(FOLHAPRESS) – Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar uma cadeira na diretoria do Banco Central, Gabriel Galípolo dedicou parte dos últimos dias a uma peregrinação por jantares e gabinetes de senadores para atrair o apoio daqueles que precisam aprovar seu nome para o cargo.
Hoje secretário-executivo do Ministério da Fazenda, o economista não fez distinção entre colorações partidárias e incluiu em seu roteiro de conversas desde senadores da base do governo até membros do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Galípolo já tinha uma inserção importante nas rodas políticas de Brasília, participando da negociação de medidas importantes como o novo arcabouço fiscal. Ele tem levado consigo Ailton Aquino, funcionário de carreira do BC que foi indicado para a segunda vaga disponível na direção da autarquia e nome menos conhecido entre os parlamentares.
Nos encontros, segundo relatos colhidos pela Folha, Galípolo tem demonstrado desenvoltura ao falar de temas áridos como inflação, juros e reservas internacionais -assuntos que pautam o dia a dia da autoridade monetária.
Em diferentes diálogos, o atual secretário detalhou os conceitos, traçou um panorama dos índices de preços e da taxa básica de juros (Selic), nos últimos anos e para o futuro. Também explicou de forma aprofundada como o Brasil constituiu suas reservas internacionais (hoje em US$ 343,4 bilhões), tidas como um importante colchão de segurança contra choques externos.
A discussão sobre meta de inflação, monitorada de perto pelo mercado financeiro diante da possibilidade de mudança, passou ao largo dos debates com os senadores, segundo relatos. Nem o secretário nem os senadores mencionaram o assunto nas conversas
De acordo com interlocutores, Galípolo também tem buscado se ater aos temas do BC, falando como um candidato à diretoria, embora seja hoje um agente de governo atuante nas medidas de maior envergadura até agora na gestão do ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Sobre a política fiscal, ele resume seu posicionamento à necessidade de “harmonização” entre ela e a política monetária -um discurso bastante entoado por Haddad.
Segundo os relatos, apesar da boa dose de economês, Galípolo tem causado boa impressão nos senadores pela disposição ao diálogo e também pelo conhecimento técnico na área.
Aquino também foi elogiado por dois senadores ouvidos pela Folha e que disseram não conhecê-lo até o encontro.
Na terça (13) à noite, houve um jantar com presença de nomes tanto da base quanto da oposição, como o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido), Weverton (PDT-MA), Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Chico Rodrigues-que, apesar de ser do PSB de Roraima, foi vice-líder do governo Bolsonaro.
Ele e Aquino também se encontraram com a bancada do PT no Senado e com o senador Eduardo Gomes (PL-TO).
A dupla também acompanhou Haddad e Simone Tebet (Planejamento) na reunião de líderes com presença do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na manhã desta quinta-feira (15), agenda na qual os dois ministros se dedicaram a debater o novo arcabouço fiscal (leia abaixo).
“[A] política de juros precisa ser urgentemente revista. Obviamente precisávamos conversar mais e compreender o que estão imaginando [sobre esse tema]”, disse o senador Weverton.
Segundo o parlamentar, os dois disseram que estavam começando o périplo entre os senadores e que prevê que ambos sejam aprovados pela Casa. “Não tenho dúvida de que terão a ampla maioria dos votos necessários no Senado.”
A indicação de Galípolo e Aquino precisa, primeiro, passar pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado. A sessão está prevista para o dia 27. Caso sejam aprovados, os nomes vão para o plenário.
Galípolo e Aquino repetem o que já é tradição no processo de indicação, com uma saga por gabinetes de parlamentares para convencê-los a votarem em seu favor.
A dupla busca confirmar suas vagas na direção do BC no momento em que a autarquia vem sendo alvo de ataques do governo pelo nível da taxa de juros.
O próprio Lula já trocou farpas publicamente com o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em mais de uma ocasião, e também especulou retirar a autonomia do banco, dando mais poder de interferência ao executivo.
Braço direito de Haddad, Galípolo é visto como um homem de confiança do governo para conseguir influenciar a direção do órgão nas decisões sobre o juros.
Até o fim do mandato de Campos Neto, em 2024, Lula ainda poderá indicar mais dois diretores e Galípolo, inclusive, é cotado para substituir o presidente do banco.
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