SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta leve queda nesta terça-feira (1º), com investidores se posicionando antes do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de dados econômicos norte-americanos. Às 14h37, o dólar caía 0,37%, a R$ 5,685 na venda. Já a Bolsa disparava 1,21%, aos 131.847 pontos, descolando do exterior.

 

Trump deve anunciar tarifas recíprocas aos parceiros comerciais dos EUA já nesta quarta-feira, o apelidado “dia da libertação”. A medida visa espelhar as taxas praticadas sobre os produtos norte-americanos, em uma tentativa de equilibrar o déficit comercial do país.

A expectativa pelos anúncios do republicano tem ditado o humor dos mercados globais desde o início do ano, e a incerteza sobre a intensidade e abrangência das tarifas inspira cautela entre os operadores.

Poucos detalhes foram fornecidos até o momento. Na semana passada, a expectativa majoritária era de que o tarifaço fosse direcionado aos países com maior superávit comercial para com os EUA -“os 15 sujos”, como apelidado pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent.

Mas, no domingo, Trump disse que as tarifas incidirão sobre “todos os parceiros comerciais” do país e que, depois, iria “ver o que acontece”. Ao ser questionado sobre quais seriam os mais afetados, ele disse que não sabia se serão “15 países, 10 ou 15” e garantiu que “não há um limite”.

“Não se sabe muita coisa. Há um elevado grau de incerteza e imprevisibilidade sobre um tópico que vai ter consequências inevitáveis sobre o restante do globo, além da própria economia norte-americana”, comenta Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

“Esse ambiente de insegurança tem levado a um movimento de aversão a risco e busca por ativos seguros, o que tende a desvalorizar o real. Por outro lado, também há um movimento de rotação, no qual os investidores estão diminuindo a exposição a ativos norte-americanos, o que tem trazido recursos para o Brasil e outros emergentes.”

O principal receio em relação ao tarifaço é que ele aumente a inflação em uma ampla gama de produtos e distorça cadeias de suprimentos globais, especialmente se os países afetados revidarem com mais impostos.

Nesta terça, a União Europeia declarou que “tem muitas cartas” na mão e um “plano sólido” para reagir aos planos de Trump.

“Nosso objetivo é uma solução negociada. Mas é claro que, se for necessário, protegeremos nossos interesses, nossa população e nossas empresas”, declarou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. “Não queremos necessariamente retaliar. Mas, se for necessário, temos um plano sólido para retaliar e vamos usá-lo.”

Ainda não se sabe se o Brasil será ou não atingido pelas medidas, segundo informou uma autoridade da Casa Branca à reportagem. Mas, caso o país esteja na lista de afetados, as taxas incidirão sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, sem exceções.

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a imposição de tarifas ao país seria “injustificável à luz dos dados e à luz das décadas de parceria entre Estados Unidos e Brasil”. Nesta terça, ele ainda afirmou que o Brasil está em “uma posição confortável”.

“Nossa conta é deficitária com os Estados Unidos. Então, nos causaria uma certa estranheza se o Brasil sofresse algum tipo de retaliação injustificada. Estamos na mesa de negociação para que nossa cooperação seja cada vez mais forte. Nós temos relação de parceria com o Estado americano, não com governos”, disse.

Na análise de João Duarte, sócio da One Investimentos, o Brasil está em “uma posição neutra” na guerra de tarifas, o que tende a atrair investidores para cá, “ainda mais em um contexto de possibilidade de recessão nos Estados Unidos”.

“O Brasil tem se tornado uma opção vantajosa entre os países emergentes. Há um entendimento no mercado de que vários ativos brasileiros estão com bons preços, o que atrai muito investimento para a Bolsa, apesar do dia de desvalorização.”

Os temores de recessão nos EUA estão diretamente relacionados às tarifas de Trump. A economia tem dado sinais de desaceleração nas últimas baterias de dados, mas a falta de clareza sobre o potencial inflacionário do tarifaço pode forçar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter os juros em níveis elevados para conter a alta de preços, o que pode resfriar ainda mais a atividade econômica.

O cenário desenhado por especialistas é de uma “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

Os investidores também aguardam mais dados sobre o mercado de trabalho dos EUA. O destaque fica para sexta-feira, com a divulgação do “payroll” (folha de pagamento, em inglês), mas, nesta terça, o relatório Jolts (Job Openings and Labor Turnover Survey) já deu pistas sobre o estado da empregabilidade por lá.

O número de vagas disponíveis caiu para 7,6 milhões em fevereiro, ante 7,8 milhões em janeiro. O resultado veio em linha com o esperado e, para analistas, reflete a redução da demanda por mão de obra por causa das incertezas que pairam sobre a economia.