MATEUS VARGAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Distrito Federal é a unidade da federação com a maior taxa de incidência de dengue e número de mortes pela doença no Brasil.
A região tem 2.938 casos prováveis por 100 mil habitantes, além de 35 mortes confirmadas, segundo dados do Ministério da Saúde. O governo local, porém, contabiliza 38 mortes e afirma que outras 72 estão em investigação.
No total, o país soma 762.542 casos prováveis e 150 mortes, segundo atualização do Painel de Monitoramento das Arboviroses desta sexta-feira (23). A pasta estima atingir 4,2 milhões de casos em 2024, no pior cenário para a doença, mas diz que ainda é incerto o período em que o Brasil atingirá o pico da circulação da dengue.
No início de fevereiro, a Força Aérea Brasileira montou um hospital de campanha no DF para fazer frente à crise sanitária. O órgão afirma que realizou mais de 20 mil procedimentos no local, como atendimentos médicos, exames e transferência de pacientes para tratamento em hospitais.
Ao visitar o local em que as tendas foram instaladas no início de fevereiro, a reportagem presenciou pessoas que buscavam atendimento desmaiadas e em cadeiras de rodas, além de paciente com máscara de oxigênio sendo transferida para ambulância do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O governo Ibaneis Rocha (MDB) diz que “busca alternativas” para ampliar o atendimento. UBSs (Unidades Básicas de Saúde) começaram a receber pacientes no período da noite e hospitais aumentaram o número de leitos de observação e UTI (Unidade de Terapia Intensiva), afirma, em nota, o governo distrital.
O DF também autorizou a instalação de novas tendas para atendimento e hidratação de pacientes. Na quinta-feira (22), o governador da capital federal disse que hospitais públicos e privados estão em colapso, segundo publicação do Correio Braziliense. Procurados nesta sexta, Ibaneis e o governo do DF não se manifestaram sobre a declaração.
O Paraná é a segunda unidade administrativa do país com mais mortes confirmadas pela dengue (26), conforme dados da Saúde. Já Minas Gerais tem a segunda maior incidência da doença, com 1.309 casos prováveis por 100 mil habitantes.
Sete unidades da federação já decretaram estado de emergência em decorrência da alta taxa de transmissão da doença.
“O que nós estamos vivendo agora é um fenômeno atípico em relação à dengue, porque não é comum a gente ter três anos seguidos de números de casos nessa magnitude”, disse Alda Maria da Cruz, diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.
“Nós não sabemos ainda se o que nós estamos vivendo agora é uma antecipação da curva [de casos] e, portanto, também uma antecipação do período de decréscimo dos casos ou se nós teremos realmente uma magnitude de casos que pode e que está estimado para ser a maior da história do país e das Américas”, afirmou.
A diretora disse que a alta no número de registros é uma realidade nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. “No Norte e Nordeste ainda não estamos nesse cenário. Na Bahia, nós começamos a ter um aumento de números de casos, já houve uma mobilização.”
O ministério autorizou repasse de até R$ 1,5 bilhão para estados e municípios ampliarem o atendimento para pacientes com a doença.
“A pasta também reforçou as ações de prevenção e controle da dengue, assim como a regularização dos estoques de inseticida, treinamento e formação dos profissionais de saúde e dos agentes de combate às endemias em todo país”, declarou a Saúde, em nota.
A pasta também comprou 5,2 milhões de doses da vacina contra a dengue. Os imunizantes começaram a ser entregues este mês aos municípios, que estão iniciando as campanhas de vacinação. Crianças e adolescentes de 10 a 14 anos são o público-alvo inicial.
A diretora do ministério afirma que as crianças têm apresentado quadros de dengue mais graves do que o normal. “Estamos analisando se existe alguma particularidade na sequência genética desse vírus que o torne mais virulento para esta idade”, disse Cruz.
“Outra preocupação que temos tido é com a circulação de outros vírus. Estamos com alta de casos da Covid, com possibilidade de associação de infecção com a dengue. Ainda temos preocupação com chikungunya”, afirmou.
No começo de fevereiro, a ministra Nísia Trindade disse, em pronunciamento nacional, que a situação de emergência exige mobilização que inclui estados e municípios. “Várias cidades brasileiras estão enfrentando situação de emergência devido ao grande aumento dos casos de dengue”, afirmou. “Este é o momento de intensificar os cuidados e a prevenção. Agora é hora de todo o Brasil se unir contra a dengue.”
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