(FOLHAPRESS) – Novos estudos científicos mostram que adoçantes, embora sejam seguros dentro de limites diários, podem causar efeitos adversos quando consumidos em grandes quantidades e a longo prazo, principalmente para os hábitos alimentares e a microbiota intestinal.
Essas substâncias adoçam alimentos ao custo de menos calorias do que o açúcar tradicional. Com frequência surgem novas moléculas que são centenas ou milhares de vezes mais doces e, se ingeridas de forma constante, promovem alterações nas papilas gustativas, o que prejudica a percepção do gosto.
A nutricionista Fabiana Nalon, membro da comissão científica da Associação de Nutrição do Distrito Federal, afirma que, com o tempo, essas papilas passam a exigir grandes quantidades de açúcar e sal para se satisfazerem, piorando significativamente as escolhas alimentares de quem for afetado.
Em crianças esse efeito é particularmente danoso, já que os pequenos ainda estão formando o próprio paladar e precisam se acostumar com sabores como o azedo ou o amargo, que fazem parte de uma alimentação completa e saudável.
Para Ana Luisa Faller, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), as alterações causadas pelos adoçantes estão começando a ser descobertas. Uma questão emergente sobre a qual os cientistas estão se debruçando é a mudança provocada na flora intestinal, envolvida em processos fundamentais do corpo, como o metabolismo, a imunidade e o crescimento.
Uma revisão de estudos feita por especialistas da Universidade de Granada, na Espanha, revela que, entre os adoçantes não nutritivos, a sacarina e a sucralose podem causar esse desequilíbrio da microbiota. O mesmo vale para a stevia, do tipo nutritivo e natural.
Faller pontua que microrganismos do intestino influenciam diversas funções do corpo por meio de proteínas que eles produzem.
“Uma alteração nesse sistema pode levar a efeitos indesejados. Podem gerar moléculas que produzem, por exemplo, um processo inflamatório sistêmico ou que causem intolerância à insulina”, afirma a professora.
Entretanto, faltam dados para a maioria desses aditivos usados no mercado. Os autores, no estudo espanhol, afirmam haver a “necessidade de executar novas pesquisas a longo prazo de ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos, controlados por placebo e com doses apropriadas para avaliar o impacto potencial de adoçantes no intestino”.
Estudos também indicam que as embalagens dos produtos causam mais confusão do que esclarecem o consumidor. Especialistas da USP (Universidade de São Paulo) entrevistaram 96 consumidores em Goiânia, Porto Alegre, Recife e São Paulo, que revelaram dificuldades na hora de ler e interpretar as informações dos rótulos, tanto pela falta de familiaridade com os nomes dos adoçantes quanto pelo desconhecimento sobre eles.
A dica, segundo Fabiana Nalon, é buscar pela palavra “edulcorante”, usada frequentemente pela indústria.
Para os cientistas da USP, durante as entrevistas ficou evidente a desconfiança por parte da população em relação a esses aditivos alimentares. Uma percepção comum é a associação entre os adoçantes e o surgimento de certos tipos de câncer.
Renata Cintra, professora do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, diz que a relação feita entre adoçantes e o câncer é resultado de um estudo da década de 1970, no qual pesquisadores alimentaram ratos de laboratórios com sacarina ciclamato. Depois de algum tempo consumindo doses elevadas da substância, os animais desenvolveram câncer de bexiga.
Mas a pesquisadora afirma que, desde então, nunca foi comprovado que a substância tem o mesmo efeito em seres humanos. Além disso, proporcionalmente, o consumo humano diário de adoçantes é imensamente inferior ao que foi utilizado na pesquisa com os roedores.
Não existem evidências de que essas substâncias fazem mal se forem consumidas nas doses consideradas seguras. No Brasil, para serem usadas na indústria, sua segurança deve ser comprovada mediante estudos científicos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em excesso podem causar efeitos colaterais leves ou moderados, como desconforto intestinal e diarreia, como é o caso do xilitol.
Os adoçantes são uma alternativa popular entre pacientes de diabetes, porque permitem driblar o uso da sacarose em preparos doces. Mas ganharam mesmo a atenção do público interessado no emagrecimento.
Pesquisadores da Universidade de Ciências Médicas de Poznan, na Polônia, analisaram uma série de estudos científicos e chegaram à conclusão de que substituir o açúcar realmente auxilia no combate à obesidade, porque diminui a ingestão de calorias.
Segundo os especialistas, os adoçantes não nutritivos não estimulam o consumo de mais comida, como algumas pessoas acreditam, mas eles trazem a ressalva de que algumas pessoas podem deliberadamente fazer essa compensação, e nesses casos os benefícios são perdidos.
A professora Faller faz o mesmo alerta. Alicerçar uma dieta sobre o uso de adoçantes não basta para quem quer perder gordura, afirma.
“As pessoas veem como uma estratégia porque cortam as calorias do açúcar. Mas a prática não vem acompanhada de mudanças de hábitos alimentares e, portanto, o processo não vai ser efetivo.”
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