(FOLHAPRESS) – O cantor Robbie Williams não é afeito a subterfúgios. Ao ser questionado sobre por que lançou um filme biográfico, o britânico vai direto ao ponto.

 

“Gostaria de dizer que havia uma razão altruísta para fazer esse projeto. Gostaria de dizer que decidi fazê-lo para vencer os demônios do passado, para me curar e expor meus traumas e minha redenção. Mas não é nada disso”, diz o cantor, em entrevista por videochamada. “Trata-se de uma tentativa cínica de prolongar a minha carreira.”

Essa franqueza quase autodestrutiva permeia “Better Man”, cinebiografia do artista que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13). “Eu já fui chamado de muitas coisas. Narcista, irritante e idiota”, diz o cantor, em uma locução nos primeiros minutos do longa. “Mas, apesar de eu ser todas essas coisas, eu quero mostrar a vocês como eu realmente me vejo.”

A partir daí, a trajetória de Williams começa a se desenrolar na tela, da infância turbulenta na cidade inglesa de Stoke-on-Trent, passando pelos anos de ascensão na boy band Take That até chegar à consagração como artista solo.

Esses momentos são entremeados por números musicais com os principais hits do cantor, como “Feel”, “Rock DJ” e “Angels”-possivelmente o seu maior sucesso.

Dirigido por Michael Gracey, o filme se soma a uma onda de produções que retratam os altos e baixos da carreira de astros da música. Exemplo disso são “Rocketman”, sobre a vida de Elton John, “Bohemian Rhapsody”, cinebiografia de Freddie Mercury, e “Um Completo Desconhecido”, longa que aborda o começo da carreira de Bob Dylan.

Um elemento, porém, faz com que “Better Man” destoe dessa leva de filmes. Na produção, Williams é representado não por uma figura humana, mas sim por um macaco. De acordo com o cantor, a ideia surgiu após o diretor do projeto perguntar que animal o cantor seria.

“Aí ele propôs que todo mundo no filme fosse humano e apenas o meu personagem fosse um macaco, feito por CGI. Antes de ele terminar a frase, eu já estava convencido”, afirma Williams, para quem esse artifício é uma forma de gerar empatia no espectador. “Nos importamos mais com os animais do que com os humanos. Não acho que tantas pessoas estariam falando sobre este filme se não houvesse um macaco.”

O bicho veio a calhar também do ponto de vista narrativo. Isso porque ele ajuda a evidenciar a sensação de não pertencimento que perseguiu Williams durante boa parte da juventude. No filme, vemos um jovem deslocado, alvo de piadas e humilhações na escola. Em casa, a situação não é muito diferente. O pai abandona a família após dizer que estava saindo para uma partida de futebol.

Confrontado por esse contexto, o personagem de Williams passa a buscar o estrelato como uma forma de aplacar o sentimento de rejeição. “Qualquer um que busca a fama ou o sucesso nesse meio não é a pessoa mais equilibrada do mundo.”

No filme, essa instabilidade emocional se acentuou justamente quando o personagem começou a ficar famoso. Em 1990, o artista virou integrante da banda Take That após ser aprovado em uma audição. Apostando na sensualidade e no pop chiclete, o quinteto não demorou a conquistar uma legião de fãs.

Nesse período, porém, o cantor desenvolveu depressão e dependência química, o que acabou levando à expulsão do grupo. O longa mostra que ele buscou o sucesso na carreira solo movido por um senso de revanchismo. Queria provar que, mesmo fora do Take That, seria capaz de vender milhões de discos. A aposta deu certo.

Lançado em 1997, “Life Thru a Lens”, seu álbum de estreia, alcançou o primeiro lugar na parada de sucesso no Reino Unido, emplacando hits como “Angels”, “Old Before I Die” e “Let Me Entertain You”. O sucesso se repetiu nos três discos seguintes, o que aumentou o passe de Williams no mercado.

Em 2002, assinou um contrato de £ 80 milhões com a EMI. À época, o acordo foi o mais caro da história do Reino Unido, fazendo Williams um dos cantores mais bem pagos do mundo.

No entanto, os problemas aumentavam à medida que o sucesso crescia. Ao assistir ao longa, a impressão que se tem é que o sofrimento psíquico do músico era proporcional ao seu êxito profissional.

“Quando você olha para o vazio, o vazio olha de volta para você. Havia uma imprensa me dizendo o quão horrível eu era, como eu não tinha talento, era horrível e gordo”, diz ele, que desenvolveu distúrbios alimentares. “É muito parecido com o que acontece atualmente nas redes sociais. Na época, a imprensa era a rede social da minha vida.”

Apesar desses problemas, Williams diz que não fazia sentido escondê-los. “Sou compelido a contar minha história, quer ela pareça boa ou não. Existimos em áreas cinzentas. Os humanos não são totalmente santos nem totalmente pecadores.”

Após os percalços, o britânico conseguiu se livrar da dependência química e diz estar em um bom momento. O título do filme, inclusive, faz alusão a essa mudança. Em português, “Better Man” é algo como “Um homem melhor”.

“Eu superei adversidades e estou no outro lado dessa jornada. Quero compartilhar minha experiência, força e esperança”, afirma ele. “Estou tentando abraçar essa ideia de ser gentil mesmo com aqueles que eu detesto.”

BETTER MAN – A HISTÓRIA DE ROBBIE WILLIAMS
– Quando Quinta-feira (13)
– Onde No cinemas
– Classificação 16 anos
– Elenco Robbie Williams, Steve Pemberton e Alison Steadman
– Direção Michael Gracey

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