SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio a um processo de fritura por duas festas realizadas em 2020 na residência oficial, o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, já tem uma nova crise para lidar com a divulgação de outros dois eventos realizados em 16 de abril de 2021, véspera do funeral do príncipe Philip.
A informação foi veiculada pelo Telegraph nesta quinta-feira (13).
Segundo a publicação, funcionários do gabinete de Boris tomaram bebidas alcoólicas em abundância e alguns convidados dançaram até tarde da noite na despedida do diretor de comunicação James Slack e de um fotógrafo pessoal do premiê, eventos que ocorreram separadamente.
O líder britânico não teria comparecido, pois estava na sua casa de campo em Chequers.
Os eventos teriam ocorrido em meio às restrições sanitárias que estavam em vigor para conter a propagação da Covid-19. Essas medidas marcaram o funeral do príncipe Philip, que ocorreu no dia seguinte. A cerimônia deixou a imagem marcante da rainha Elizabeth 2ª solitária nos bancos da igreja para cumprir as medidas de distanciamento social.
Boris enfrenta pedidos de renúncia, inclusive de seu próprio partido, por supostas festas em Downing Street, sua residência oficial, enquanto o Reino Unido estava sob confinamento rígido.
A série recente de escândalos começou quando veio à tona outra festa que teria sido realizada em Downing Street durante a época de Natal de 2020, quando celebrações presenciais estavam proibidas em razão de restrições sanitárias. O episódio levou à renúncia de uma assessora de Boris.
Já no mês passado, os jornais britânicos The Guardian e The Independent fizeram uma investigação apontando que cerca de 20 funcionários do governo fizeram uma festa em maio de 2020 –há relatos de que seriam até 40.
Uma foto do evento –regado a queijo e vinho– que também circulou mostrava o premiê no jardim da residência oficial, o que contrariava sua versão inicial de que não havia ocorrido celebração alguma.
A crise se agravou na segunda (10), quando a rede ITV divulgou um email enviado pelo secretário particular do premiê convidando ao menos cem funcionários do governo para a ocasião.
“Após um período incrivelmente movimentado, seria bom aproveitar ao máximo o clima agradável e tomar, com distanciamento social, algumas bebidas, nos jardins do número 10 [referência ao endereço de Downing Street], nesta noite”, afirmava a mensagem de Martin Reynolds. “Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua bebida!”
Sob pressão, Boris admitiu pela primeira vez nesta quarta (12) que furou as regras de confinamento ao participar da festa. Diante do Parlamento, disse que a indignação que as revelações causaram é compreensível.
Na versão do premiê, ele pensou que o evento era uma reunião de trabalho, já que o jardim da residência oficial funciona, segundo ele, como uma extensão do escritório. Boris disse que lá permaneceu por 25 minutos para agradecer aos funcionários e, depois, voltou a seu gabinete.
“Olhando em retrospecto, eu deveria ter mandado todos de volta para dentro, encontrado outra forma de agradecê-los e reconhecido que, ainda que aquilo tecnicamente estivesse dentro das orientações [por ser um ambiente aberto], haveria milhões e milhões de pessoas que não veriam as coisas assim.”
“Pessoas que sofreram terrivelmente”, seguiu o premiê, “e foram proibidas de encontrar entes queridos, em ambientes internos ou externos; e a eles e a esta Casa eu ofereço minhas sinceras desculpas.”
A admissão e o pedido de desculpas, no entanto, não acalmaram os ânimos dos parlamentares, que já vinham submetendo o premiê a um processo de fritura nos últimos meses. A fala de Boris provocou vaias e risadas no Parlamento, em especial dos legisladores da oposição.
Mesmo entre os parlamentares conservadores, porém, houve novas manifestações de descontentamento. O correligionário Christopher Chope descreveu a declaração de Boris como “o mais abjeto pedido de desculpas que já ouviu”, e Roger Gale, outro colega de legenda, afirmou que, politicamente, o premiê é um “morto-vivo”.
Os episódios se somam à derrota eleitoral do Partido Conservador em uma região que era seu reduto político há 200 anos também foi um símbolo da imagem em queda do premiê. Na mesma semana, o governo sofreu outra baixa: David Frost, ministro do brexit, renunciou alegando preocupação com os rumos da gestão.
Duas pesquisas de opinião pública divulgadas na terça (11) apontam que mais da metade dos entrevistados defendem que o premiê deve deixar o cargo. Analistas consideram, porém, que a renúncia é improvável, em parte devido à habilidade de Boris de escapar de crises, mas também devido à ausência de um nome entre os conservadores que reúna apoio suficiente para formar maioria no Parlamento.
A polícia britânica, por sua vez, afirmou nesta quinta que não irá investigar os eventos a menos que um inquérito interno do governo encontre evidências de possíveis crimes.
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