A história de Júlio César reforça uma sabedoria do campo: quem planta, colhe! O rapaz, nascido e criado na comunidade rural de Campestre, em Caradaí (MG), começou a vida trabalhando na roça para ajudar no sustento da família. Mas com o tempo, plantou semente nos estudos, virou bancário e hoje é doutor em Economia.
“Sonhava grande e minha mãe achava impossível um filho de gente pobre fazer as coisas que eu desejava”, relembra. Com 16 anos, ele já tinha trabalhado nas terras de todos os grandes fazendeiros das redondezas. Foi quando o seu pai arrendou um pedaço de terra para plantar feijão. “Sob sol forte, passávamos os dias naquele cantinho”, conta.
O sonho de arar outros caminhos seria inspirado em uma conhecida, que se tornara secretária do prefeito da cidade. “Foi a primeira pessoa próxima a mim que vi ficar tão perto de alguém com tanto poder. E ela era negra e de uma origem tão humilde quanto a minha”, disse.
Estava decidido! Júlio queria estudar para cultivar seu futuro. Começou se dedicando na escola pública. “As sementes ali plantadas subsistiram na minha mente. A escola primária é, de fato, um divisor de águas em nossos caminhos e bons professores nos inspiram para toda a vida”, avalia.
Professores pagaram taxa de inscrição no vestibular
Júlio ainda precisou superar problemas familiares, como o alcoolismo do pai e a extrema pobreza para poder se dedicar aos estudos. O sonho de passar na faculdade parecia estar a léguas de distância, mas a vontade de trocar a enxada pela caneta era maior.
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A taxa de inscrição do primeiro vestibular foi paga por seus professores, que vão muito além de docentes. “O apoio dos professores é um determinante para se derrubar as barreiras que nos aprisionam aos ciclos de pobreza“, disse Júlio.
Nesta mesa época, o jovem começou a estagiar como menor-aprendiz na Caixa Econômica Federal e, logo depois, passou no vestibular para Economia na Universidade Federal de São João Del Rey.
O agricultor que virou doutor
Na nova cidade, Júlio César recebeu ajuda de muitas pessoas, inclusive, moradia de graça. No último ano da graduação, seria aprovado para o concurso do Banco do Brasil. Logo já atuava na Gerência de Assessoramento Econômico do Banco do Brasil (Gease), da Diretoria Geral do BB, em Brasília. “Um novo mundo se descortinou”, disse.
Lá, ele conseguiu fazer mestrado e doutorado na Universidade Católica de Brasília, custeados pela Universidade Corporativa Banco do Brasil. Até a Universidade de Liverpool, na Inglaterra, Júlio frequentou.
O trabalhador rural tornava-se oficialmente um doutor em Economia. “Sim, a vida mudou e eu mudei, mas dentro de mim bate o mesmo coração do menino sonhador do Campestre. Seguimos adiante”, finalizou.
“É incrível como o tempo é capaz de nos transformar. No meu caso, duas décadas, num processo de constante movimento, foram suficientes para sair de um ambiente de pobreza quase que extrema para a iminente conquista do título de doutor. Doutor com doutorado! Mas esse feito não é mérito somente meu”, declarou.
Pais de Júlio se inspiraram nele e voltaram à escola; irmãs entraram na faculdade
Além de aprender muito em todo este processo, Júlio também ensinou. Tanto que, enquanto cursava o doutorado, seus pais, José e Elza, voltaram à escola, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), e concluíram o Ensino Médio. Já as irmãs, Luciana e Angelita, casadas e com filhos, ingressaram na faculdade e se formaram.
“Quanta inspiração e motivação tive ao ver o empenho, dedicação e superação dessas quatro pessoas. Lembro do meu pai fazendo exercícios para desenvolver movimentos finos naquelas mãos calejadas que tiveram como caneta a enxada, a foice e o martelo”, disse emocionado.
Assim como aconteceu com ele e com sua família, Júlio quer que mais pessoas tenham acesso à transformação social provocada pela educação. A sua pesquisa científica é sobre crédito subsidiado como instrumento de política pública para a geração de emprego e renda, indicadores sociais que sintetizam a inclusão e a emancipação social.
“Existem milhões como eu, certamente mais inteligentes e com potencial mais elevado, espalhados nas periferias das grandes cidades ou nos rincões do país que não tiveram a mesma sorte por falta de políticas públicas comprometidas com a transformação social efetiva”, finalizou.
Vá em frente, Júlio!
A história de Júlio nos faz lembrar do caso de Marcinho, que quase largou a escola e que agora vai estudar Medicina em Harvard. Leia aqui a matéria e inspire-se neste outro lindo roteiro!
EDUCAÇÃO – Razões para Acreditar