(FOLHAPRESS) – Fracassada a tentativa de emplacar o ex-ministro Guido Mantega na presidência ou no conselho de administração da Vale, o governo agora estuda indicá-lo para o conselho administrativo da Braskem, segundo colaboradores do presidente Lula Inácio Lula da Silva (PT).
Mantega esteve na tarde de quarta-feira (13) no Palácio do Planalto para discutir seu futuro com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Segundo integrantes do governo, o ex-ministro da Fazenda foi chamado na véspera, terça (12), data da audiência do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, com Lula.
O mandato de 10 dos 11 conselheiros da Braskem expira em abril. A Petrobras tem direito a 4 assentos no conselho da petroquímica, todos em vacância a partir do próximo mês. Os demais são da Novonor, antiga Odebrecht.
Os mandatos do presidente do conselho, José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha, e do vice, Eduardo Bacellar Leal Ferreira –indicados, respectivamente, por Novonor e Petrobras–, também se encerram nesta leva.
Segundo um interlocutor do presidente Lula, a indicação de Mantega depende agora de trâmites burocráticos. O mandato tem duração de dois anos.
Procurado, o ministro-chefe da Casa Civil não se manifestou sobre a hipótese de Mantega assumir uma cadeira no conselho da Braskem. Mantega também não se respondeu.
A entrada do ex-ministro da Fazenda de Lula na Braskem pode fazer parte da estratégia do “rodízio” que o Palácio do Planalto quer promover nos conselhos de empresas em que o governo tem assento.
Costa falou sobre o rodízio ao tratar especificamente da entrada no conselho da Petrobras de um indicado de Fernando Haddad (Fazenda), mas deixou claro que isso se repetiria em outros colegiados.
“Esse rodízio também nós vamos fazer em outros lugares. Rodízio de pessoas de um conselho para outro, até para oxigenar os conselhos das estatais”, afirmou.
A tentativa de encaixar Mantega em um conselho, contudo, vai além de um simples rodízio. Desde o ano passado, Lula busca uma colocação para seu ex-ministro da Fazenda.
O presidente chegou a insistir na indicação de Mantega para a presidência da Vale, sendo obrigado a desistir diante da reação do mercado e das rígidas regras para a escolha do presidente da companhia e também para seu conselho.
Na visão de Lula, Mantega é injustiçado por ser apontado como responsável pela crise econômica desencadeada no governo Dilma Rousseff (PT). O presidente quer retribuir o que vê como serviços prestados pelo ex-ministro, que comandou a Fazenda de 2006 a 2015 –nas gestões do PT.
Mantega foi ainda titular do Planejamento no primeiro mandato do petista e presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O governo passou por dois episódios de crise envolvendo estatais nesta semana: a não distribuição de dividendos extraordinários da Petrobras e a renúncia de um conselheiro da Vale, com acusações de manipulação e conflitos de interesse no processo de sucessão da mineradora.
No primeiro caso, o próprio presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, admitiu na noite de quarta-feira que a retenção dos recursos foi decisão dos ministros e de Lula.
O mercado reagiu mal, porque havia precificado a ação e por temor de novas eventuais interferências na companhia, cujo principal acionista é a União.
Em outra frente, na Vale, o conselheiro José Luciano Duarte Penido afirmou, em carta, que houve “nefasta influência política” na companhia.
Dos 13 conselheiros, apenas ele e Paulo Hartung foram contrários à solução para a sucessão de Eduardo Bartolomeo na presidência da companhia, que o manteve no cargo até o fim do ano.
O processo ganhou contornos políticos após a tentativa de Lula para emplacar Mantega no posto.
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