Não há dúvida de que o caminho até o ensino superior é muito mais difícil e adverso para os estudantes que carecem de recursos financeiros, de acesso à informação ou de um ensino básico de qualidade.
Para esses milhões de jovens, a luta pelo diploma vem com sacrifícios e muitas, muitas horas de estudos.
O pernambucano Fred Ramon é um desses exemplos de perseverança e superação de adversidades. Aos 20 anos de idade, ele foi aprovado em 9 universidades dos Estados Unidos.
“Não tenho outra palavra para resumir o que sinto, a não ser gratidão. Uma profunda gratidão a tudo e a todos que me fizeram chegar até aqui”, agradeceu o jovem, nascido em Recife e criado em Jaboatão dos Guararapes (PE).
Rumo à Califórnia
Fred, filho orgulhoso de uma faxineira, viveu por anos com ela em um bairro periférico da cidade, onde alimentava o sonho de estudar em solo norte-americano.
“Passei um ano todo estudando, das 8h até as 18h, todo dia. Fizesse chuva ou sol, eu estava lá”, contou o pernambucano, que sempre estudou em escolas públicas.
Desse esforço resiliente, ele colheu os frutos: das instituições em que pediu admissão, passou em 9 – muitas delas prestigiadas internacionalmente, como as universidades de Temple, Arizona, Stetson e Whittier, sua escolhida, onde ele cursa Ciências da Computação e Estudos Globais.
Fred não escolheu a Whittier College por acaso: ela fica na Califórnia, estado vibrante que abriga os maiores centros artísticos e culturais do planeta.
E tem tudo a ver com ele: um amante das artes desde pequeno, especialmente fascinado pela cultura pop dos EUA e seus grandes representantes, como Christina Aguilera, Lady Gaga e Bruno Mars. Dessa fascinação, inclusive, surgiu o interesse de Fred em aprender a língua inglesa.
Interesses múltiplos
Na adolescência, ele estudou balé contemporâneo por 3 anos, foi bailarino e até professor de dança!
Para o pernambucano, as múltiplas aprovações conquistadas vão além dos estudos em si, pois se aliam à sua preocupação social com a comunidade onde viveu e o motivou a participar de muitos projetos na escola – alguns deles, reconhecidos a nível estadual e até nacional.
Como um rapaz de muitas facetas e interesses, Fred também já deu aulas de inglês para crianças de Jaboatão e foi conselheiro municipal da cidade, levando à prefeitura algumas necessidades crônicas dos estudantes, como a falta de acesso à informação e à cultura dos jovens, buscando soluções nesse processo.
E como estudante da rede pública estadual, tentou aproveitar ao máximo o que a escola podia oferecer, como cursos de idiomas, de empreendedorismo e de artes. Desse prazer em descobrir e saber mais, hoje Fred fala inglês, espanhol e em breve, francês fluente.
Concretização do sonho
Após a aprovação no Whittier College, o estudante começou a pensar em como se manteria financeiramente por lá, uma vez que sua bolsa não é integral.
Foi aí que ele revelou sua história para o Brasil, buscando chamar a atenção de patrocinadores que pudessem lhe ajudar com as despesas.
Fred precisou de uma semana para atrair a atenção da grande imprensa. “Depois de um tempo, todos quiseram saber quem era Fred Ramon”, disse. Não demorou muito para sua história repercutir e chegar aos ouvidos das empresas, onde conseguiu patrocínio.
O jovem também lançou uma vaquinha para bancar com outros custos da estadia no exterior. A campanha de financiamento coletivo foi um sucesso e, enfim, seu sonho se tornou uma realização concreta: ele iria para os EUA.
Hoje, para além de ser um estudante bem-sucedido e com uma carreira promissora, Fred se tornou um influenciador digital que faz uso de sua relevância nas redes sociais para ajudar jovens brasileiros com dicas de estudo e preparação para o Enem.
Nos últimos meses, ele também lançou cursos gratuitos, onde mostra como se aplicar para uma universidade internacional e como proceder em caso de aprovação.
Muito chão pela frente
Refletindo no longo prazo, Fred espera marcar a vida das pessoas com seu trabalho, tanto na arte quanto na assistência social – e incentivar os estudantes a não desistirem dos seus sonhos acadêmicos.
Com o diploma em mãos, ele espera futuramente se envolver com projetos em Hollywood, seja em filmes, música ou até na parte mais logística e administrativa da indústria das artes.
Tudo isso, claro, sem esquecer do nosso país: com gratidão e desejo de retribuição, ele também planeja lançar projetos voltados para as comunidades brasileiras menos favorecidas que tanto o ajudaram nessa caminhada. “Ainda tenho muito chão a percorrer“, completou.
Fonte: Correio Braziliense
Fotos: Arquivo pessoal
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