Covid-19: Chile tem repique de casos e coloca novas regiões em quarentena

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Chile tem chamado a atenção nas últimas semanas para o ritmo acelerado na aplicação de doses da vacina contra a Covid-19. No dia 8 de março, o país sul-americano ultrapassou Israel, líder mundial no total de imunizados em relação à sua população, no percentual de injeções administradas por dia –a média neste domingo (14) foi de 1,46 doses a cada 100 pessoas, contra 1,02.

O bom desempenho na imunização, no entanto, foi ofuscado por uma alta vertiginosa de casos desde o fim de fevereiro. Entre o dia 21 daquele mês e o último domingo (14), a média móvel de novos casos saltou 51,9%. Desde o dia 5 de março, esse número tem ficado acima dos 4.000 diários, chegando a 5.046 neste domingo, segundo dados do Our World in Data.

A ocupação das UTIs também preocupa. De acordo com o iCovid Chile, iniciativa da Universidad de Chile, da Pontificia Universidad Católica de Chile e da Universidad de Concepción que compila números da pandemia no país, o uso desses leitos estava no nível vermelho no dia 9 de março, com ocupação de 94%.

A situação fez com que o governo apertasse as restrições de circulação. Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (15), o Ministério da Saúde chileno anunciou o retorno de 28 comunas para a fase mais dura do plano Paso a Paso, chamada de quarentena –9 delas integram a Região Metropolitana de Santiago. Outras 8 retrocederam à fase de transição.

As medidas começam a valer às 5h de quinta-feira (18). Segundo o jornal El Commercio, isso significa que, no próximo fim de semana, 90% da população chilena estará confinada.

Na quarentena, ficam proibidas aulas presenciais em escolas públicas e particulares, funcionamento de pubs, discotecas, ginásios e estabelecimentos esportivos, presença de público em restaurantes e cafés e vendas de itens não essenciais em mercados. Os trabalhadores de serviços essenciais que não podem fazê-lo remotamente recebem uma licença de deslocamento especial.

Também não são permitidas reuniões sociais em residências particulares e eventos de qualquer tipo, a não ser funerais, entre outras restrições. Há ainda a implementação de um toque de recolher entre 22h e 5h e a liberação de atividades ao ar livre (esportes ou passeio) entre 7h e 8h30.

Já na fase de transição, as reuniões de até quatro pessoas passam a ser permitidas, é permitido ir trabalhar, desde que não seja em uma região que esteja em quarentena, e esportes em um grupo de até 10 pessoas estão liberados entre 7h e 8h30.

O toque de recolher, por outro lado, continua em vigor, assim como uma determinação para permanecer em casa aos fins de semana, podendo sair apenas com uma permissão concedida de forma online, uma vez por semana.

Nas duas fases, fica determinado o uso de máscaras e deve-se manter o distanciamento social quando for necessário sair de casa.

Ao anunciar as novas medidas, o ministro da Saúde, Enrique Paris, afirmou que o aumento de casos nos últimos dias, após as férias de verão, também foi visto em outros países. “Por isso, desenhou-se um plano de março para aumentar a fiscalização, preparar os hospitais com aumento dos leitos de UTI, sem deixar de insistir em uma campanha de prevenção, que é o mais importante.”

Segundo o Ministério da Saúde, no último fim de semana, 5.258 pessoas foram detidas nas fiscalizações realizadas pelo país. A maior parte, 4.300, foi por desrespeitar o artigo da lei penal que legisla sobre colocar em perigo a saúde pública por infração das regras higiênicas ou de salubridade em vigor durante épocas de epidemia. Entre os demais, 797 desrespeitaram o toque de recolher, e 161 foram detidos por participar de festas clandestinas.

O avanço da pandemia também coloca em risco a realização das eleições de 11 de abril, em que serão escolhidos vereadores, prefeitos, governadores regionais e, principalmente, os membros da constituinte que reescreverá a Carta do país.

Questionado sobre um possível adiamento devido à situação da Covid-19 no país, Paris disse que a decisão cabe ao Legislativo, ao Serviço Eleitoral e ao Executivo. “Do ponto de vista da saúde, o que fizemos, como no plebiscito, foi colaborar com o Servel [Serviço Eleitoral] na confecção dos protocolos de atendimento ou cumprimento dos protocolos de saúde durante a votação”, afirmou o ministro da Saúde, segundo o jornal La Tercera.

“Se durante a votação forem cumpridos os protocolos sanitários, acho que não haverá problema, assim como não houve problema no plebiscito, mas não cabe ao Ministério da Saúde modificar o regulamento eleitoral ou eleitoral.”

Paris reconhece, porém, que a situação atual é diferente daquela vista quando ocorreu o plebiscito que determinou a mudança da Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet.

No dia 25 de outubro, data da votação, o país registrava média móvel de novos casos de 1.472 –70,8% a menos do número registrado neste domingo (5.046). “Obviamente isso nos preocupa”, afirmou o ministro. “É por isso que apelamos às pessoas para que se cuidem, tomem as devidas precauções, vão com calma à votação. E não creio que ocorrerão problemas se cumprirmos o protocolo de saúde.”

Também nesta segunda, o presidente Sebastián Piñera se mostrou confiante para a realização do pleito ao anunciar novas regras. Uma reforma constitucional permitiu que a votação seja feita em dois dias –antes, deveria ser em apenas um dia.

Assim, os chilenos terão os dias 10 e 11 de abril para participar das eleições. “Tenho a certeza que com o apoio e colaboração de todos, visto que tivemos um processo de vacinação exemplar, reconhecido e apreciado em todo o mundo, no sábado 10 de abril e no domingo 11 de abril teremos também uma eleição exemplar que honra a nossa tradição democrática e também é reconhecida por todo o mundo”, afirmou Piñera.

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