Hotéis abandonados no Rio de Janeiro estão em vias de se transformar em residências e escritórios. A prefeitura carioca autorizou, na semana passada, que o Hotel Glória, primeiro cinco estrelas do Brasil, volte a abrir suas portas, transformando-se em um prédio de apartamentos e escritórios. No momento, o Executivo municipal analisa outros pedidos semelhantes.
Inaugurado em agosto de 1922, o Glória foi palco de reuniões dos membros da Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, e teve suas portas fechadas em 2013, após a falência do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, que havia adquirido o imóvel em 2008, por R$ 80 milhões.
O presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro (HotéisRIO), Alfredo Lopes, lembrou que o Hotel Glória ia ser reformado e deveria ter ficado pronto para a Copa do Mundo de 2014, mas a obra acabou não sendo concluída e perdeu o objetivo.
Ele avaliou que, em meio à revitalização do centro do Rio de Janeiro, essa transformação é muito importante.
“Tudo isso garante a manutenção de empregos e a arrecadação de impostos. Isso é muito melhor. É mais inteligente do que ter um prédio, ícone da hotelaria durante muitas décadas, fechado, se acabando”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação, Chicão Bulhões, afirmou que a conversão do hotel em um prédio misto – com salas comerciais e apartamentos residenciais – permitirá que esses imóveis que hoje estão vazios retornem ao mercado.
Chico Bulhões informou que, além do Glória, já foi autorizada também pela prefeitura a conversão do Hotel Paissandu, outro hotel icônico da cidade, localizado no bairro do Flamengo.
“A gente fica muito feliz de ver novamente a possibilidade de ver o Hotel Glória com vida, ocupado. É muito bom para o bairro, para a cidade e, também, obviamente, preserva o prédio histórico e a memória da cidade do Rio”, destacou.
Alfredo Lopes estimou que outros 11 empreendimentos hoteleiros que antes eram destinados apenas a turistas têm potencial para se transformar em prédios mistos. Ele lembrou que, no caso do Hotel Glória, a legislação urbanística permite a transformação do prédio. Para outros hotéis, localizados em bairros distintos, é necessária uma lei específica para mudar a destinação do imóvel.
Lopes afirmou que está tentando viabilizar, junto à Câmara de Vereadores, um projeto de lei, para aprovação no segundo semestre, que possa viabilizar a conversão dessas unidades pela cidade.
Com a queda do número de visitantes no Rio e a pressão do mercado imobiliário, outros hotéis buscam a mesma saída para a crise agravada pela pandemia de covid-19.
De acordo com o HotéisRIO, além do Glória, outros três projetos já estão avançados, sendo dois no Flamengo e um na Barra da Tijuca.
O HotéisRIO representa cerca de 300 instalações hoteleiras na capital que ofertam, atualmente, cerca de 52 mil quartos. Antes das Olimpíadas de 2016, a capital fluminense tinha à disposição do turista 30 mil quartos. Esse número chegou a 62 mil, logo após o evento esportivo.
“Foi a rede mais moderna da América Latina por conta da Olimpíada”, afirmou Alfredo Lopes.
A expectativa de negócios crescentes, entretanto, não se confirmou e a retração ficou ainda mais grave com a pandemia. “Hoje, a gente não tem um mercado pujante, até porque os eventos estão escassos e até paralisados.”
O ano de 2021 começou para os hotéis cariocas com ocupação bem baixa. Em Copacabana, por exemplo, a média foi de 15% a 20%. Em seguida, houve uma melhora, com a ocupação subindo entre 25% e 28%, com alguns pontos fora da curva. No Dia dos Namorados, a ocupação subiu próximo de 70%. “Mas isso não se manteve porque faltam os eventos. São eles que mantêm a ocupação durante todo o ano. E nós não temos ainda um calendário de eventos por conta da pandemia”.
Desde o início da pandemia, no ano passado, 80 hotéis suspenderam as operações. Cerca de 12 não voltaram a abrir até hoje, entre eles, o Hotel Everest, que pode ser convertido também em prédio misto, segundo Lopes. Outros que ainda não reabriram devem retornar até o final deste ano. Alguns, como o Ceasar Park e o Marina, estão em obras e têm previsão de reabrir no fim deste ano.
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