Diane Lane defende socialite que peita Truman Capote em série

(FOLHAPRESS) – Indicada ao Oscar por “Infidelidade” (2002), Diane Lane, 59, tem alguma experiência com personagens que são vítimas ou agentes de uma traição. Mesmo assim, a atriz não tem resposta pronta sobre o assunto.

Perguntada se é pior sofrer a deslealdade de um amigo ou de um amor, ela reflete: “Eu acho que você não pode ser machucada mais do que você amou, certo? Então depende do quanto você ama seu amigo ou do quanto você amou a pessoa com que estava envolvida”.

A dúvida tem relação com “Feud: Capote vs. The Swans”, cuja temporada completa foi disponibilizada na semana passada no serviço de streaming Star+. Na trama, ela interpreta a elegante e estoica socialite Slim Keith, que tenta alijar de seu círculo social o autor Truman Capote (vivido por Tom Hollander).

Até então seu amigo, o autor cai em desgraça após publicar um conto na revista Esquire com indiscrições sobre boa parte da alta sociedade de Nova York -inclusive sobre Slim e suas amigas mais íntimas, Babe (Naomi Watts), CZ Guest (Chloë Sevigny) e Lee Radziwill (Calista Flockhart). Capote chamava o grupo de “Swans” (cisnes), apelido ao qual o título da série faz referência.

“Havia tanta confiança e intimidade entre Truman e essas mulheres que traí-las da forma que ele fez foi quase como um genocídio”, compara. “Ele não foi atrás de uma pessoa só, ele as uniu e era quase como se estivesse querendo acabar com toda uma rama da sociedade, que ainda estava muito protegida naquela época.”

Nascida e criada em Nova York, Diane diz que lembra bem da confusão que o texto -um capítulo de um livro que ele jamais concluiria- causou na época. “Eu me recordo de vê-lo em entrevistas se defendendo”, conta a atriz. “Foi uma grande controvérsia. Por que alguém faria isso a si mesmo? Quero dizer, por que trair seus amigos assim? E também acho que foi chocante o quão mesquinho era [o texto]. Era meio maligno. Então, acho que para todo mundo foi um pouco… como se ele deixasse cair a máscara.”

Slim parece ser a personagem que fica com mais raiva da publicação. Além de não voltar a falar com o escritor, ela passa a tentar prejudicá-lo, como ao plantar notas em colunas sociais contra ele. Para a intérprete, a mágoa se explica pelo fato de a socialite ter sido descrita como fofoqueira.

“No texto, ela era a porta-voz de todas essas coisas terríveis que Truman escreveu, ou ao menos da maioria delas, então ela se sentiu excepcionalmente traída”, avalia. “Se você for ver, ele não disse coisas tão más sobre ela, mas a pintou como se fosse a pessoa que diz coisas más sobre as outras pessoas. Foi por isso que ela ficou tão indignada.”

Apesar de tudo, Diane acha que Slim Keith era uma mulher moderna e, de certa forma, feminista para a época e o contexto em que estava inserida. Ela se divorciou três vezes entre as décadas de 1940 e 1970 e não parecia ligar muito para o que os outros pensavam quanto a seus amores e desejos.

“O mundo era muito diferente então”, lembra a atriz. “Houve muitas mudanças na sociedade e para as mulheres em particular. Essa implicação de que todas tinham que ser casadas, por exemplo. Ela era uma grande apoiadora dos homens com quem se casou. Estava muito envolvida em suas vidas e em ajudar suas carreiras. Até o Truman ela ajudou bastante.”

A socialite também trabalhou como modelo e apareceu na capa da Harper’s Bazaar, mesma revista que anos depois a colocaria por anos a fio em sua tradicional lista de mulheres mais bem-vestidas. “Ela conhecia pessoas interessantes e estava sempre no lugar certo, na hora certa”, explica Diane. “A história dela tem um fluxo interessante. Ela elevou seu status social durante a vida.”

“Slim tinha muito autoconhecimento, o que fazia os outros se sentirem confortáveis ao seu redor. E isso não era muito comum na época. Então, ela conseguia se relacionar com pessoas de estatura social mais elevada que a dela e progrediu na vida até se casar com o mais próximo que podia da realeza britânica”, diz, lembrando que Slim chegou a ter o título de Lady Keith de Castleacre.

Sobre o elenco estrelado, que conta ainda com nomes como Demi Moore e Molly Ringwald, a atriz comemora que cada uma teve seu momento de brilhar e exalta o trabalho do roteirista Jon Robin Baitz. “São personagens distintas e todas elas tinham as próprias histórias”, comenta. “Estou feliz de termos tido tantos episódios para contar as várias perspectivas e experimentar os diferentes pontos de vista. Isso fez o almoço ser mais completo.”

Ela destaca ainda o trabalho da colega Jessica Lange, que encarna Lillie Mae Faulk, a mãe morta que aparece nos delírios de Truman Capote. “Achei que ela foi extraordinária porque consegue mostrar essa ferida que acho que todos nós temos de alguma forma -alguns mais e outros menos- com as nossas mães”, afirma. “Nós vemos como ele passa por um evento traumático na infância, fruto de uma escolha ruim que a mãe fez, e é uma dinâmica muito interessante que nunca vai realmente embora.”

Para Diane, no entanto, uma das coisas mais interessantes da série é tentar entender por que o escritor fez o que fez. “Há muito a se descobrir ali em termos de todas as motivações diferentes que ele poderia ter tido, todas as sensações que ele não conseguiu expressar e até se aquela amizade era mesmo tão recíproca… Talvez ele não fosse capaz de compartilhar seu lado tanto quanto queria.”

E também acredita que todo o mistério em torno do livro nunca finalizado de um dos autores mais conhecidos da literatura mundial seja um dos apelos da trama. “O fato de que o livro nunca foi encontrado deixa todo mundo curioso… Está escondido em algum lugar? Ele destruiu? Ele nunca escreveu? Alguém o roubou? Tudo é possível.”

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