De carroceiro e ambulante à socorrista do SAMU (RS)

Aos 12 anos de idade, Felipe Staczak saía de casa praticamente todos os dias às 4 horas da manhã, em plena madrugada. Mas não era para ir à escola: ele partia do bairro Estância Velha, em Canoas (RS), para o Ceasa, na zona de Porto Alegre, para trabalhar.

Antes mesmo dos meninos da sua idade acordarem para se arrumar e ir para o colégio, Felipe já estava no centro de distribuição vendendo verduras, frutas e legumes.

Todo o caminho para buscar os produtos, desde Canoas até a capital gaúcha era feito com o único veículo que tinha disponível na época, uma carroça – tudo para ajudar no sustento de sua família.

“Quando chovia, eu me cobria com uma lona. Eu era um piá (um menino), passava frio, pensei muitas vezes em desistir”, relembrou Felipe ao portal Gaúcha ZH.

Crédito: Agência RBS.

“Pé de meia”

A rotina se manteve por quase dois anos, até ele fazer uma proposta à mãe: dali em diante, ela ficava com 70% dos ganhos para ajudar a pagar a comida e as despesas de casa, enquanto ele ficava com o restante.

Felipe não gastava nada: todo mês, sua parte era depositada dentro de uma meia que ficava em seu guarda-roupa. E assim foi até ele comprar uma pequena churrasqueira de lata, quando começou a vender espetinhos na região metropolitana de Porto Alegre.

“O mais difícil era a vontade de comer a carne. Aquele cheiro e eu com fome. Minha mãe então tirava o couro que não era assado e dava pra mim”, recordou ele, com a voz embargada.

Na adolescência, além de vender os espetinhos, Felipe voltou a estudar. Imagina o baque quando ele descobriu que sua mãe foi diagnosticada com câncer… 😔

Como seus dois irmãos também trabalhavam e passavam o dia fora, o rapaz precisava se desdobrar para cuidar dela. Foi nesse meio-tempo que Felipe descobriu a importância das pessoas que dedicam a vida para cuidar do próximo.

Nascia ali o sonho de se tornar um profissional de saúde. Anos depois, ele resolveu investir o suado dinheirinho guardado na meia e começou um curso técnico de enfermagem.

“Foi tudo pela minha mãe”, resumiu Felipe, que assim como seus irmãos, jamais puderam contar com o auxílio do pai, que os abandonou muito cedo.

De carroceiro e ambulante à socorrista do SAMU

Desde que retomou os estudos, Felipe não parou mais: concluiu o técnico, passou e se diplomou na faculdade de Enfermagem e fez 2 cursos de especialização na área.

Em 2022, completou 13 anos como socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, em Canoas.

“Sou um profissional extremamente feliz. Faço parte de um time que ama o que faz, faça chuva, faça sol, estamos atendendo com um sorriso no rosto”, afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha no mesmo dia em que encerrou um plantão de 12 horas.

Crédito: Agência RBS.

O tempo passou voando para Felipe: hoje, aos 32 anos, já é casado, tem 2 filhos e, além do trabalho no Samu, também dá palestras onde conta sua história de vida e experiência na área de saúde.

Segundo ele, seu objetivo é incentivar os jovens a jamais abandonarem os estudos, por maiores que sejam os obstáculos ao longo do caminho.

Crédito: Agência RBS.

Reconhecimento dos colegas

Ao contrário de muita gente que, mudando de vida, se esquece da antiga realidade e das pessoas que conheciam, Felipe mantém até hoje contato com a periferia onde vivia.

Ocasionalmente, ele doa os brinquedos que não são mais usados pelos filhos, além de distribuir roupas e absorventes às meninas em situação de vulnerabilidade de Canoas.

“É recompensador ver como o Felipe tá hoje. Conheci quando ele começou aqui, estudando e trabalhando. Merece muito!”, elogiou o também socorrista Márcio da Rosa Marins, 43 anos.

“Passamos esse tempo todo juntos, o nosso trabalho é feito com amor, não tem outra palavra”, completou outro colega do Samu, Humberto Júlio de Figueiredo, 38.

Já a Dona Maria, que sentia tanto pelo filho caçula sair de carroça, em plena madrugada, para trabalhar, se recuperou do câncer e acompanha com orgulho o enfermeiro na nova vida conquistada! 😭❤️

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Fonte: Alex Radio

EDUCAÇÃO – Razões para Acreditar