(FOLHAPRESS) – Na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) nesta semana, a expectativa majoritária do mercado indica que a taxa Selic deve permanecer inalterada no patamar de 13,75% ao ano pela sétima vez seguida. A taxa básica de juros se encontra no nível atual desde setembro de 2022.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrantes do governo têm feito ao longo dos últimos meses uma série de críticas ao BC e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, pela decisão de manter os juros altos em um momento em que a inflação parece que já começa a perder força.
Enquanto existe uma ala de economistas do mercado financeiro que considera acertada a estratégia da autoridade monetária, por avaliar que é preciso controlar as expectativas de inflação antes de qualquer flexibilização, há também aqueles que entendem que o BC já poderia ter iniciado o ciclo de redução dos juros frente à dinâmica recente observada entre os índices de preços.
Economista-chefe da gestora de recursos Apex Capital, Alexandre Bassoli afirma que o desempenho melhor do que o esperado da economia e do mercado de trabalho, e a consequente pressão inflacionária gerada, justificam a atuação da autoridade monetária de modo a controlar as expectativas dos agentes financeiros.
Ele acrescenta que, em 2023, a inflação se situa acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta pelo terceiro ano consecutivo.
No boletim Focus desta semana, a mediana das projeções dos economistas consultados pelo BC indica o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 5,12%, ante uma meta para o ano de 3,25%, com uma banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
“Não vejo evidências de que a política monetária tenha sido mantida excessivamente apertada à luz das metas de inflação que foram estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional”, diz Bassoli.
Segundo Rafael Ihara, economista-chefe da gestora Meraki Capital, uma antecipação do ciclo de corte dos juros pelo BC no início do ano teria sido um erro por parte da autoridade monetária.
“[Os primeiros meses de 2023] eram um momento de questionamento da política econômica do novo governo, com expectativas de inflação em alta. Uma flexibilização antecipada da política monetária só reforçaria o movimento de desancoragem das expectativas e elevaria o custo de trazer a inflação para a meta”, afirma Ihara.
Com a redução da incerteza em relação à política econômica e com as expectativas de inflação em processo de ancoragem, o início do corte da Selic no terceiro trimestre parece “bastante razoável”, diz o economista-chefe da Meraki.
Já para Miguel Bruno, professor de economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie do Rio de Janeiro, o BC já poderia ter dado início ao ciclo de cortes na taxa Selic ainda durante o primeiro semestre do ano.
Ele defende que a inflação não deveria servir como um empecilho para que a autoridade monetária começasse a diminuir a restrição nas condições creditícias impostas pela política de juros.
Isso porque a pressão inflacionária observada recentemente, argumenta Bruno, é muito mais derivada de uma restrição do lado da oferta por parte das empresas do que devido a um excesso de demanda.
Com os juros no patamar atual, as empresas têm enfrentado dificuldades crescentes para obter financiamentos e promover novos investimentos de forma a aumentar a produção, afirma o professor do Mackenzie-Rio.
Uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou que o patamar elevado da taxa de juros é o principal obstáculo para que as empresas consigam ter acesso ao crédito.
“O BC adota uma visão monetarista, que considera que qualquer tipo de inflação é de demanda, mas isso não é verdade, até porque sabemos que a economia brasileira está crescendo de forma muito lenta”, diz Bruno.
Ele acrescenta que, embora o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre tenha superado as expectativas, o resultado foi impulsionado essencialmente pelo agronegócio e mascarou o fôlego menor do consumo e a fraqueza dos investimentos produtivos em meio ao cenário de juros altos.
Professor de economia da Unifesp, André Roncaglia afirma que a política monetária tem efeitos defasados que podem variar de 12 a 24 meses, e, por isso, o BC deveria considerar os impactos do juro no patamar atual para a economia nesse horizonte ao calibrar a taxa Selic.
Ele lembra que as empresas já estão em apuros financeiros com os juros no patamar atual, com aumento acelerado das falências e dos pedidos de recuperação judicial, e a tendência é que, sem algum alívio monetário, o quadro apenas se deteriore ainda mais.
“Não cabe ao BC exclusivamente seguir aquilo que o mercado financeiro enxerga da economia. Cabe a ele liderar esse processo”, afirma Roncaglia.
Ele afirma que a comunicação do BC deveria ser aprimorada e se tornar mais transparente, para deixar mais claro à sociedade as razões que sustentam as decisões de manter os juros estáveis no nível elevado em que se encontram.
O professor de economia da Unifesp avalia que a Selic já poderia estar em um patamar ao redor dos 11%, que é o mesmo nível que tem sido praticado pelos agentes financeiros no mercado de juros futuros de médio prazo, que embute as expectativas sobre a condução da política monetária à frente.
“Quanto tempo as taxas de juros longas precisam permanecer nesse patamar para que o BC se convença de que é hora de reduzir a Selic?”, questiona o especialista.
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