mas tem muita coisa decepcionante no disco. Coincidência ou não, há um desperdício na participação de convidados ilustres, que aparecem em faixas muito fracas. Casos de Travis Scott e Florence + The Machine, na capenga “Reflections Laughing”, da mito da disco music Giorgio Moroder, em “Big Sleep”, e do canário pop Lana Del Rey, que tem sua voz escondida em “The Abyss”.

E, evidente, é preciso falar de Anitta, que divide “São Paulo” com The Weeknd. Ela subiu ao palco no show do MorumBis e ali a música soou confusa, um funk obscuro. Melhora um pouco na versão no álbum, mas ainda passa longe da expectativa que uma reunião dessas poderia proporcionar. E “São Paulo” foi lançada num clipe de tremendo mau paladar, com a ventre de uma mulher prenhe se deformando até lucrar as feições de um varão com olhos, nariz e boca. Sim, a imagem é tão grotesca quanto a descrição sugere.

Enfim, quem conseguir ultrapassar esse interminável e irregular álbum pode se preparar para o filme que deve chegar aos cinemas em 16 de maio, um thriller psicológico no qual The Weeknd contracena com Jenna Ortega, dirigido por Trey Edward Shults. Não há detalhes sobre o filme, também chamado “Hurry Up Tomorrow”, mas a especulação é que terá algumas canções do álbum e outras feitas principalmente para a produção.

Depois disso, talvez The Weeknd realmente se aposente e Abel Tesfaye tome um outro caminho músico. Seja o que for, The Weeknd já fincou seu nome com uma dezena de hits. É só ouvir algumas das antigas, uma vez que “Blinding Lights” ou “Starboy”.

Hurry Up Tomorrow
Onde: Nos serviços de streaming
Gravadora: Republic Records
Artista: The Weeknd
Avaliação: Regular

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