Dólar e Bolsa caem na primeira sessão do ano; Petrobras dispara

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar trocou de sinal e passou a tombar nesta quinta-feira (2), primeira sessão de 2025. Investidores realizam apostas iniciais para o ano, de olho no cenário fiscal brasiliano e nas perspectivas para a economia global.

 

Às 16h24, a moeda norte-americana perdia 0,19%, cotada a R$ 6,167, revertendo os ganhos de mais cedo. Na máxima do dia, chegou a fustigar R$ 6,226.
Já a Bolsa tinha ligeiro queda de 0,09%, aos 120.168 pontos, apesar da disparada de mais de 2% da Petrobras. As ações da estatal se beneficiavam da valorização do petróleo no exterior.

Os investidores se preparam para o ano com as atenções voltadas aos cenários interno e extrínseco.

Por cá, as perspectivas para o cenário fiscal brasiliano devem continuar sendo o principal foco do mercado neste início do ano. Os receios com o estabilidade das contas públicas do país foram um dos principais motivos para a disparada do dólar em 2024, que acumulou subida de 27% em relação ao real.

Para os agentes financeiros, o governo tem vestido gastos crescentes com receitas pontuais, o que prenúncio a longevidade do tórax fiscal.

No meio do ano pretérito, “começou a permanecer evidente que várias despesas estavam furando o tórax”, diz Thais Zara, economista-sênior da LCA Consultores.

“A gente já tinha visto esse filme antes, com o teto de gastos anterior, e as projeções do mercado mostravam que, ao longo do tempo, as contas públicas ficariam de novo sob uma regra insustentável. Quando você tem um endividamento público explosivo em um determinado país e a percepção de que o governo não vai conseguir moderar esse desenvolvimento, os investidores se sentem menos confortáveis de investir nele.”

A pressão é por mais cortes nas despesas. No último dia de plenário, 20 de dezembro, o Congresso Pátrio aprovou uma série de medidas de contenção de gastos apresentadas pelo Executivo no final de novembro.

A estimativa do Ministério da Quinta era de uma economia de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026. Mas o pacote foi enfraquecido na tramitação, e cálculos iniciais estimam que até R$ 20 bilhões da conta original vão deixar de ser poupados.

Os parlamentares blindaram emendas obrigatórias contra bloqueios, afrouxaram o comando para combater supersalários, derrubaram boa secção das mudanças no BPC (Benefícios de Prestação Continuada) e excluíram a medida que permitiria à União reduzir os repasses futuros ao FCDF (Fundo Constitucional do Região Federalista). Eles ainda restringiram a flexibilização em recursos repassados ao Fundeb (Fundo Pátrio da Instrução Básica).

O mercado já ofídio por mais ajustes fiscais, e o ministro Fernando Haddad (Quinta) afirmou que há espaço para outras contenções.

Da ponta internacional, são dois fatores de pressão, também importados de 2024: a economia dos Estados Unidos sob Donald Trump, que tomará posse no próximo dia 20 de janeiro, e a política monetária do Fed (Federalista Reserve, o banco médio norte-americano).

Caso cumpra as promessas de campanha, Trump aumentará tarifas e fará deportações em tamanho. “São medidas consideradas inflacionárias e zero triviais. Vão forçar o Fed (Federalista Reserve, o banco médio dos EUA) a manter juros altos e eventualmente até subir a taxa, o que pode tarar ainda mais no dólar”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Os juros norte-americanos estão atualmente na fita de 4,25% a 4,5%, depois de um golpe de 0,50 p.p. e outros dois de 0,25 p.p no último semestre. As previsões de uma inflação acelerada com Trump, somadas a dados econômicos mais benignos, fizeram a domínio monetária sinalizar um ritmo mais lento de flexibilização no próximo ano.

A economia dos EUA é considerada a mais segura do mundo e, em tempos de juros altos, é geral que investimentos saiam de outros países e sejam dirigidos para lá. Isso fortalece o dólar e enfraquece mercados de maior risco, porquê os emergentes e os de renda variável.

Segmento desse movimento foi precificado ainda no final do ano pretérito. “Houve uma novidade escalada diante de várias moedas. O dólar se valorizou mais de 5% entre outubro e novembro em relação a uma cesta de outras seis divisas fortes [índice DXY], o que é muita coisa, e o real capotou nessa história, também pressionado pela cena fiscal”, diz Gala.

A previsão é que o dólar continue em patamares elevados em 2025. No último boletim Focus de 2024, economistas consultados pelo BC (Banco Meão) passaram a prever que a moeda encerre o ano em R$ 5,96.

“Com Trump, nós esperamos um dólar mais poderoso no ano que vem, mas o que vai ditar a valorização ou não das outras moedas vai ser a economia de cada país. Para o Brasil, que tem muita volatilidade interna, vai depender do que será feito no fiscal”, diz Matheus Massote, sócio da One Investimentos.