ADRIANA FERNANDES E NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A pedido do vice-presidente Geraldo Alckmin, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Negócio Exterior elabora um mapeamento dos setores mais afetados pela guerra mercantil deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A estudo elenca medidas que o Brasil poderá adotar, caso a caso, para reagir a uma provável elevação das tarifas pelos norte-americanos.

 

O levantamento leva em consideração efeitos colaterais que uma reação em um determinado setor pode gerar para outras áreas de exportação e até mesmo para o mercado interno. Paralelamente, o governo quer correr o processo de procura de novos mercados uma vez que contraponto ao tarifaço global de Trump.

Procurada, a pasta negou que esteja realizando “qualquer levantamento sobre o tema”.

A estratégia dos gabinetes em Brasília que tratam de relações comerciais tem sido a de cautela e silêncio, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse publicamente mais de uma vez que o Brasil reagirá caso Trump imponha tarifas sobre os produtos brasileiros.

“Se ele [Trump] taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são exportados [ele se referia aos importados] para os Estados Unidos. Simples, não tem nenhuma dificuldade”, disse.

Entre os técnicos ouvidos pela Folha, ninguém duvida que o Brasil poderá virar mira de Trump em um segundo momento. A ordem agora é não atrair atenção para “não ser lembrado” pelo novo governo dos EUA.

Além de medidas de elevação das tarifas, o relatório pronto pelo time do vice-presidente avalia os instrumentos que o Brasil pode mobilizar para orientar a sua ação, uma vez que salvaguardas e suspensão do regime chamado ex-tarifário, que reduz temporariamente o Imposto de Importação para determinados produtos.

No cenário internacional mais inverso, técnicos do governo avaliam ainda que o Brasil também terá de traçar novas estratégias, usar o seu mercado interno para sugar produtos, além de ampliar o diálogo para aprofundar as relações comerciais, políticas e diplomáticas com os países dos Brics, sobretudo China, Rússia e Índia.

Há uma percepção de que Pequim vai buscar o fortalecimento da sua indústria e, ao mesmo tempo, tentar estimular as relações com seu principal parceiro mercantil na América Latina.

Com o estudo, o Brasil pretende mensurar de antemão o impacto de medidas de retaliação e de um eventual contra-ataque dos Estados Unidos. A teoria é determinar, por exemplo, se eventual retaliação pode completar tendo um dispêndio maior para as empresas brasileiras.

Um técnico reconheceu que fazer o levantamento dessas correlações de forças é um trabalho multíplice. Todos os cenários estão sendo avaliados pelo governo.

Um exemplo: com o nível de capacidade instalada da indústria vernáculo em patamar mais ressaltado, o Brasil precisa investir em máquinas e equipamentos. Nesse caso, qualquer ação que impeça a ingressão de máquinas, equipamentos e insumos dos Estados Unidos pode atrapalhar a indústria vernáculo.

Os setores de aço, máquinas e equipamentos, mesocarpo e combustíveis estão na lista dos que podem ser mais prejudicados. O Brasil exporta petróleo bruto aos EUA e importa petróleo refinado, além de ser muito dependente das empresas americanas de semicondutores.

O ex-secretário de Negócio Exterior do Brasil, Welber Barral, recomenda prudência. Ele lembra que o Brasil já atuou contra os EUA em 2009 em uma disputa no setor de algodão. “Naquele momento foi muito difícil para o Brasil empregar a retaliação justamente porque grande secção da importação dos Estados Unidos é importante para a indústria brasileira”, afirma o sócio da consultoria BMJ.

Naquele incidente, o Brasil foi autorizado a retaliar produtos dos EUA de forma cruzada, na extensão de propriedade intelectual. A medida permitia que o país quebrasse patentes do setor farmacêutico americano, ponto considerado importante para que fosse conseguido um conciliação de indemnização.
No dia 1º de fevereiro, Trump assinou uma ordem executiva impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do México e do Canadá, e de 10% sobre os da China. Posteriormente conciliação, os EUA suspenderam por um mês a taxação contra mexicanos e canadenses.

Em resposta à tarifa suplementar imposta por Trump sobre todas as importações chinesas, Pequim impôs na última terça (4) tarifas sobre importações dos EUA, renovando a guerra mercantil entre as duas maiores economias do mundo.

O ex-secretário destaca que a retaliação chinesa a Trump até agora foi muito pontual, afetando principalmente alguns minerais e produtos que são importantes para os EUA.

“Caso a China adote retaliações em outras áreas que o Brasil seja competitivo, isso poderia aumentar a exportação brasileira para a China”, prevê. Ele explica que Pequim fez retaliação direcionada a certos minerais críticos, muitos dos quais são usados na produção de armas e de produtos de subida tecnologia.
“A China quis mostrar aos Estados Unidos que pode provocar um dano nas cadeias produtivas americanas e isso aparece, do ponto de vista chinês, uma vez que um invitação à negociação”, diz.

Para Barral, Trump sinalizou que o próximo mira será a União Europeia e o veste de o Brasil ter amontoado déficits em seu transacção com os EUA mantém o país fora da mira em um primeiro momento.

Ele considera que, no caso do Brasil, as exportações de ferro e autopeças podem ser afetadas. “O Brasil exporta bastante peças de ferro [para os EUA]. Isso poderia afetar bastante a indústria brasileira.” No caso das autopeças, o problema é com a retaliação americana aos produtos do México. As autopeças brasileiras são usadas na fabricação de automóveis que são exportados para os Estados Unidos”, afirma.

Os EUA são o segundo maior parceiro mercantil do Brasil, mas seguem uma vez que principal rumo para as vendas de produtos com maior valor confederado.
Os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA são petróleo bruto, produtos semi-acabados de ferro e aço; e aeronaves. Entre os importados, os principais itens comprados são motores e máquinas não elétricos, óleos combustíveis de petróleo e aeronaves.

No amontoado de janeiro a dezembro, as exportações para os EUA cresceram 9,2% e atingiram US$ 40,33 bilhões, já as importações tiveram progresso de 6,9%, totalizando US$ 40,58 bilhões.

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