VITOR MORENO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Que boa teoria esse himeneu primaveril em pleno outono”, solta a ex-secretária Lola logo depois se matrimoniar com um cirurgião plástico ricaço em “Formosura Inevitável”. A referência não poderia ser mais explícita: a vilã é vivida por Camila Pitanga, a mesma que transformou a frase em meme.
O trecho da romance “Paraíso Tropical” (Mundo, 2007), na qual Pitanga interpretou a prostituta Bebel, faz sucesso até hoje na internet. E não é a única referência à icônica personagem na novidade trama, que estreia no dia 27 no serviço de streaming Max. “É uma romance de memes prontos”, avalia a tradutor.
Não que os bordões de Bebel sejam a única coisa que labareda a atenção na tradução (propositadamente alguns tons supra) de Lola. De sua boca saem os maiores impropérios possíveis, suas ações são as mais malignas da trama… e, no entanto, não estranhe se diversos cortes de suas cenas começarem a pipocar nas redes sociais e ela se tornar a queridinha do público.
“No início, eu achava tão contraditório tudo que ela falava, achava tão fora de mim -e de traje é-, mas eu precisava descobrir o coração dela”, contou a atriz em evento de divulgação da romance. “Ainda que Lola seja essa mulher superabundante, histriônica e que faz sarro de tudo, é uma mulher cuja verdade eu precisei encontrar.”
Ela conta que uma de suas referências foi o documentário “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro, que mostra moradores de áreas nobres próximas a favelas, mas que, no fundo, achou tudo o que precisava no texto do responsável Raphael Montes.
“O Rapha é generoso em trazer na voz dela um pouco dos antecedentes de uma vida em que teve violência, teve muito sofrimento, teve muita superação, portanto, foi descobrir esse coração para poder aterrar ela, para ter dois pés no solo e para ela poder voar no sonho, no quimera, na loucura… porque às vezes ela é louca, impiedosa. Eu acho que foi a procura que fiz para poder emprestar a minha humanidade à humanidade provável da Lola.”
Pitanga se apressa quando ouve dos colegas que ela fez “prova da OAB logo antes da romance e trabalhou muito porquê advogada de resguardo de sua personagem”. “Ah, eu vou tutorar mesmo”, brinca. “Se eu não tutorar esse ponto de vista humano, não tem porquê eu dar verdade para ela”, explica.
E, portanto, porquê a atriz define Lola? “É uma mulher perigosa, histriônica, ambiciosa, mas, todavia, inteligente, que rebola, se organiza e se equilibra no salto cocuruto. Eu estou falando do salto cocuruto no sentido strictu siso e na vida. Ela é uma mulher que corre detrás do que acredita sem medir esforços, atropelando, matando…”
Porém, a atriz também destaca o lado solar da vilã. “Ela tem um despudoramento, um humor e uma vontade de viver que contagiam a gente”, prossegue. “Mesmo tendo esse lado mais denso e, digamos, perigoso e terrível, a gente gosta dela. Eu, pelo menos, me apaixonei por ela.”
Sobre o retorno às novelas depois quase uma dezena, Pitanga diz que sempre foi cobrada pelo público para voltar ao formato. Antes de “Formosura Inevitável”, sua última havia sido “Velho Chico” (Mundo), de 2016, que teve um desfecho traumatizante quando Domingos Montagner, seu par romântico, morreu afogado pouco antes de gravar as cenas finais.
“Estava esperando um projeto que realmente fizesse qualquer sentido para mim, mas, se tem uma coisa que eu ouço por aí, é: ‘Camila, quando é que você vai voltar às novelas?'”, alegra-se. “Tem esse solicitação de entrar no táxi, de estar na praia, de, enfim, estar na rua e as pessoas falarem: ‘Rosto, a gente tem muita saudade de você’.”
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