CRISTIANO FARIAS MARTINS
BLUMENAU, SC (FOLHAPRESS) – Funcionários do centro educacional Cantinho Bom Pastor se reuniram neste sábado (8) para relatar como foi o ataque contra a creche que aconteceu na quarta-feira (5) e que deixou quatro crianças mortas em Blumenau (SC).
A entrevista coletiva, organizada por iniciativa da escola, foi criticada pelo pai de uma das vítimas, que reclamou da exposição dos detalhes do caso.
O ataque ocorreu no momento em que 25 crianças se reuniam no pátio para uma roda de conversa sobre a Páscoa. Ficou na memória da professora Suelen dos Santos uma das últimas frases de Bernardo Pabst da Cunha, uma das vítimas do massacre.
“Estávamos falando que a gente deve amar o nosso coleguinha. O meu Bernardo, uma das últimas coisas que ele disse foi que a gente não pode bater no coleguinha porque o papai do céu fica triste”, disse ela durante o evento deste sábado, que foi realizado na própria escola.
A professora Cleusa Davi disse que ao ver um homem pular de capacete o muro da escola pensou se tratar de um assaltante em fuga de um posto próximo à creche. “Foi questão de segundos e já ouvimos os gritos.”
A dona da escola, Alcolides Ferreira, disse que imediatamente começou a orientar para que as crianças fossem levadas para salas. “Mandei todos irem para o banheiro, porque tem janela alta, mais segura que as nossas salas, com vidraças baixas. Foi a primeira coisa que pensei. A lavação [banheiro] também é uma sala grande, não tem janelas grandes e tem chaves.
Na quarta, dia do ataque, a professora Simone Aparecida Camargo disse à Folha de S.Paulo que trancou diversas crianças no banheiro para protegê-las do ataque -a docente não esteve na entrevista deste sábado.
Já a faxineira Franciele Ferreira contou que professoras tiraram a blusa para tentar estancar o sangue de algumas das crianças feridas. “Tinha várias crianças feridas, a gente fez tudo o que a gente pode.”
“Como eu queria que aquilo estivesse em um quadro negro, que pudesse ir lá e apagar”, disse Alcolides Ferreira.
A coletiva foi transmitida por sites regionais e revoltou Bruno, pai de Bernardo Cunha, uma das vítimas do massacre. Ele saiu de casa e foi até a creche se queixar da exposição sobre os detalhes do crime.
“Meu trabalho, para sustentar um pouco da minha esposa, por causa de uma pergunta aqui, ela teve que ir buscar um posto de saúde. Uma informação que saiu daqui, ela falou: ‘Meu Bernardo sofreu'”, disse ele.
“Eu tinha dito para ela que, pela pancada, ele não sentiu. Foi muito rápido. E agora ela ficou sabendo que tentaram estancar o sangue. E todo trabalho que eu tive com ela ao longo desses dias, se foi por causa de uma pergunta idiota”, disse ele.
A coletiva foi acompanhada por pais de algumas das crianças feridas no ataque. Fábio Santos, pai de Samuel Lorenzo, fez questão de dizer que todas as professoras eram heroínas. “Aqui nós temos heroínas, mulheres que podiam ter perdido suas vidas naquele momento… Nossos filhos que sobreviveram são heróis.”
O grupo participa neste sábado de uma caminhada pela paz no centro da cidade. A retomada das atividades da creche ainda está indefinida. A administração do centro educacional quer apoio do poder público para detalhar como se dará o reinício das atividades.
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