Não fosse a pandemia, a jornalista Katia Goldfarb, de 39 anos, estaria comemorando o aniversário do filho mais velho na Disney para depois embarcar em um cruzeiro pela América Central. Por causa dos riscos, as férias no exterior precisaram ser revistas. Agora, o plano da família é passar uns dias em uma chácara em Pilar do Sul, no interior paulista. E o réveillon vai ser em Santos.
Trocar grandes viagens por destinos locais foi a saída de muitas famílias de São Paulo para tentar conciliar a preocupação diante da covid-19 com o cansaço de ficar em casa. Em meio à nova alta da doença, cidades turísticas se preparam para absorver o público que costuma passar a virada fora do Estado e receber mais gente do que em edições anteriores.
No caso de Katia, as férias com o marido e as duas crianças, de 2 e 8 anos, foram programadas ainda em janeiro, quando a pandemia era uma realidade só do outro lado do mundo. “No começo, eu acreditava que tudo ia passar logo. É triste e frustrante porque você cria expectativa”, comenta a jornalista, que também cancelou uma viagem ao Canadá em julho.
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Manoel Linhares diz que, para o réveillon, a tendência é o turista optar por deslocamentos mais curtos, de até 300 quilômetros, usando o carro. “O mais procurado é o turismo mais aberto, de praia, de serra e fazenda.”
Para o setor, há expectativa de operar no limite permitido pelos protocolos e preencher todas as vagas autorizadas em cada lugar. “Em muitos destinos, os hotéis vão precisar obedecer à capacidade permitida de 60%, 80%”, afirma Linhares.
Comportamento semelhante foi notado na plataforma de hospedagem Airbnb, que limitou a 16 o número máximo de pessoas por acomodação. “Locais com menor fluxo de pessoas, como casas de campo e em cidades menores de praia, ganharam a preferência, longe de multidões ou da alta rotatividade”, informa a empresa.
No Airbnb, levantamento aponta que, entre os lugares mais requisitados do País, aparecem Ubatuba, São Sebastião, Riviera de São Lourenço, Campos do Jordão, Ibiúna e Sorocaba. “São famílias em busca de um refúgio fora da cidade, mais perto da natureza, e, ao mesmo tempo, com boa infraestrutura, com internet.” Aspectos de limpeza e higienização também ganharam mais relevância na decisão dos viajantes.
Cuidados. Nem todos, no entanto, se sentem confortáveis para festejar a chegada de 2021 fora de casa. Por morar com os pais idosos, Flavia Brunacci Lopes, de 44, decidiu quebrar a tradição de deixar São Paulo nesta época e abriu mão da viagem que planejou a Fortaleza.
“Nós três já pegamos covid, mas há muita incerteza sobre reinfecção e eu preferi não arriscar”, relata Flavia, cujos pais, de 72 e 76 anos, fazem parte do grupo de risco. “Busquei orientação de médicos e eles dizem que ainda não é hora de facilitar.”
Uma alternativa era o apartamento da família no Guarujá, no litoral sul, que recentemente proibiu cadeiras de praia, guarda-sóis e esporte coletivo na praia. “Mas o pessoal não está respeitando. Achei melhor ficar em São Paulo.” Assim como no período de 25 até hoje, a virada do ano será de fase vermelha no Estado, com funcionamento apenas de serviços essenciais entre os dias 1º, 2 e 3 de janeiro.
O cenário pouco animador impôs um dilema à analista de sistemas Celeste Benza, de 48 anos. Natural do Paraguai, ela desistiu de encontrar o pai no país vizinho. “Ele já teve várias complicações de saúde e não pode ser exposto”, relata. “Se algo acontecesse, eu teria um sentimento de culpa muito grande.”
Também pensou em virar o ano na casa de praia, em Riviera de São Lourenço, mas o receio de aglomeração joga contra a ideia. “Só aqui no meu prédio, cinco pessoas já me perguntaram se eu queria alugar”, diz. “Muita gente está indo viajar, não sei se por subestimar a pandemia ou por cansaço. No fim das contas, acho que é uma mistura dos dois.”
PERGUNTAS & RESPOSTAS
Festas com até dez pessoas
1. Com a pandemia, em São Paulo, há alguma orientação específica para as festas de fim de ano?
Com o aumento de casos e óbitos relacionados à covid-19, as celebrações natalinas se tornaram uma preocupação em todo o mundo. No Estado de São Paulo, o Centro de Contingência de Combate à Covid-19 orientou que a população se reúna em grupos de no máximo dez pessoas nos eventos familiares de fim de ano.
2. E há um tempo de duração máxima sugerido?
O coordenador do grupo, José Medina, aconselhou que os encontros tenham curta duração, de até uma hora, e que os mais velhos sejam protegidos. Para ajudar, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou uma planilha com orientações para as festividades. Segundo o documento, a maneira mais segura de celebrar o Natal e o réveillon é ficando em casa com os familiares que já moram juntos.
3. E quem optar por viajar enfrentará alguma barreira ou local fechado?
Nos dias 1, 2 e 3, todo o Estado estará na fase vermelha, ou seja, só abrirão serviços essenciais (como mercados e farmácias). As prefeituras da Baixada ainda decidiram fazer barreiras sanitárias e fechar a orla no réveillon.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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