Apesar da pandemia, a economia chinesa cresceu 18,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2020, segundo dados divulgados nesta quinta (15).
Foi a maior expansão do PIB (Produto Interno Bruto) chinês desde pelo menos 1992, quando o país passou a fazer medições trimestrais. Economistas ouvidos pela Reuters esperavam uma alta de 19%.
Veja abaixo o que explica a variação recorde e por que um fenômeno semelhante pode ocorrer com os dados do PIB do Brasil do segundo trimestre:
A COMPARAÇÃO É COM O FUNDO DO POÇO DA PANDEMIA
Vários países vão registrar crescimento recorde um ano depois da disseminação da Covid-19 em seu território porque no início da crise sanitária suas economias mergulharam no fundo do poço. Assim, a base de comparação com o que foi, não raro, o pior momento do PIB leva a um variação recorde 12 meses depois, em um cenário de maior estabilidade.
No caso chinês, o país divulgou expansão inédita de 18,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2020, quando a economia do país sofreu o maior baque pela Covid-19. Naquele momento, o PIB chinês encolheu 6,8% em relação ao primeiro trimestre de 2019.
Já em relação ao quarto trimestre do ano passado, quando a China já vivia um cenário de retomada, o crescimento observado no início de 2021 foi muito menor -apenas 0,6%.
No Brasil, o fundo do poço foi alcançado no segundo trimestre de 2020, quando o PIB recuou 10,9% em relação ao mesmo período de 2019.
Devido à base de comparação baixa, os economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus estimam que o PIB do Brasil vai crescer 9,5% no período abril-junho em relação aos mesmos meses do ano passado -no primeiro trimestre, deve cair 0,6%.
Outros resultados, no entanto, vão mostrar uma economia ainda em recessão. A expectativa é que o PIB deva ficar no patamar em que está ou até sofrer contração nos dois primeiros trimestres de 2021, quando for considerada a comparação com o trimestre imediatamente anterior.
GOVERNO SOCORREU EMPRESAS E MANTEVE MEDIDAS RESTRITIVAS RIGOROSAS
Neste ano, a China manteve medidas rigorosas de restrição de circulação e controle da doença. Ao mesmo tempo, o governo não abriu mão de medidas de socorro a empresas e consumidores e segue com um grande programa de infraestrutura.
A indústria chinesa cresceu 24,5% no período. O setor de serviços, 15,6%, embora alguns segmentos, como o de transportes aéreos, ainda não tenham se recuperado totalmente.
Já no Brasil, embora o país tenha implementado um dos maiores pacotes fiscais de resposta à pandemia do mundo, a crise sanitária fora de controle segue prejudicando a economia.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que as 20 nações que tiveram os melhores resultados econômicos são também as de maior sucesso na área de saúde -entre elas, a China. O país asiático se destaca pela testagem massiva e mapeamento de contatos de contagiados.
De 65 países analisados, o Brasil foi pior do que esse grupo nas duas frentes. Ao contrários dos chineses e de outras nações, não há aqui uma estratégia centralizada no governo federal. O país também demorou a agir para adquirir vacinas, enquanto apostava em tratamentos sem eficácia comprovada.
AS EXPORTAÇÕES DISPARARAM
As exportações também continuam a puxar o crescimento chinês, em um cenário em que há falta de produtos para abastecer a indústria mundial, principalmente na área de tecnologia.
O crescimento das exportações se dá em um momento em que outras grandes economias ainda estão em dificuldade, o que permite ao país asiático assumir papel mais dominante no comércio mundial.
Nos dois primeiros meses do ano, as vendas de produtos chineses para o exterior tiveram crescimento recorde de 60%, com grande demanda por produtos de saúde e equipamentos eletrônicos, dois segmentos impulsionados pela pandemia e também pelos estímulos ao consumo em todo o mundo.
A recuperação chinesa tem ajudado o Brasil, ao contribuir para elevar os preços de produtos básicos exportados pelo país e também as vendas em volume. Por outro lado, essa demanda ajudou a pressionar a inflação brasileira.
DIFICULDADES EM ALGUNS SETORES E NORMALIZAÇÃO DA ECONOMIA
De acordo com o banco suíço Julius Baer, o crescimento do primeiro trimestre foi sustentado por um sólido setor industrial, que se beneficiou do forte crescimento das exportações, e de uma retomada gradual da atividade no setor de serviços.
Na comparação trimestral, no entanto, houve desaceleração, com redução de estímulos e um novo surto de Covid-19 em partes da China no início de 2021, que prejudicou a recuperação dos setores de serviços e turismo.
Segundo a instituição, a expectativa é de uma normalização gradual da política macroeconômica neste ano, incluindo consolidação fiscal, desaceleração do crédito e esforços para estabilizar a dívida e o mercado imobiliário. Não se espera aumento nas taxas de juros neste ano, perspectiva compartilhada pelo FMI e outros analistas.
No Brasil, os serviços também seguem na lanterna da recuperação, tendo voltado ao nível pré-crise somente em fevereiro deste ano, mas com perspectiva de novo tombo em março e abril, em um “efeito sanfona” que frustra planejamento das empresas na retomada.
O QUE VAI ACONTECER AGORA
Depois de crescer 2,3% em 2020, sendo um dos poucos países que registraram expansão do PIB no ano da pandemia, a China deve crescer pelo menos 6% neste ano, segundo projeção do governo -a estimativa de mercado está próxima de 9%.
Há receios em relação ao que pode acontecer diante de fatores como desaceleração das exportações, superaquecimento do mercado imobiliário e empresas que se endividaram com os programas de estímulo.
O país também está com uma campanha de vacinação ainda lenta e as pessoas temem retomar hábitos de consumo que exijam contato social e aglomerações.
Foram aplicadas 127,5 doses por mil habitantes, um total de 183 milhões de vacinas. No Brasil são 154 por mil e um total de 32,8 milhões, maioria delas, feitas com insumos chineses.
Na China, há grande adesão ao distanciamento voluntário e o próprio governo aumentou as restrições para evitar viagens e reuniões familiares durante o Ano Novo Lunar, o maior feriado do ano na China.
A estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional) é de um crescimento de 8,4% para a China neste ano, acima da média mundial de 6%, enquanto o Brasil deve ter expansão de 3,7%.
Segundo o Fundo, é esperada uma diferenciação considerável entre a China, onde medidas efetivas de contenção do vírus, uma resposta vigorosa de investimento público e o suporte de liquidez do banco central facilitaram uma forte recuperação, e outros países emergentes.
Em pronunciamento feito em março, o líder do Partido Comunista chinês, Xi Jinping, disse que o país está ingressando num período cheio de oportunidades no qual “o Oriente está em ascensão e o Ocidente, em declínio”.
Notícias ao Minuto Brasil – Mundo