"Estou ansiosa, com medo". Órfãos e crianças ucranianas adotadas fogem

Oksana é uma psicóloga ucraniana que cuida de órfãos e crianças adotadas, em Brovary, nos arredores da capital ucraniana de Kiev, para as Aldeias de Crianças SOS – uma organização não governamental que apoia crianças que não têm cuidados parentais – e relata à CNN o que têm vivido desde que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia teve início.

Eram por volta das quatro da manhã quando ouviu uma explosão e acordou o marido para lhe dizer: “Kolya, há uma guerra!”. De repente começaram a selar as janelas para evitar que os vidros se partissem, mas Oksana sabia que não era suficiente e, por isso, desceram para a cave, onde também não se sentiam seguros porque não era um abrigo antiaéreo, contudo, não tinham tempo para ir para outro lugar.

“Uma criança começou a gritar”, disse Oksana à CNN. “Eu estava tentando acalmá-lo enquanto dizia: “Olha para mim, respira, vamos fechar as janelas, está tudo está sob controle. Agora precisamos que pare com o pânico e nos ajudes”, pediu.

Tatyana, outra mulher ucraniana que colabora as Aldeias de Crianças SOS, conseguiu escapar da guerra com os seus seis filhos adotivos, sem que ouvissem o bombardeio, mas teve que tomar uma decisão: ficar na Ucrânia com a família ou sair e salvar os filhos.

“Tenho uma filha e a minha mãe na Ucrânia, estou muito preocupada, mas essas crianças devem ser salvas”, afirmou Tatyana na Polônia, acrescentando: “A minha filha já é adulta, perguntei-lhe se também queria vir para a Polônia, mas não quer”. A ucraniana decidiu adotar crianças porque sempre quis uma família grande, mas agora foram forçados a se separar.

Uma menina, de quem Tatyana tomou conta desde que tinha apenas um ano estava com ela, calma e com um sorriso. “Estou ansiosa, com medo”, admitiu, esclarecendo: “Estou preocupada com os meus parentes e com todos os ucranianos”.

O trauma da guerra está atingindo as crianças “que já tiveram um começo de vida difícil”, comentou a psicóloga. “Antes da guerra algumas das nossas crianças foram abusadas física, psicológica, econômica e sexualmente”, contou, explicando que “eles sofreram, não tiveram infância”. E agora, são refugiados da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Um total de 107 crianças, juntamente com as mães adotivas, como Tatyana, deixaram a Ucrânia para irem para a Polônia. “Há uma menina que vem de Irpin ao nosso encontro, onde viu a família a ser baleada”, revelou Oksana. A falar sobre as crianças de que cuida, manifestou: “Eles agora sabem o que são explosões, sabem o que é um abrigo antiaéreo. Alguns até têm medo de ir ao banheiros sem as mães. “É simplesmente terrível”, acrescenta.

O medo pelas crianças e o estado do seu país fazem com que as lágrimas lhe escorram pelo rosto e a tristeza se transforme em raiva quando fala do presidente russo: “Putin é o segundo Hitler, é a sério. Se o mundo não o impedir, haverá a Terceira Guerra Mundial”, alertou, frisando que a luta já mudou tudo na sua vida e na das crianças.

 

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