SAMUEL FERNANDES
MARSELHA, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Uma revisão de estudos que investigou a relação da testosterona e da progesterona com o sistema nervoso concluiu que os hormônios afetam o funcionamento nervoso humano, podendo influenciar no desenvolvimento de distúrbios neurológicos.
A revisão, publicada neste mês na revista científica Genomic Press, avaliou evidências sobre a atuação dos hormônios em dez categorias principais de condições neurológicas. Dentre elas, enxaqueca, AVC (acidente vascular cerebral) e distúrbios do movimento, como Parkinson e Alzheimer.
As mulheres foram o público que baseou os estudos revisados. Hyman Schipper, professor de neurologia e medicina (geriatria) no Hospital Geral Judaico e na Universidade McGill, ambos no Canadá, e autor do artigo, explica que avaliar o tema em homens é mais difícil.
A razão é que, na neurologia, é a mudança dos níveis de um hormônio que gera maior impacto na saúde de uma pessoa, e não necessariamente o valor absoluto dessas substâncias no organismo humano. No entanto, homens apresentam pouca variação em hormônios sexuais quando adultos. Somente quando idosos os valores tendem a cair, só que de forma lenta. Mulheres, por outro lado, apresentam outra dinâmica.
“Nas mulheres, os níveis de estrogênio e progesterona flutuam com os estágios do ciclo menstrual e diminuem de forma relativamente abrupta na menopausa”, explica Schipper.
A revisão observou que diferentes mecanismos explicam a associação entre os hormônios sexuais e as dez condições neurológicas analisadas. Um desses, considerado importante para entender esses efeitos, é o impacto que essas substâncias podem ter em neurotransmissores, como serotonina e dopamina. Existem evidências, por exemplo, de que os hormônios podem regular a síntese de proteínas e enzimas essenciais para as atividades transmissoras dos neurônios.
Esse é o caso da enxaqueca. A variação do estrogênio que ocorre próximo ao período de menstruação pode alterar o metabolismo e as funções da serotonina. Por sua vez, esse cenário associado a serotonina pode desencadear distúrbios em diferentes regiões do cérebro, influenciando possíveis crises.
Ao mesmo tempo, é importante entender que os hormônios não são o único fator a ser considerado. Durante a gravidez, por exemplo, mulheres com histórico de enxaqueca tendem a relatar menos crises, o que pode ser relacionado ao pico e pouca variação do estrogênio durante a gestação. No entanto, em situações estressantes, como quando a gravidez é indesejada, a gestante pode continuar apresentando enxaqueca mesmo que isso não esteja relacionado com o estrogênio.
Outras condições também apresentaram relação com alterações hormonais. No entanto, mais dados são necessários para ter conclusões mais concretas, afirma Schipper.
“Não há dúvidas sobre a importante relação dos hormônios sexuais com a enxaqueca, algumas formas de epilepsia, coreia gravídica e porfiria aguda intermitente. Os hormônios sexuais também parecem influenciar a doença de Parkinson, a doença de Alzheimer e alguns tumores cerebrais, mas os dados para as últimas condições são mistos (alguns estudos mostram benefícios, alguns prejuízos) ou inconclusivos.”
Um problema é que falta atenção a esse tema. Schipper afirma que “existem relativamente poucos neurologistas clínicos com conhecimento ou interessados no papel dos hormônios sexuais na manifestação de doenças neurológicas”, reiterando no artigo a importância de olhar para esse tema no cotidiano da clínica médica.
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