SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar teve seu terceiro dia seguido de queda nesta quinta-feira (13), chegando a ficar abaixo de R$ 4,90 na mínima do dia. Segundo analistas, a situação da economia americana faz a moeda perder força globalmente, e a melhora na perspectiva para os juros no Brasil levam a uma valorização mais intensa do real em relação a outras divisas.
A Bolsa também caiu nesta quinta-feira, com os investidores aproveitando a agenda local mais esvaziada para realizar lucros. O Ibovespa subiu 6% nos três pregões anteriores.
O dólar comercial à vista fechou em baixa de 0,28%, a R$ 4,927. Na mínima do dia, a moeda atingiu R$ 4,896. O Ibovespa encerrou o dia em queda de 0,40%, a 106.457 pontos.
Nos mercados futuros, os juros fecharam em baixa nos vencimentos mais longos. Nos contratos para janeiro de 2024, a taxa passou de 13,13% para 13,16%. No vencimento em janeiro de 2025, os juros caíram de 11,79% para 11,77%. Para janeiro de 2027, a taxa passava de 11,74% para 11,63%.
Os indicadores econômicos americanos estão no centro das atenções do mercado nesta quinta-feira, com reflexos principalmente no dólar.
No mercado de trabalho, foram 239 mil novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, na semana que terminou no dia 8 de abril. A expectativa dos economistas ouvidos pela Bloomberg era de 235 mil novos pedidos.
Os preços ao produtor americano, que medem a inflação de atacado no país, desacelerou em 12 meses de 4,9% em fevereiro para 2,7% em março. Economistas ouvidos pela Reuters esperavam variação anual de 3%. Na variação mensal, houve deflação de 0,5%, ante queda de 0,1% em fevereiro.
André Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital, afirma que os investidores começaram a refletir no dólar a possibilidade cada vez mais alta de recessão nos Estados Unidos.
“O real acabou se saindo melhor que outras moedas, pois os estrangeiros voltaram a entrar na nossa bolsa, o que acelerou a queda do dólar”, diz Fernandes.
Os dados fizeram os índices de ações em Nova York fecharem em alta, refletindo a possibilidade de que o ciclo de alta dos juros se encerre na próxima reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), em maio. O Dow Jones encerrou o dia com avanço de 1,14%. O S&P 500 subiu 1,33%. O Nasdaq, mais sensível às perspectivas para os juros, fechou em alta de 1,99%.
Para a equipe da Levante Investimentos, a queda do dólar em escala global acontece por falta de interesse dos investidores em comprar a moeda neste momento.
Segundo a Levante, a inflação ao consumidor abaixo do esperado em março, e a ata da última reunião do Fed citando “recessão” levam o mercado a precificar mais uma alta de juros, de 0,25 ponto percentual, e posterior pausa no ciclo.
Além da possível recessão americana, a recuperação da China também favorece o real. Na madrugada desta quinta-feira, o país asiático divulgou um aumento anual de quase 15% nas exportações em março.
“As exportações chinesas vieram muito acima do esperado, contrariando as previsões de queda. Quando a China exporta mais, ela precisa importar mais commodities, e isso beneficia o Brasil”, diz a Levante.
Os analistas afirmam que não é possível dizer quanto vai durar este ciclo de valorização do real ante o dólar. “No entanto, com todas as ressalvas e cuidados, é possível dizer que há perspectivas de um alívio no câmbio, o que é positivo para a inflação e para os juros no Brasil”, diz a Levante.
Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, diz que a expectativa de pausa no ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos, e até mesmo de início de cortes da taxa ainda neste ano, tem reflexos principalmente nas taxas futuras no mercado brasileiro, nesta quinta-feira.
“Já vemos o mercado trabalhando com a possibilidade da Selic chegar na casa dos 12% até o final do ano, por conta do cenário americano e também do esperado aumento na exportação de commodities, o que favorece o câmbio e a desaceleração da inflação”, diz Meira.
Ainda em relação ao dólar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está em viagem oficial à China, defendeu, na cerimônia de posse de Dilma Rousseff no Banco do Brics (Novo Banco de Desenvolvimento, NDB na sigla em inglês), a ampliação do comércio nas próprias moedas pelos integrantes da instituição -e até mesmo uma moeda do grupo Brics.
“Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda?”, perguntou ele, sob aplausos, ao deixar o discurso escrito e improvisar. “Quem é que decidiu que era o dólar? Nós precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila, porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar.”
Sobre os juros no Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira que o Banco Central tem uma “janela de oportunidade” para reduzir a taxa básica de juros e que essa medida será necessária para, de acordo com o ministro, destravar o mercado de capitais.
“Agora quero crer que o Banco Central tem uma janela de oportunidade que eu espero que seja aproveitada para que o Brasil possa pensar em crescimento econômico sustentável”, disse Haddad a jornalistas em Xangai, onde acompanha o presidente Lula na China.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quinta-feira que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa “melhorar a sua engrenagem política” para conseguir a votação de temas econômicos, caso do novo arcabouço fiscal.
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