LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Com cerca de 20 metros de comprimento e pesando até 340 toneladas (superando a massa corporal até dos maiores dinossauros), uma espécie de baleia que habitou há 39 milhões de anos a região onde hoje fica o Peru pode ter sido o animal mais pesado já registrado no planeta Terra.
Em artigo publicado na última edição da revista Nature, um time de cientistas apresenta o bicho, batizado, em razão de sua origem geográfica e de suas dimensões colossais, como Perucetus colossus.
Os vestígios foram encontrados no Peru, no deserto de Ocucaje, que abriga uma série de tesouros fósseis do antigo mar peruano. Ao se depararem com os restos da baleia, os cientistas chegaram a pensar que se tratava de rochas, devido à dureza incomum do material.
A descoberta era, na verdade, um conjunto de ossos gigantescos de “um animal que não pensávamos que poderia existir”, relata Aldo Benites-Palomino, pesquisador da Universidade de Zurique e um dos autores do trabalho.
O paleontólogo fez uma série de publicações nas redes sociais para dar detalhes e apresentar os bastidores da pesquisa. “Escavamos os restos deste animal em um grande trabalho de extração de vértebras que pesam mais de 180 quilos”, revelou.
Os cientistas conseguiram recuperar um esqueleto parcial, incluindo 13 vértebras, 4 costelas e 1 osso do quadril, todos de grande dimensão.
Ao começarem a analisar o material, os cientistas se surpreenderam com a densidade e compactação dos ossos identificados, partindo então para uma análise minuciosa da composição.
A etapa seguinte foi a construção de um modelo 3D da antiga baleia, o que permitiu estimar com mais clareza os detalhes anatômicos da espécie e compará-la a outros animais.
Os resultados das simulações revelaram as dimensões expressivas da espécie peruana, indicando que a massa do animal seria de no mínimo 85 toneladas. O peso máximo estimado, por sua vez, era de 340 toneladas.
O resultado, segundo o trabalho, “representa potencialmente o animal mais pesado já descrito”.
Atualmente, o título de animal mais pesado do mundo pertence à baleia-azul (Balaenoptera musculus), cujos maiores exemplares chegam a cerca de 190 toneladas.
“Descobertas de formas corporais tão extremas são uma oportunidade para reavaliarmos nossa compreensão da evolução animal. Parece que nós estamos apenas vagamente cientes sobre quão surpreendentes as formas das baleias podem ser”, avaliam J.G.M. Thewissen e David A. Waugh, dois especialistas no tema vinculados à Universidade Médica do Nordeste de Ohio.
A dupla, que não participou da pesquisa, publicou um artigo analisando a descoberta, também na revista Nature.
Devido à ausência de partes importantes do fóssil, como o crânio e os dentes, ainda restam muitas dúvidas sobre o Perucetus colossus. Os cientistas já sabem, porém, que ele vivia em águas pouco profundas e se deslocava lentamente.
Ao contrário da maioria das baleias, porém, a nova espécie provavelmente não era um predador ativo. Uma das hipóteses para a dieta do animal é que ele seria um tipo de carniceiro, alimentando-se da carcaça de vertebrados afundados.
Além de um possível novo peso-pesado do mundo animal, o trabalho também contribui para a compreensão da evolução dos cetáceos – subordem de mamíferos que inclui golfinhos, baleias e botos.
A descoberta do Perucetus colossus e as conclusões apresentada pelo grupo indicam que a tendência para o gigantismo dos cetáceos pode ter acontecido cerca de 30 milhões de anos antes do que indicavam estudos anteriores.
Por tudo isso, embora destaquem as limitações do trabalho e as muitas lacunas ainda existentes sobre a vida e o comportamento da baleia peruana, a análise publicada por Thewissen e Waugh diz que ela pode significar mais do que apenas uma nova espécie para a ciência.
“É muito cedo para dizer, mas tais considerações demonstram que a importância desse fóssil vai além da documentação de uma forma de vida até então desconhecida”, escrevem.