ANA POMPEU
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Rancho) afirmou que vê o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por trás da crise em torno da medida da Receita Federalista que ampliaria a fiscalização sobre transações via Pix. De conciliação com ele, a família Bolsonaro é pessoalmente focada na Receita Federalista em decorrências de investigações feitas sobre o clã.
“Tenho para mim que o Bolsonaro está um pouco por trás disso, porque o PL financiou o vídeo do Nikolas. O Duda Lima foi quem fez o vídeo”, disse, em referência ao deputado federalista Nikolas Ferreira (PL-MG) e ao marqueteiro que fez a campanha à reeleição de Bolsonaro.
Na terça (14), o parlamentar fez a publicação na qual afirma que o governo “só está pensando em recepcionar, sem oferecer zero” e fala em “quebra de sigilo mascarado de transparência”. O post ultrapassou 300 milhões de visualizações.
O vídeo foi o torcida para o recuo do governo no caso. Embora Haddad tenha defendido o préstimo da medida até a manhã de quarta (15), quando teve a primeira reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pesou o argumento de que uma campanha publicitária já não seria mais suficiente para paralisar a vaga críticas à medida, fake news e a prática de crimes contra a economia popular, com emprego de golpes.
A enunciação de Haddad foi dada nesta sexta-feira (17) em entrevista à CNN Brasil. “E Bolsonaro tem uma bronca com a Receita Federalista por razões conhecidas. Eles têm um problema com a Receita. Eles não escolheram por outra razão. Eles ficaram com lupa ali nos atos burocráticos da Receita”, disse.
De conciliação com o ministro, a razão é a atuação da Receita que gerou o caso da negociação de joias não declaradas, do uso de recursos em espécie por ele e seus familiares na compra de imóveis e da suspeita de “rachadinha” do atual senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Câmara Legislativa do Rio de Janeiro.
No início da semana, antes do recuo do governo, Bolsonaro afirmou que estava mobilizando a bancada de seu partido no Congresso Vernáculo para derrubar a medida. “Junto à nossa bancada de deputados e senadores do PL, e de outros partidos, buscaremos medidas para derrubar essa desumana Instrução Normativa da Receita de Lula da Silva”, disse em post no X (ex-Twitter). Ele já havia retuitado posts críticos à medida na semana passada.
Na quarta (15), o governo, em proclamação feito do Palácio do Planalto por Haddad, Jorge Messias (AGU) e Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federalista, revogou a instrução normativa com as regras. Na quinta (16), foi publicada uma medida provisória (MP) para reafirmar que não haverá taxa em pagamentos por Pix.
Segundo relatos obtidos pela reportagem, o presidente Lula se irritou com a meio da crise Pix e acabou concordando com a decisão de revogar a norma.
Dentro e fora do Palácio do Planalto, a avaliação é a de que o governo sofreu uma rota para a oposição, depois uma sucessão de erros no debate sobre a fiscalização do Pix.
O ministro da Rancho afirmou também que se preocupa com a piora na trajetória da dívida pública. Na resposta, o patrão da Rancho disse que projeções anteriores sobre o desenvolvimento do país foram mais pessimistas que o conseguido e citou gastos extraordinários, uma vez que no caso do socorro ao Rio Grande do Sul depois das enchentes que assolaram o estado desde o termo de abril.
“Isso é uma preocupação do Ministério da Rancho. Mas tenho que fazer também algumas considerações. Nós crescemos quase 7% em dois anos contra uma projeção de 2%”, disse.
“O déficit do ano pretérito foi 0,1% e estava projetado em 0,8% no primórdio do ano, antes do Rio Grande do Sul. E não íamos faltar ao RS e ninguém contestou. O estado estava embaixo d’chuva. Investimos no RS em torno de R$ 40 bilhões de gasto primitivo, fora o financiamento subsidiário, que foi o duplo disso”, afirmou.
Uma vez que a Folha de S.Paulo mostrou, a questão acendeu o alerta dentro da equipe econômica para a premência de tentar virar expectativas negativas, embora as resistências políticas a medidas adicionais de revisão de gastos ou aumento de receitas sejam um tropeço ao governo.
Nesta sexta, ainda, o dólar encerrou cotado a R$ 6,06. O ministro foi perguntado se a moeda volta a se estabilizar inferior de R$ 6. Ele não respondeu diretamente à questão, mas afirmou que “qualquer coisa supra de R$ 5,70 é caso”.
“O câmbio não é fixo no Brasil. O patamar em que o dólar se estabiliza é um patamar que depende de fatores que não controlamos, uma vez que geopolítica e o lucro extrínseco. Eu não compraria a R$ 6. Hoje, eu não compraria supra de R$ 5,70”, disse.
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