VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar caía nesta sexta-feira (2), enquanto investidores reagiam a um possível alívio nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, e analisavam dados de emprego mais fortes do que o esperado na economia norte-americana.

 

Às 15h19, o dólar tinha queda de 0,38%, a R$ 5,653 na venda. Na madrugada desta sexta, o Ministério do Comércio chinês disse que os EUA entraram em contato sobre tarifas e que estava avaliando negociar, pedindo o fim de taxas unilaterais e sinceridade dos americanos.

As ações globais disparavam nesta sexta, com sinais de possíveis negociações comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Os principais índices americanos e europeus abriram em alta, enquanto os mercados asiáticos também se valorizaram. Na contramão do restante do mundo, a Bolsa brasileira tinha queda 0,35%, aos 134.583 pontos, às 15h19.

Segundo o órgão chinês, o governo americano “tomou recentemente a iniciativa de transmitir mensagens ao lado chinês por meio de canais relevantes” e que Pequim agora avalia conversas diretas com Washington. É a primeira vez que a China fala abertamente em aceitar negociação.

Os Estados Unidos declararam sua “vontade de negociar com a China sobre a questão tarifária”, acrescentando ser preciso, porém, “demonstrar sua sinceridade nas negociações, estando preparados para agir em questões como corrigir suas práticas erradas e suspender tarifas unilaterais”.

Após o anúncio do “Dia da Libertação” de Trump em 2 de abril, as trocas de retaliações levaram os EUA a impor tarifa de 145% sobre os produtos chineses, enquanto Pequim implementou taxa de 125% sobre as importações vindas dos EUA.

“Negociações entre China e EUA para resolver o conflito tarifário são bem-vindas para os ativos de risco em todo o mundo, que reavaliam se as preocupações foram exageradas. Ambas as potências estão adotando um tom mais conciliador, permitindo que os investidores voltem a se posicionar em risco”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Além disso, a China isentou 131 produtos americanos de tarifas em meio à guerra comercial, totalizando cerca de US$ 40 bilhões, ou cerca de 24% das importações chinesas dos EUA em 2024, segundo a Bloomberg.

O sentimento positivo do pregão ainda ganhou força com a divulgação de dados de emprego dos EUA mais fortes do que o esperado para abril.

O governo norte-americano informou que foram abertas 177 mil vagas de emprego no país em abril, abaixo dos 185 mil postos de trabalho criados no mês anterior. Economistas consultados pela Reuters projetavam a abertura de 130 mil vagas. Já a taxa de desemprego se manteve estável em 4,2%.

O resultado, que indica a resiliência do mercado de trabalho diante das incertezas da política tarifária de Trump, levou operadores a reduzir ligeiramente suas apostas em cortes na taxa de juros pelo Fed (Federal Reserve, o BC americano) neste ano.

A expectativa é de que o Fed mantenha sua taxa de juros de referência na faixa de 4,25% a 4,50% na próxima semana.

Em uma publicação em sua rede social Truth Social após a divulgação dos dados, o presidente americano citou o nível de empregos do país e seu plano tarifário para afirmar que a economia dos EUA “está apenas em fase de transição, apenas começando”.

Trump voltou a fazer um apelo para que Fed reduza a taxa de juros.
“Os consumidores esperam há anos para ver os preços caírem. SEM

INFLAÇÃO, O FED DEVE BAIXAR SUA TAXA!!!”, publicou Trump.
Em dia de agenda esvaziada no Brasil, o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, caminhava para encerrar a semana praticamente estável.
Cândido Piovesan, trader da mesa de alocação da Nippur Finance, afirma que o índice acompanha com cautela os novos capítulos da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

“Os dados fortes de emprego esfriaram as apostas de que o Fed vá cortar os juros já em junho. Agora, o mercado começa a mirar julho. Com isso, o fluxo de dinheiro para países emergentes, como o Brasil, diminui, e o Ibovespa sente esse baque também.”

Segundo o analista Regis Chinchila, da Terra Investimentos, o desempenho do índice reflete um movimento de correção, após ganhos recentes, quando chegou a renovar máximas do ano.

Para Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, a queda da Bolsa “ocorre principalmente devido à alta dos juros futuros, que refletem a expectativa de um leve aumento da inflação”.

“Além disso, os investidores estão buscando reduzir riscos, migrando parte dos recursos para a renda fixa”, afirmou Lage.

Na próxima semana, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reunirá para decidir a taxa básica de juros do país, a Selic.

Pesquisa da Reuters mostrou que a maioria dos economistas espera que o BC eleve a taxa em 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano.

Na quarta (30), o dólar fechou em alta firme de 0,78%, cotado a R$ 5,675, e a Bolsa ficou estável, em leve variação negativa de 0,01%, a 135.066 pontos.

No acumulado de abril, a moeda somou queda de 0,56%; o Ibovespa, alta de 3,7%. O dia foi embalado por dados econômicos, sobretudo os números do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos.

A economia norte-americana recuou 0,3% na base anual durante o primeiro trimestre, captando a resposta das empresas americanas à guerra comercial de Donald Trump.

A queda contrasta com o crescimento de 2,4% registrada no último semestre de 2024. Trata-se do maior recuo desde o primeiro trimestre de 2022.

A diminuição no PIB para o período era esperada por alguns analistas, mas foi pior do que algumas previsões. Economistas ouvidos pelo The Wall Street Journal, por exemplo, esperavam um crescimento de 0,4%.

A queda foi em grande parte resultado da corrida das empresas americanas para acumular estoques antes das amplas tarifas de Trump, com dados do Censo dos EUA na terça mostrando que o déficit comercial de mercadorias atingiu um recorde histórico em março.

Trump pediu paciência após os resultados e culpou seu antecessor, Joe Biden, pelo desempenho da economia.

Os EUA também divulgaram dados de emprego nesta quarta. O relatório ADP indicou que o setor privado abriu 62 mil postos de trabalho em abril, abaixo dos 147 mil criados em março e bem aquém das expectativas de 115 mil vagas de economistas consultados pela Reuters.

Os resultados fomentam a percepção de que a maior economia do mundo está se enfraquecendo, e as tarifas do governo Trump poderão acelerar o movimento.