SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve alta nesta quarta-feira (16), com investidores de olho nos próximos passos da política monetária dos Estados Unidos e repercutindo a entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Record, na noite de ontem.
Às 9h08, a moeda norte-americana subia 0,21% e estava cotada a R$ 5,440. Na terça-feira (16), fechou em queda de 0,31%, a R$ 5,428 na venda.
A quarta-feira reserva a divulgação do Livro Bege do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), um relatório sobre as condições da economia norte-americana.
O mercado aguarda por sinais de que a autarquia poderá iniciar o ciclo de cortes na taxa de juros dos EUA, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, nas próximas reuniões de política monetária.
Operadores passaram a precificar a possibilidade de três cortes neste ano, sendo o primeiro na reunião de setembro, seguido de cortes adicionais em novembro e dezembro. Eles apostam em 68 pontos-base de afrouxamento ainda em 2024, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
O otimismo segue a esteira de declarações recentes de Jerome Powell, presidente do Fed. Em evento no Clube Econômico de Washington, na segunda-feira, ele afirmou que as leituras de inflação do país dos últimos três meses “aumentaram um pouco a confiança” de que o ritmo de alta de preços está voltando para a meta de 2%.
“No segundo trimestre, na verdade, fizemos um pouco mais de progresso”, disse. “Tivemos três leituras melhores e, se fizermos a média delas, é uma posição muito boa.”
Quanto maior o afrouxamento na política monetária, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos Treasuries diminuem.
Na cena doméstica, os agentes financeiros digeriam as falas de Lula à Record. Trechos da entrevista chegaram ao conhecimento do mercado antes da divulgação pela emissora e geraram ruídos sobre a política fiscal do país.
O presidente afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se tiver “coisas mais importantes para fazer”.
Por outro lado, disse que a meta de déficit zero para este ano não está rejeitada e se comprometeu a fazer o necessário para cumprir arcabouço fiscal.
Lula ainda afirmou que precisa ser convencido de corte de gastos em 2024. As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda), por outro lado, afirmou que é possível que haja bloqueio e contigenciamento no Orçamento deste ano no relatório bimestral de receitas e despesas que será publicado na próxima segunda-feira (22).
“Passado os 2,5% [do teto de despesa do arcabouço], tem que haver contrapartida de bloqueio, e contingenciamento no caso de receita [abaixo do esperado]. Nós estamos com essa questão pendente, ainda, do cumprimento da decisão do STF sobre a compensação [da desoneração da folha de salários]”, disse.
Na próxima segunda, o governo terá de enviar ao Congresso o documento que aponta a necessidade de fazer ou não tanto um bloqueio para o cumprimento do teto de despesas do arcabouço fiscal quanto um contingenciamento para não estourar a regra da meta.
O relatório da próxima semana é visto como teste do compromisso da equipe econômica com a meta para as contas públicas e a busca do equilíbrio fiscal.
“O mercado está um pouco preocupado com a política fiscal, um tema que pressionou bastante os ativos domésticos em junho e que abaixou de temperatura no início de julho, mas que volta agora a colocar incertezas no radar dos investidores”, diz Jennie Li, estrategista de ações de Research da XP.
“O foco está na sustentabilidade do arcabouço fiscal e na perseguição da meta de resultado primário. Domesticamente, as perspectivas em relação à política econômica daqui para frente continuam muito relevantes.”
Em dia de volatilidade, a Bolsa se firmou no campo negativo com a repercussão das falas de Lula, ainda que em leve queda de 0,16%, a 129.110 pontos.
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