SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um helicóptero com quatro pessoas desapareceu na tarde de domingo (31) após adentrar em trecho de forte neblina no trajeto entre a cidade de São Paulo e o município de Ilhabela, no litoral norte do estado. Vídeo e mensagens enviadas por piloto e passageira reportam ausência de visibilidade para sobrevoar a Serra do Mar e um pouso de emergência em área de mata.
Não havia sinal da aeronave até a noite desta terça-feira (2), cerca de 48 horas após a notificação do desaparecimento.
Leia a seguir o que se sabe.
Quem estava a bordo?
Letícia Ayumi Rodzewics Sakumot, 20, viajava ao lado da mãe, a vendedora de roupas Luciana Marley Rodzewics Santos, 46. Elas moram na zona norte da capital paulista, no bairro do Limão.
Segundo os familiares, Luciana e Letícia foram convidadas por um amigo da mãe para o passeio. O homem, que nas redes sociais se identifica como Raphael Torres, também estaria na aeronave desaparecida.
Nem a SSP (Secretaria da Segurança Pública) nem a FAB (Força Aérea Brasileira), responsáveis pelas buscas, divulgaram as identidades dos passageiros e do piloto.
O condutor do helicóptero foi identificado como Cassiano. O nome dele é dito algumas vezes durante conversa sobre as condições meteorológicas com o dono de um heliponto em Ilhabela, local onde deveria ocorrer o pouso.
Qual é o veículo?
O helicóptero é um Robinson R-44, modelo de fabricação americana de pequeno porte e muito comum em viagens urbanas e intermunicipais. Transporta habitualmente piloto e três passageiros. Essa era a composição do grupo que estava a bordo.
Registrado sob a matrícula PR-HDB, o veículo não estava autorizado a fazer táxi-aéreo, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Como estavam as condições de visualização?
Uma das passageiras gravou um vídeo que mostra a aeronave voava envolvida em uma intensa neblina.
Letícia fez a gravação por volta das 14h da véspera do Ano-Novo, cerca de 45 minutos após a decolagem do Campo de Marte, na zona norte da capital paulista.
O último contato do piloto com os responsáveis pelo tráfego aéreo ocorreu às 15h10. A Polícia Militar afirmou ter recebido um alerta sobre o desaparecimento às 22h40.
Ela explicou sobre a situação arriscada que enfrentavam. “Tá perigoso. Muita neblina. Eu estou voltando”, diz a mensagem enviada por Letícia.
“Foi a última mensagem que minha sobrinha enviou para o namorado”, afirmou a irmã de Luciana e tia de Letícia, a gerente de vendas Silvia Santos, 43.
Esse contato teria sido feito após um pouso de emergência, segundo mensagens da jovem ao namorado. “Pousamos” e “No meio do mato” foram as mensagens. O namorado então teria perguntado o local do pouso, e Letícia respondeu não saber.
No vídeo é possível ver, nos dois assentos da frente, o outro passageiro e o piloto da aeronave.
O que indicam as mensagens do piloto?
O piloto reportou por telefone ao dono de um heliponto que estava com dificuldade para cruzar a Serra do Mar devido à falta de visibilidade.
A reportagem obteve dois áudios da conversa entre o piloto, identificado como Cassiano, e Jorge Maroum, dono do heliponto Maroum, em Ilhabela, onde o helicóptero deveria ter pousado.
Durante o voo o piloto entrou em contato com Maroum solicitando que ele providenciasse um táxi para buscar os passageiros após o pouso no litoral. Pouco depois, o piloto e o dono do heliponto passaram a conversar sobre as condições meteorológicas que estavam atrasando a chegada do grupo a Ilhabela.
“Eu estou na fazendinha, mas não estou conseguindo cruzar, tá tudo fechado, tá colado [quando a camada de nuvem está ‘colada’ ao chão, impedindo visão horizontal e vertical]”, relatou o piloto.
Segundo Maroum, fazendinha é como os pilotos costumam chamar uma parte mais baixa da serra do Mar, antes da chegada a Caraguatatuba.
Para Maroum, cercado pela neblina o piloto pode ter tido uma “desorientação espacial”. “Como se estivesse num labirinto”, disse.
Ele conversou com a Folha e afirmou que naquela tarde o tempo estava bom em Ilhabela. “O problema é cruzar a serra, é o ponto crítico.”
Como são feitas as buscas?
As buscas da Força Aérea ocorrem com uma aeronave específica para salvamentos, a SC-105 Amazonas, do Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação. A Polícia Militar faz a procura com um helicóptero Águia.