Governo Arce destrói instituições do país, afirma ex-chanceler da Bolívia

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Para a ex-chanceler da gestão de Jeanine Añez, o atual presidente da Bolívia, Luis Arce, está “entrando num terreno perigoso” com a prisão da ex-presidente interina e de alguns de seus ex-ministros.

“A ideia de que seria uma gestão moderada e pró-diálogo está sendo enterrada”, disse à reportagem, de La Paz, Karen Longaric, 63, que não está na lista de pedidos de prisão ordenados pela Justiça.

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Professora emérita de Direito Internacional na Universidad Mayor de San Andrés, ela conta que vem recebendo ameaças e que não pretende voltar à política.*

PERGUNTA – Como avalia a detenção da ex-presidente Jeanine Añez?

KAREN LONGARIC – Estou muito preocupada pelo povo boliviano que mais uma vez assiste a um gesto de arbitrariedade cometido pelo MAS [Movimento ao Socialismo, partido de Evo Morales e de Luis Arce]. A detenção é uma demonstração de que há uma perseguição política e um avanço do Executivo contra as instituições. O Ministério Público e a Justiça estão sendo usados de modo impiedoso para servir aos propósitos deste governo.

Por sorte, temos a manifestação em nosso favor do Brasil, da UE e de outros organismos internacionais. Apreciamos que o governo do presidente Bolsonaro tenha demonstrado solidariedade e sabemos que contamos com a solidariedade de todos os governos democráticos.

A senhora crê que o presidente Luis Arce está envolvido?

KL – Claramente a gestão do MAS está debilitando e destruindo a independência das instituições. Não há um projeto de estabilidade no plano do senhor Arce, como ele prometeu em seu discurso de campanha. Mas sim o projeto de implementar na Bolívia o sistema do socialismo do século 21. Os bolivianos queremos viver em paz, com regras e Justiça independente, não num governo com essa finalidade.

Causa estranhamento que, na gestão Añez, Evo Morales tenha sido denunciado por terrorismo, e agora que o MAS voltou ao poder, essa acusação caiu, e a ex-presidente esteja sendo acusada de sedição, num primeiro momento, e de terrorismo. São diferentes os supostos crimes?

KL – São completamente diferentes. O nosso governo pretendeu sancionar delitos comprovadamente relacionados a uma campanha terrorista. Há evidências apresentadas para esse processo e lamentamos que tenha caído. É muito diferente culpar agora a ex-presidente Añez por uma figura jurídica sui generis, a de um suposto delito, quando ela era ainda senadora, por supostamente articular para tomar o poder.

É preciso lembrar que Añez não tomou a dianteira nesse processo. A própria Assembleia Legislativa, cuja maioria era do MAS, decidiu cancelar a eleição depois das evidências de fraude.

Depois, foram vários os pedidos para que Morales renunciasse, de organizações sociais, da Defensoria do Povo, por conta da violência desatada nas ruas, e culminou com a sugestão das Forças Armadas. Não houve golpe, houve uma fraude. E quem decidiu anular a eleição foram os parlamentares do MAS, não Añez.

Depois, a questão da sucessão foi decidida de modo consensual no âmbito legislativo e depois referendado pelo tribunal constitucional. Portanto não há delito.

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