PAULO EDUARDO DIAS E DANILO VERPA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Início da tarde de terça-feira (25) na cracolândia, centro de São Paulo. Em meio a centenas de usuários de drogas e sem-teto, agentes de saúde buscam oito pessoas com suspeita de tuberculose -o número foi confirmado por um dos profissionais de saúde à reportagem, que testemunhou a ação.
Dados da Secretaria Municipal da Saúde indicam que, somente em maio, foram 45 notificações de tuberculose em moradores de rua que vivem na região central, o número mais do ano. No total, são 169 casos registrados na região central nos primeiros cinco meses de 2024, contra 127 no mesmo período de 2023.
Os casos do mês passado estão em investigação, de acordo com a pasta. “O banco de dados referente a tuberculose é concluído sempre ao fim do mês, existindo um período de tempo entre a coleta de exame, diagnóstico e notificação dos casos”, explicou a gestão Ricardo Nunes (MDB).
A doença é de fácil transmissão e em um local sem as mínimas condições de salubridade se torna ainda mais perigoso. A tuberculose pode matar, segundo o infectologista e sanitarista Bruno Ishigami, sendo a principal causa de mortalidade em pessoas vivendo com HIV.
Diante da situação na cracolândia, um GCM chegou a alertar a reportagem sobre a necessidade do uso de máscara para permanecer no local. Por ter contato direto com usuários e seus objetos, como mantas, caixotes e sacos de reciclagem, os guardas utilizam o equipamento, além de luvas.
Há cerca de duas semanas o SindGuardas (sindicato dos guardas-civis) encaminhou um ofício à gestão Nunes informando sobre o adoecimento de 11 agentes que atuam na cracolândia desde fevereiro de 2020. O documento menciona doenças respiratórias, entre elas tuberculose.
A prefeitura disse que apesar da alta, não há surto de tuberculose no centro. “A busca ativa por sintomáticos respiratórios é um procedimento rotineiro realizado por todos os serviços de saúde nas mais diversas populações, sendo mais intensivo nos grupos de risco para a doença, que inclui a população em situação de rua”, disse por meio de nota.
Sobre a busca a possíveis doentes na cracolândia, a pasta disse que essa é uma ação de rotina e parte do programa Redenção, que monitora os usuários da região central.
A gestão Nunes citou como outros exemplos exames e vacinação feitos durante a Operação Baixas Temperaturas, além de outros atendimentos à população de rua.
Ishigami disse que os usuários de droga são uma população chave no enfrentamento à tuberculose devido às condições em que vivem.
“A tuberculose é de fácil transmissão. O indivíduo com tuberculose pulmonar ‘espalha’ bacilo de tuberculose no ambiente ao tossir, então precisa de um tempo de contato com a pessoa vivendo com TB. Acaba que cracolândia e presídio são ambientes oportunos para a tuberculose”.
Ele disse que o número de 45 pessoas possivelmente infectadas na região central é alto, e que elas precisam ser acompanhadas. “O isolamento social é recomendado nos primeiros 15 dias de tratamento. É o tempo necessário para que o remédio diminua a quantidade de bactéria no corpo da pessoa”, acrescentou.
Ishigami disse ser importante que as pessoas que mantiveram contato com o infectado também tenham a saúde investigada.
O infectologista ressaltou não ser correto o uso do termo surto para se referir a doença. “No caso da tuberculose a gente não falaria em surto nesse contexto.
A tuberculose é endêmica aqui no Brasil. Ela está sempre presente, e na cracolândia é esperado um grande quantitativo de casos”.
Doutor em infectologia pela USP Helio Bacha disse que o aumento dos casos indica que o monitoramento está funcionando. “Quando você tem um serviço de tuberculose que funciona, você tem um a aumento de casos, especialmente na população vulnerável”.
A Secretaria Municipal da Saúde disse “que o número de casos notificados de tuberculose neste ano reflete uma tendência nacional e pode estar ligada ao aumento da procura dos doentes por atendimento após o fim da pandemia da Covid-19, em meados de maio de 2023, bem como a intensificação das ações de busca ativa dos profissionais de saúde da rede municipal”.