SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A logística é um dos principais entraves para o setor de ecommerce, que busca reduzir o tempo de entrega na busca pelo consumidor. O AliExpress, do grupo chinês Alibaba, enfrenta desafio semelhante -com o obstáculo a mais de suas mercadorias estarem na China.
O site chegou a render memes pela demora no prazo de entrega, que podia chegar a três meses. Segundo Yan Di, diretor-geral do AliExpress para o Brasil, foi necessário recrutar uma frota de quatro voos semanais para reduzir a estimativa para 12 dias em São Paulo.
“É questão de tempo para ter uma cobertura nacional, e vamos fazer gradualmente”, diz o executivo.
Dado que muitos dos produtos vendidos por ecommerces no Brasil têm origem chinesa, o executivo questiona: por que não comprar diretamente do país, via AliExpress?
“Comparado com os maiores marketplaces que atuam no Brasil, o preço das nossas mercadorias é, em média, 39,2% mais barata”, afirma Yan Di.
O executivo avalia que falta competitividade e rivalidade no ecommerce brasileiro, e incetiva a replicação de modelos de negócio de sucesso feitos na China.
“Antes de entrar no Alibaba, levei vários executivos para conhecer a China. Muitos foram, aprenderam, copiaram e deu certo. Pode copiar, é necessário também”, diz.
PERGUNTA – Quem é o consumidor brasileiro para o AliExpress?
YAN DI – Hoje, o AliExpress é considerado o maior marketplace crossborder [loja virtual de compras internacionais] e estamos em 220 países. Não entramos no Brasil no ano passado, estamos aqui há 11 anos. Para nós, o país é um dos cinco maiores mercados para o AliExpress. Nosso público brasileiro é formado por 60% de pessoas com menos de 35 anos. Esse público tem um perfil mais ativo de consumo online.
Comparado com os maiores marketplaces que atuam no Brasil, o preço das nossas mercadorias é, em média, 39,2% mais barata. E não é segredo: existe muita gente comprando pelo AliExpress para revender em outros marketplaces.
Nosso diferencial é o preço de fábrica. Quem consegue competir? A pergunta que deixamos para o consumidor final é: você quer produtos da China direto do AliExpress, ou quer comprar de outro marketplace que comprou do AliExpress e que cobra mais caro?
Mas não adianta ter só preço barato, [o consumidor] quer entrega rápida. Mobilizamos quatro voos fretados da China por semana com mercadorias. Assim, garantimos uma entrega mais rápida.
O AliExpress era conhecido pela demora nas entregas, mas o cenário mudou no último ano. O que foi feito?
YD – Hoje, para São Paulo, entregamos em 12 dias, e ainda é uma primeira fase [para encurtar prazos]. Em breve, vamos cobrir as demais regiões metropolitanas. É questão de tempo para ter uma cobertura nacional, e vamos fazer gradualmente.
O público brasileiro quer o melhor preço, mas não olham somente para isso. Ele quer equilíbrio entre preço e serviço.
Somos especialistas crossborder. O responsável por fazer isso é a Cainiao, braço de logística do grupo Alibaba. Ele usa o nosso algoritmo para otimizar eficiência e custo. Nossa negociação envolve muita tecnologia, assim conseguimos minimizar o tempo de chegada ao Brasil.
Quando o produto chega aqui, quem cuida da entrega são os Correios. Mas ainda existe um grande espaço a ser otimizado, tanto da China até o Brasil, quanto do Brasil até a casa do cliente.
Temos muita expertise que poderia ser replicada aqui no Brasil. Olhando em tamanho, a China também tem tamanho continental. A China vem avançando na otimização de eficiência logística. Temos uma penetração do ecommerce acima de 50%.
Lá, mais da metade do varejo é realizado online. Nem os Estados Unidos e nem a Europa conseguiram fazer isso. A expertise em tecnologia e infraestrutura da China poderia ser replicada no Brasil.
No último ano, devido à pandemia, o varejo brasileiro migrou para o ecommerce. Como você compara o setor na China e no Brasil?
YD – Aqui não existe rivalidade ou competição. O tamanho do ecommerce brasileiro ainda é muito tímido. Ano passado o ecommerce brasileiro faturou US$ 15 bilhões. No mesmo período, a China faturou US$ 1 trilhão. O tamanho do ecommerce chinês é bem maior que o brasileiro, porém, a população é sete vezes maior. Economicamente falando, o ecommerce chinês começou muito mais acelerado que o brasileiro.
O ecommerce brasileiro só participou de 10% do varejo total, enquanto a China ocupou 50%. Essa diferença é um bom sinal. Isso mostra que há um grande potencial a ser alcançado pelo Brasil.
Em 2008, a epidemia de Sars na China impulsionou o ecommerce chinês. Depois disso, o Grupo Alibaba consolidou uma posição de liderança lá. Acredito que aqui, depois da pandemia, depois de todos vacinados, esse comportamento não vai regredir e o ecommerce não vai parar de crescer. Todo mundo viu que comprar online é mais prático, é muito mais conveniente, mais barato.
A epidemia de Sars também empurrou a infraestrutura na China. Investiram milhões em infraestrutura, construíram 39 mil quilômetros de trens de alta velocidade. Toda infraestrutura garante essa eficiência. Aqui no Brasil ainda usa caminhão para entregar.
Quanto ao last mile [logístia de última milha], a China também fez muita inovação, integrando online com offline através do “new retail” [no qual as lojas físicas se transformaram totalmente e são uma extensão da experiência online].
Convertemos lojas de conveniência em mini-centros de distribuição. Colocamos o estoque lá, que fica perto do consumidor. Ele sabe qual é o seu consumo e a frequência. Daí entrega muito rápido. Isso a China criou e está sendo ativamente copiado no Brasil.
Antes de entrar no Alibaba, levei vários executivos para conhecer a China. Muitos foram, aprenderam, copiaram e deu certo. Muita coisa “copy from China”. Pode copiar, é necessário também.
O real desvalorizado influenciou as compras dos brasileiros e dificultou investimentos?
YD – Não foi negativo. No ecommerce, o que mais cresceu foi o crossbroder, muito devido à pandemia.
Por que comprar no AliExpress, e não em outro ecommerce?
YD – Somos os primeiros e únicos a oferecer o comprometimento de 12 dias em delivery internacional, sem estar atrelado a assinatura. Acho absurdo cobrar assinatura para gozar de um direito essencial. É entregar rápido, o consumidor merece. Não somos qualquer crossborder, estamos aqui há 11 anos.
O que falta para a plataforma crescer no Brasil? Quais problemas ainda enfrentam?
YD – Gostaríamos de aumentar investimentos e melhorar a experiência para o usuário, e simultaneamente queremos impulsionar o empreendedorismo brasileiro. Nesse contexto de pandemia, muita gente perdeu o emprego. As pessoas precisam de uma renda estável. Muitos estabelecimentos fecharam, e o online pode ser uma nova sacada.
Até 2036 gostaríamos de ter 2 bilhões de usuários espalhados no mundo inteiro, criando 100 milhões de empregos e ajudando 10 milhões de empresas de pequeno e médio porte. O Brasil está dentro dessa, estamos olhando em como ajudar o empreendedor brasileiro.
Para isso oferecemos o dropshipping [modalidade em que o usuário usa o estoque, entregue via fornecedor do AliExpress,]. Às vezes um comerciante não tem dinheiro para fazer um estoque. Oferecemos nosso tecnologia para quem está trabalhando na plataforma online.
Ele pode usar mercadorias do AliExpress sem gastar um tostão para fazer seu estoque. É como se fosse revender. Não precisa gastar dinheiro para fazer uma loja.
Além de ajudar nesse empreendedorismo, investimentos em live commerce [modalidade de compra via live]. É a maior tendência na China e já faturou US$ 157 bilhões. O live commerce chegou a ocupar 10% do ecommerce chinês no ano passado e rendeu 1,7 bilhão de empregos.
RAIO-X
Yan Di, 45, é diretor-geral do AliExpress no Brasil, serviço de ecommerce internacional do grupo Alibaba. Antes, liderou a operação da empresa financeira do mesmo grupo, AntFinancial, no Brasil. No país há 20 anos, Yan foi também executivo do buscador chinês Baidu e da Huawei no Brasil.
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