Os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) decidiram, em assembleia na noite desta segunda-feira, 9, permanecer na greve estudantil que tem paralisado as atividades acadêmicas há três semanas. No encontro, realizado no vão da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), no Butantã, zona oeste da capital paulista, os alunos entenderam que, apesar de o movimento ter conquistado avanços, as pautas dos graduandos ainda não foram completamente atendidas pela reitoria da instituição e, por isso, decidiram pela continuidade da paralisação.
Na assembleia, o apoio à permanência na greve foi demonstrado pela maioria dos presentes e não houve nenhuma manifestação a favor do retorno das aulas.
Os estudantes afirmaram que o movimento já promoveu avanços, como a aceleração de contratação de docentes – umas das principais pautas da greve -, mas entendem que outras demandas ainda precisam ser atendidas. Uma nova reunião com a reitoria está marcada para esta terça-feira, 10, às 14h, junto com um ato unificado. Os grevistas também votaram e aprovaram a realização de uma nova assembleia geral para quarta-feira, 11.
A greve foi aprovada na FFLCH em 20 de setembro e ganhou a adesão de outras faculdades com o passar dos dias, inclusive de unidades como a Escola Politécnica (Poli-USP) e Faculdade de Medicina. A categoria dos docentes também decidiu, em assembleia, cruzar os braços e se juntar aos estudantes no movimento.
Os alunos ocuparam os prédios das unidades e passaram a controlar o acesso por meio de piquetes. A intenção era impedir que professores e alunos contrários ao movimento realizassem as aulas normalmente. Estudantes e docentes que não apoiam a greve relataram ao Estadão que sofreram ameaças em virtude do posicionamento divergente.
Durante o período, os grevistas travaram negociações com a reitoria e com as diretorias de cada faculdade. Na semana passada, a USP chegou a anunciar a liberação de mais 148 novas vagas para contratação de professores, adicionais às 879 que já tinham sido aprovadas para diferentes unidades.
Os manifestantes, porém, afirmam que não é necessário apenas abrir vagas, mas também rediscutir as formas de admissão dos novos profissionais. Segundo eles, um mecanismo que fazia a reposição automática dos professores que são exonerados, que se aposentam ou que falecem não está mais vigente, o que torna frágil a manutenção da categoria.
“O número de docentes (que serão contratados) apresentado pela reitoria é uma proposta interessante que consideramos um avanço. Mas, sem a gente debater essa política de contratação fica difícil garantir que a reposição que teremos agora não será perdida nos próximos anos”, disse ao Estadão Amanda Coelho, diretora do Centro Acadêmico do curso de Letras.
Ainda de acordo com os grevistas, a reitoria se mostrou pouco flexível para o atendimento de outras necessidades apresentadas pelos alunos nesta segunda-feira, em uma nova reunião de negociação.
Entre as demandas estavam o aumento da cota para contratação de docentes negros e indígenas e melhorias para o Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (Papfe), que ajuda os alunos de baixa renda a se manterem na universidade – uma das mudanças pedidas é o reajuste da bolsa atual de R$ 800 para R$ 1.000.
“Com relação a permanência estudantil, a reitoria não fez nenhuma proposta concreta”, afirma a Amanda, que faz parte da comissão de graduandos que tem sentado com a reitoria para debater as pautas.
Os estudantes afirmam, no entanto, que o encontro também promoveu alguns avanços, como a sinalização pela reitoria de realizar a construção de uma creche na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) que possa ser utilizada por filhos de alunos, funcionários e professores.
Na assembleia geral desta segunda, os estudantes também apresentaram uma carta à reitoria, reforçando os propósitos da greve, como “falta de professores e técnicos”, e a “necessidade de avanços na política de permanência”.
“Nosso objetivo é, desde o início, construir uma universidade mais acessível para todos os estudantes da considerada melhor do Brasil e entendemos que a nossa mobilização vai ser o que arrancará a nossa vitória”, diz trecho da carta.
No documento, os alunos também pediram para não serem punidos por conta da paralisação das atividades: “Reiteramos também a importância desses estudantes grevistas não serem responsabilizados e nem repreendidos pelo movimente legítimo, ao qual construímos”.
Na semana passada, os professores da Associações dos Docentes da USP (Adusp) também decidiram continuar na greve e devem se reunir novamente nesta terça-feira para definir se continuam paralisados ou se retomam às atividades.
Entretanto, mais de 130 professores da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) divulgaram nesta segunda-feira uma carta em que pedem a retomada das aulas e o fim da greve de alunos. Segundo o texto, a paralisação “traz prejuízos não só ao calendário acadêmico atual, mas também às atividades de pesquisa e manutenção da excelência acadêmica desta faculdade, pela qual a FEAUSP é reconhecida internacionalmente”.
O Estadão procurou a reitoria da USP para comentar sobre a reunião com os estudantes nesta segunda, mas não teve retorno.
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