Desafios do envelhecimento no Brasil: saúde mental em foco

Que os brasileiros estão vivendo mais é um fato, mas será que também estão vivendo melhor? Enquanto as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o número de idosos irá ultrapassar o total de crianças de 0 a 14 anos até 2030, um estudo feito por pesquisadores da Escola de Enfermagem (EE) da USP revela que a maior taxa de suicídio do país também está entre a população mais velha, que costuma usar meios mais letais do que os jovens em suas tentativas. No Brasil, a média de casos é de 7,8 a cada 100 mil, 47% mais que os 5,3/100 mil entre a população geral.

Para Izabelly Miranda, enfermeira e CEO da Cuidare, uma rede de franquias de cuidadores de pessoas, o processo de envelhecimento pode afetar a saúde mental de muitas maneiras: “distúrbios mentais em idosos podem ocorrer devido a inúmeros fatores psicossociais, pois com o passar dos anos são vivenciadas perdas significativas caracterizadas pelo declínio da saúde, redução da capacidade cognitiva, perda da autonomia, perda de papeis sociais, viuvez, morte de entes queridos, isolamento social, restrições financeiras devido à aposentadoria, entre outras. Estas perdas trazem prejuízo à autoestima e, na maioria das vezes, culminam em crise.”, comenta.

Demência, estados depressivos e ansiedade são as doenças que mais afetam a saúde mental de pessoas idosas. Segundo Izabelly, há ainda o risco de problemas psicológicos afetarem na saúde física, principalmente neste momento da vida. “A depressão, por exemplo, é apontada como um fator de risco para o prognóstico ruim de doenças crônicas, que afetam a capacidade funcional e a qualidade de vida. O contrário também acontece: a presença de uma doença física pode contribuir para o agravamento da depressão, por meio direto da função cerebral, ou meios psicológicos e psicossociais. Assim, tanto a depressão antecipa doenças crônicas, quanto essas patologias acentuam sintomas depressivos”, explica.

Entre os sinais de alerta estão alterações no apetite e no sono, perda de prazer nas atividades habituais, ruminações sobre o passado, perda de energia, fadiga crônica, dores inexplicáveis, problemas gastrointestinais recorrentes e baixa imunidade. A enfermeira alerta para a importância de buscar avaliação médica para identificar e tratar possíveis causas subjacentes. E claro, prevenir é sempre mais simples do que tratar, portanto, com o passar dos anos, se torna essencial incluir uma alimentação saudável na rotina, além de exercícios físicos regulares e atividades de estimulação mental. Outro fator importante para a manutenção da saúde é manter conexões sociais, buscar apoio emocional e cultivar projetos de vida.

Uma discussão que tomou as redes nos últimos anos é a defesa do direito ao envelhecimento. O termo “etarismo” passou a ser usado para denunciar preconceitos contra a população mais velha. Chegar ao fim da vida já traz seus desafios por si só e ter que lidar com uma cultura que condena este processo, ainda que ele seja natural e inescapável, torna tudo mais difícil. Frequentemente pessoas idosas são julgadas como ranzinzas, teimosas, caducas e obsoletas. Izabelly Miranda comenta que esses estigmas podem afetar negativamente a saúde mental dos idosos, criando estereótipos negativos que impactam na autoestima e levam a sentimentos de isolamento e solidão. “É urgente promover uma visão mais positiva do envelhecimento. Enquanto avançamos nesta discussão, é importante que os vínculos familiares se fortaleçam, que cada um respeite suas individualidades e estejam abertos às adaptações do processo de envelhecer”, conclui a enfermeira e CEO da Cuidare.