Condomínio de luxo é sentenciado a indenizar varão preto confundido com entregador

O condomínio de luxo Quinta do Golfe Jardins, localizado em São José do Rio Preto, no interno de São Paulo, foi sentenciado a remunerar R$ 20 milénio de indenização por danos morais a um varão preto que foi confundido com um entregador. Uma vez que a decisão foi tomada na primeira instância, o condomínio ainda pode recorrer.

 

Quando o varão chegou, de moto e mochila, a porteira o direcionou para a ingresso de serviço. Ele era convidado de uma sarau que ocorria no salão do condomínio. Imagens das câmeras de segurança registraram o ocorrido.

Para o juiz Sergio Martins Barbatto Júnior, da 6.ª Vara Cível de São José do Rio Preto, o incidente é uma sintoma de racismo estrutural.

“A porteira, em sua ensino, sequer pensou em perguntar para o responsável: ‘Convidado?’ A sua reação original, sem que ela mesmo, ou seu companheiro de trabalho, preto e que não se sentiu imediatamente ofendido justamente por também ver ali uma assunção justa, percebesse, foi de assumir que o requerente era entregador porque estava de moto e de mochila”, diz a decisão.

“O responsável não estava uniformizado, sua mochila não era aquela de entrega mas de uso pessoal, ele estava na ingresso de convidados, havia uma sarau no salão a que ele pede entrada, e havia uma lista de convidados na portaria. Há muito mais indícios de que ele fosse convidado do que indícios de que ele fosse entregador. Ele não falou “tenho uma entrega para fulano…”. Ele pediu entrada ao salão de festas. Só isso”, seguiu o juiz.

A sentença foi divulgada pela pilar do jornalista Rogério Gentile.

Ao estabelecer a indenização, o juiz afirmou ainda que a porteira não agiu de má-fé e que a obrigação de treinar os funcionários é do condomínio.

“A porteira genuinamente acreditou estar agindo corretamente. Foi educada. Deu indicações de uma vez que o Requerente poderia chegar à outra portaria. O seu comportamento somente reflete uma estrutura chancelada socialmente.”

COM A PALAVRA, O CONDOMÍNIO

Até a publicação deste texto, o Estadão buscou contato com a resguardo do condomínio, mas sem sucesso. O espaço está ingénuo para sintoma.