BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Horacio Rodríguez Larreta, chefe de governo da cidade de Buenos Aires, atacou duramente nesta quinta (15) o presidente Alberto Fernández, em entrevista coletiva na sede do Executivo local.
Larreta afirma que o líder argentino decidiu implementar um toque de recolher e suspender as aulas na região metropolitana de Buenos Aires sem consultá-lo, diferentemente de vezes anteriores. “É inexplicável o que o presidente fez. Não nos avisou, tomou uma decisão repentina e em desacordo com o que tínhamos combinado. Assim, rompeu nossa forma de trabalhar juntos para derrotar o coronavírus”, disse.
O chefe de governo da cidade, que tem status de província, afirmou também que apelará à Corte Suprema de Justiça e que espera uma decisão favorável antes que as escolas cumpram o decreto presidencial anunciado na noite desta quarta (14). A medida entrará em vigor na próxima segunda-feira (19).
“Tenho a responsabilidade de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para manter as crianças nas escolas, e vamos insistir”, disse Larreta. “Nós nos baseamos em dados científicos, e não na estratégia do medo usada pelo presidente. Sabemos que o nível de contágio nas escolas é muito baixo.”
Fernández e Larreta são de partidos opostos. O presidente, assim como o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, é peronista, enquanto Larreta representa a oposição, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). Tanto Larreta como Kicillof pretendem concorrer à sucessão presidencial de 2023 e, por isso, as posturas adotadas durante a pandemia miram disputas futuras.
Enquanto Larreta sinaliza ao mercado com mais aberturas e flexibilizações, Kicillof chegou a pedir a Fernández um lockdown na província devido ao aumento de casos de Covid. Segundo dados do Ministério da Saúde, a ocupação de leitos de UTI na região metropolitana de Buenos Aires está em quase 80%.
Larreta também criticou a campanha de vacinação, que vem ocorrendo de modo muito lento no país, devido a um atraso do laboratório russo Gamaleya, fabricante do imunizante Sputnik V. Até agora, a Argentina aplicou a primeira dose em 11% da população, de acordo com dados do jornal americano The New York Times. Quando consideradas as duas doses, a cifra cai para 1,7%.
“O presidente tomou essa atitude [adoção de novas restrições] porque não está conseguindo cumprir o seu plano de vacinação. Em vez de ser transparente e assumir que acabaram as vacinas, prefere adotar medidas como esta. Aqui em Buenos Aires, cada vacina que chega nós aplicamos. E, a partir da semana que vem, estaremos sem vacinas. Fernández não admite que seu plano falhou”, acrescentou Larreta.
A imunização no país também vem sendo realizada, nas últimas semanas, com doses dos fármacos produzidos pela AstraZeneca e pelo laboratório chinês Sinopharm.
Por volta do meio-dia, houve uma passeata na região do Obelisco, no centro de Buenos Aires, organizada por trabalhadores do setor gastronômico, que se vê afetado pelos seis meses de fechamento dos estabelecimentos em 2020 e, agora, com a obrigação de fechar os negócios a partir das 20h. Um outro ato está planejado para ocorrer em frente à residência de Olivos, onde vive o presidente, a partir das 18h.
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