Ditadura força maior jornal da Nicarágua a sair de circulação

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O maior e mais importante jornal impresso da Nicarágua, La Prensa, anunciou nesta quinta-feira (12) que deixará de circular devido a um “sequestro de papel”, que vem sendo realizado pelo regime de Daniel Ortega. A empresa não tem conseguido retirar o material importado da aduana, onde está retido há mais de seis meses.

A publicação afirma ser vítima de perseguição política devido a seu posicionamento crítico à ditadura. Além de não conseguir acessar o papel, o diário La Prensa teve jornalistas ameaçados e presos, e seus anunciantes foram pressionados a deixar de financiá-lo.

O jornal afirmou que vinha apelando à Justiça para ter direito a receber a matéria-prima, mas que jamais recebeu resposta. A partir de amanhã, o veículo terá apenas sua versão digital.

Fundado em 1926, La Prensa esteve alinhado com o movimento sandinista contra o regime de Anastasio Somoza, em 1979. Uma de suas figuras mais importantes foi Pedro Joaquín Chamorro, seu presidente, assassinado em 1978 pela repressão somozista. Ele era marido de Violeta Chamorro, que viria a liderar o país em 1990, e pai do jornalista Carlos Fernando Chamorro e da pré-candidata Cristiana Chamorro, que foi processada pelo regime e está impedida de concorrer a eleição, em novembro.

A saída de circulação do jornal é mais um ataque do regime à liberdade de expressão. Outros avanços vêm sendo realizados contra os meios de comunicação, especialmente depois dos protestos de 2018, em que Ortega reforçou a repressão no país. A ditadura já prendeu empresários do canal 100% Notícias, as sedes do jornal digital El Confidencial foram invadidas e roubadas. Há dezenas de jornalistas vivendo no exílio.

Com o fim da versão impressa do La Prensa, já não há mais edições de jornais de grande porte circulando no país. Outro veículo importante que sofreu pressão política e econômica foi El Nuevo Diario, que fechou em 2019.

A situação no país centro-americano se complica com a escalada autoritária de Ortega a poucos meses das eleições de 7 de novembro. Além dos avanços contra a imprensa, o ditador também mandou prender mais de 30 líderes opositores, com acusações de traição à pátria e lavagem de dinheiro. Entre estes líderes estão sete pré-candidatos à Presidência.

Ortega está no poder desde 2006 -após uma primeira passagem como mandatário entre 1985 e 1990. Em seu mandato, conseguiu aprovar a reeleição indefinida e busca eliminar candidatos para permanecer à frente do regime.

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