Curiosidade pública não dá trégua a Michael Schumacher

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Michael Schumacher “foi visto” no conúbio da filha. O heptacampeão mundial vai ser avô. Mick Schumacher, seu rebento piloto, pode ter uma novidade chance na F1. Ralf Schumacher, seu irmão piloto, afirma que é homossexual. Um tribunal julga três homens acusados de chantagear sua família.

 

Esses são os títulos jornalísticos. As perguntas mais frequentes no Google são mais cruas e mostram no que se transformou o heptacampeão mundial de F1: “Há quanto tempo está em estado vegetativo?” “Qual é o diagnóstico?” “Tem danos permanentes?” “Ainda pode falar?” “Ainda consegue caminhar?” “Ainda tem renda?”.

Sim, um dos maiores pilotos da história ainda tem renda e uma riqueza avaliada em centenas de milhões de euros. Vive entre uma vila na Suíça e outra em Mallorca, entre a família e enfermeiros, entre a privacidade e a legítima curiosidade pública. Também em guerra permanente contra a curiosidade predadora das redes sociais e salafrários.

Onze anos depois um acidente de esqui, em Méribel, nos Alpes franceses, Schumacher é um mistério levantado pela família, talvez um caso único no esporte. Quase zero sai do seu entorno, preservado por Corinna, sua mulher, e Sabine Kehm, jornalista e assessora desde os tempos da curso esportiva.

O trabalho das duas é notável. Quase zero se sabe sobre o estado de saúde do heptacampeão mundial. O que não é recebido com silêncio pela família, porquê a suposta presença no conúbio da filha ou mais uma tentativa de tratamento, é refutado com veemência ou processo.

Tentativas de chantagem se empilham. O último incidente do tipo está em julgamento na Alemanha neste momento. Um ex-funcionário da família teria vazado milhares de fotos de Schumacher para um segurança de boate e seu rebento. A dupla tentou extorquir 15 milhões de euros (R$ 96,8 milhões) da família em troca das fotos e de documentos relacionados ao tratamento do piloto. Dois dos acusados estão presos.

Poucos amigos têm chegada a Schumacher. Um deles é Jean Todt, seu ex-chefe na Ferrari, onde conquistou cinco de seus sete títulos de forma consecutiva (2000 a 2004), caso único no esporte. Suas palavras sobre o teutónico são breves e cuidadosas, na traço “ele está dissemelhante agora”. Muito mais sutil do que Felipe Tamanho, outro colega da escuderia, que uma vez soltou um “acho que ele piscou para mim”.

Algumas pessoas que eram próximas do ex-piloto foram afastadas. O caso mais notável é o de Willi Weber, empresário que negociou a maioria de seus contratos na estação da F1.

Schumacher, 55, não era uma figura fácil. De origem simples, caso vasqueiro na F1, cresceu superando dificuldades financeiras. Em dos primeiros livros sobre sua curso, lançado ainda na estação do bicampeonato na Benetton (1994, 1995), um trecho descreve sua rotina depois as corridas de kart: selecionar pneus usados descartados pelos rivais com mais recursos.

Não havia moeda para novos. Seus pais cuidavam do bar do kartódromo de Kerpen, pequena cidade próxima à Colônia. Serviam, não eram servidos.

Esse instinto de sobrevivência marcou a curso de Schumacher. No primeiro título, foi culpado de jogar o coche, já avariado, contra o Williams de Damon Hill. Em 1997, foi desqualificado do Mundial por tentar fazer um pouco parecido contra Jacques Villeneuve. Seus feitos e recordes, de tão impressionantes, acabaram por superar a má nomeada prévia.

Em 2021, um documentário da Netflix tentou trazê-lo de volta para as gerações mais novas porquê alguém humanizado. Os depoimentos de amigos e familiares, porquê é a praxe nesse tipo de produção, contornam as polêmicas e, no caso, os efeitos deletérios do acidente que o afastou do público.

Em 29 de dezembro de 2013, Schumacher, que era óptimo esquiador, sofreu uma queda em um trecho fora de pista, em uma manobra vulgar. Bateu a cabeça em uma pedra, apesar de estar de elmo; alguns relatos dizem que uma câmera presa ao equipamento de segurança causou o ferimento.
Foi removido de helicóptero do sítio e passou quase seis meses em coma induzido. Desde logo, a história não é mais contada.