(FOLHAPRESS) – Em meio a um desabastecimento de medicamentos e insumos de saúde, mais da metade dos equipamentos de saúde do país está com dificuldade de comprar até mesmo soro fisiológico. Entidades do setor alertam que a crise pode prejudicar pacientes em tratamento de hemodiálise.
Uma pesquisa feita pela CNSaúde (Confederação Nacional de Saúde) identificou que 53% dos equipamentos de saúde estão com estoque de soro abaixo de 25%. Outros 37% estão com estoque abaixo de 50%.
O levantamento também mostra que 40% das unidades só têm encontrado o produto no mercado com preços acima de 100% do usual.
A pesquisa foi respondida por 106 estabelecimentos, como hospitais e clínicas especializadas, do Distrito Federal e de 13 estados -Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo.
Um dos tratamentos que pode ser mais afetado é o de hemodiálise, já que as máquinas usadas precisam ser limpas com soro fisiológico entre um paciente e outro.
“Não existe uma explicação para a falta de um insumo tão básico e tão importante para o atendimento de saúde. O mercado brasileiro está completamente desregulado e os centros de diálise estão muito preocupados com as repercussões desse problema”, diz Yussif Ali Mere Junior, presidente da ABCDT (Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplantes).
Segundo ele, caso a falta do insumo se mantenha, os centros terão de recorrer a outros produtos para limpar as máquinas de hemodiálise. As alternativas, no entanto, encarecem ainda mais os custos do tratamento.
Há meses o país vem enfrentando o desabastecimento de uma série de remédios. Em abril, e depois novamente em junho, entidades médicas alertaram o Ministério da Saúde sobre o baixo estoque nos hospitais.
As entidades cobravam a adoção de “ações coordenadas no sentido de contribuir com a regularidade da comercialização dos medicamentos, tendo em vista todas as implicações e prejuízos clínicos que a ruptura de estoque pode ocasionar”.
Entre elas estavam a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), a SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia) e a SBRAFH (Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde).
Segundo a pesquisa da CNSaúde, além do soro, os equipamentos de saúde relatam falta de outros insumos básicos, como dipirona injetável (com baixo estoque em 62,9% das unidades), atropina (50,5%) e até contraste usado em exames radiológicos (49,5%).
As entidades cobram ações do Ministério da Saúde para solucionar a situação que se arrasta há meses. “Oficiamos o ministério e a Anvisa e não obtivemos resposta sobre o que estão fazendo para evitar o desabastecimento”, diz Breno Monteiro, presidente da CNSaúde.
Outro levantamento, feito pelo Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), também identificou a falta de antibióticos, como amoxicilina e azitromicina, em unidades de saúde de 284 municípios do país.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que o desabastecimento de insumos médicos é resultado de “diversas causas globais que extrapolam” sua competência. Às entidades, a pasta tem dito que o problema é consequência da guerra na Ucrânia, do fechamento de portos na China em decorrência da pandemia de Covid-19 e da alta do dólar.
As entidades ressaltam, no entanto, que o soro fisiológico, por exemplo, é produzido no Brasil e não depende da importação de insumos para sua fabricação.
O ministério disse ainda que, no início de junho, publicou uma portaria que libera critérios de estabelecimento ou de ajuste de preços para remédios com risco de desabastecimento no mercado.
“A pasta continua atuando em conjunto com Anvisa, estados e municípios e representantes das indústrias farmacêuticas para articular ações de enfrentamento ao desabastecimento de insumos hospitalares no país”, diz nota da pasta.
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