Como no BBB, conheça histórias de amores não correspondidos e como superar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “A solidão é muito triste, mas um amor não correspondido é bem pior.” É o que afirma a recepcionista Isabel Berbel, 59, sobre passar por uma desilusão amorosa. Ao longo da vida, muitas pessoas já sofreram com coração partido ou já viram alguém nessa situação.

Um exemplo de uma relação em que o afeto não foi exatamente recíproco pode ser visto no Big Brother Brasil 21, reality de confinamento da Globo. A cirurgiã-dentista Thaís Braz, eliminada no dia 13 de abril, demonstrava interesse por Fiuk, que não correspondia na mesma proporção. Já no relacionamento entre Carla Diaz e Arthur Picoli parecia haver mais entrega da atriz.

“Quando nos apaixonamos por alguém, criamos uma expectativa dentro daquela relação. Existe uma imagem idealizada da pessoa porque, de início, não a conhecemos tão bem”, afirma a psiquiatra Olívia Prado, chefe da psiquiatria do Hospital Moriah e coordenadora do ambulatório de interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Prado afirma que, quando há rejeição, o primeiro sentimento que aparece, junto a quebra de expectativas, é a frustração. “A expectativa que tínhamos é quebrada. Então a frustração é quando nos sentimos entristecidos e decepcionados com algo que esperávamos e não deu certo.”

Estudante de engenharia química, Ana Bárbara Braga, 21, afirma que já passou por algumas situações em que não foi correspondida. Uma delas foi o “primeiro amor de escola, quando eu estava no pré”. “Naquelas bobeiras de criança, eu falava ‘que menino bonitinho, estou gostando dele'”, conta. “Eu sempre queria ficar perto dele, mas ele era muito quieto e nem ligava para essas coisas e eu lá, morrendo de amores.”

Braga também recorda de outra situação no fim da adolescência. “Acabei gostando de um menino e nós nos envolvemos. No final, quebrei a cara. O que eu pensava não era o que estava acontecendo e foi uma quebra de expectativas muito grande.”

“[A desilusão amorosa] foi um choque muito grande, porque nós nunca esperamos o que vamos sentir, e não escolhemos por quem se apaixonar”, completa. “A cada desilusão amorosa aprendemos uma coisa nova, não saímos 100% sabendo como lidar com situações como essa, mas penso que não erramos mais na mesma coisa.”

“O sentimento de rejeição para o ser humano é muito intenso”, diz Olívia Prado. “É algo muito primitivo, porque é como se o outro tivesse rejeitado tudo aquilo que somos, tudo o que representamos. Isso tem um reflexo importante na autoestima.”

Psicanalista e professora titular no departamento de Psicologia Clínica da USP (Universidade de São Paulo), Isabel Cristina Gomes afirma que a rejeição pode estar ligada a traumas anteriores. “Comparamos com uma forma de elaborar o luto, da perda de alguém ou da perda de algo.”

“A situação fica mais traumática se colocar partes minhas no outro. Muitas vezes isso também acaba sendo difícil de ser superado por remeter a perdas anteriores muito importantes”, acrescenta Gomes.

Já Maria do Carmo, 74, teve uma experiência diferente. Em sua juventude, a aposentada não teve nenhum amor não correspondido, porém aos 67 anos, um ano após ficar viúva, se apaixonou e não foi recíproco. Ela diz que foi uma paixão à primeira vista ao relembrar o episódio, que ocorreu em uma de suas viagens.

“Foi um casinho, ele olhava para mim e piscava e eu ficava ‘toda- toda'”, diz Carmo, que depois descobriu que o homem havia se envolvido com outra mulher na mesma viagem. “Fiquei muito triste. Briguei até com uma colega minha que falou que ele era nojento.”

A aposentada diz que até hoje ainda pensa em seu amor não correspondido, mas que não sente mais a mesma coisa. “Fico pensando: ‘Ai meu Deus, eu podia um dia ver ele’. Nem que fosse só para ver mesmo. O amor não tem idade.”

Já Vera Luciana, 49, recorda das idas e vindas com um amigo de infância: “Costumo falar que desde que eu tinha oito anos eu morria de amores por aquele menino”. A vendedora técnica diz que apenas na pré-adolescência o relacionamento começou a tomar o rumo de um “namorico”, mas as ações vinham só dela.

Ela diz que se mudou de bairro, mas, aos 16 anos, eles se reencontraram e não pensou duas vezes antes de começar a namorar ele. Mas aconteceu “na hora errada”, afirma. Quando ele finalmente falou que a amava, Vera sentiu uma quebra de expectativas muito grande. “Foi tão ruim na hora que ele falou. Nem consegui falar ‘eu também te amo’. Só fiquei olhando pasma e depois de uns três dias eu terminei.”

“Para mim o sentimento acabou. Agradeço muito a Deus por não ter ficado com ele”, diz Luciana, que chegou a rever o antigo namoro anos depois.

POR QUE MUITOS NÃO PERCEBEM?

Tal qual os casais formados no BBB, as pessoas envolvidas em uma relação não percebem que o amor não é correspondido. “Quando se ama uma pessoa, nos entregamos e pensamos 24 horas nela. Nem percebemos de início que não somos correspondidos”, afirma a psicanalista Isabel Cristina Gomes.

“Falamos que a paixão cega porque é como se projetássemos no outro aquilo que gostaríamos de encontrar. Isso dificulta vermos o outro como ele é”, diz Gomes, ao reforçar que, “em muitos casos, o sentimento inicial é intenso, pois as partes ainda não se conhecem bem”.

“É como viver só o bom, a tendência das pessoas é mostrar o seu melhor. Então dizemos que é um momento de idealização”, explica a psicanalista. Ela ainda diz que por projetar vontades próprias na outra parte do relacionamento é comum “colocar no outro, partes nossas”. Por isso o sentimento de rejeição vem tão forte, e ele é “um dos sentimentos mais difíceis para elaborar”.

“Ficamos cegos pelo que queremos, desejamos e idealizamos”, diz a estudante Ana Bárbara. “A maior parte do tempo eu pensava só nele”, conta a vendedora técnica Vera Luciana, que afirma ter mudado de bairro e evitou falar nome dele. “Eu me afastei de todo mundo daquela época e fiz novas amizades. Não fui mais lá e não procurei saber de ninguém.”

“Para nós é muito difícil aceitar a rejeição”, diz a psiquiatra Olívia Prado. “Para alguns mais, para outros menos, mas aceitar que aquela pessoa não nos ama é muito difícil. Muitas vezes tentamos até ter algo muito forte que nos convença de que aquilo não está funcionando.”

A recepcionista Isabel Berbel diz que só enxergou tudo com clareza depois que o relacionamento já havia acabado. “Encontrei uma pessoa que se aproximou e demonstrou carinho. Então vi a diferença de quem realmente te ama.”

No caso dos BBBs, Prado diz que os confinados podem não assimilar o próprio relacionamento por estarem presos na casa, sem ter como focar em outras atividades. Ela lembra, porém, que isso pode acontecer do lado de fora, com qualquer pessoa.

“É o que chamamos de relação tóxica. É uma relação mesmo, mais duradoura, em que um acaba fazendo mal para o outro, e mesmo assim as pessoas não conseguem se desvencilhar”, diz. “Pessoas que se sentem muito mal em uma relação e estão aprisionadas em relações tóxicas precisam de ajuda de um profissional, de psicoterapia, de uma rede de apoio e, às vezes, até de medicação.”

SUPERAÇÃO

Cada pessoa tem um processo particular de superar uma superação ou um coração partido. Para Isabel Berbel, por exemplo, “um amor esquece o outro”. Já no caso de Maria do Carmo, o que a ajudou a superar foi a falta de contato e o tempo.

“Para conseguir superar esses sentimentos tão dolorosos, incômodos e angustiantes dependemos da nossa resiliência. Sempre oriento os meus pacientes que chegam destruídos pela perda de um amor, para tentar se reerguer tendo outros interesses”, diz a psiquiatra Olívia Prado. “É preciso ter vários interesses e ocupações, então conseguimos segurar em outros alicerces, como amizades, trabalho, hobbies e esporte.”

A psiquiatra ainda explica que a superação irá depender da intensidade do que foi vivido. “Há amores que são mais imediatos, uma paixonite. E tem amores que são muito importantes na vida de alguém, então acabam tendo uma repercussão maior.”

A estudante Ana Bárbara relembra que demorou para superar, por ainda ter contato com a pessoa através das redes sociais. “Ficava imaginando porque não deu certo, se eu tivesse feito isso ou aquilo.” Para ela, foi essencial parar de se culpar pelo fim da relação e entender que não era para dar certo.

A psicanalista Isabel Cristina Gomes diz ser necessário recuperar as energias gastas. “Procurar se preencher daquilo de que gosta, mas que dependa de si mesmo. Como uma forma de redirecionar a energia e perceber que pode se fazer feliz.”

Ela afirma que a necessidade de afeto é natural do ser humano, mas pondera ser preciso aprender a “estar só”. “Não é estar sozinho. Na psicanálise o termo ‘a capacidade de estar só’ remete a conseguir ser suficiente para si mesmo.”

A vendedora Vera Luciana -que só percebeu que não estava no relacionamento que gostaria quando a relação ficou, enfim, madura- hoje diz saber que é preciso amar a si mesmo, “acima de todos”. “Primeiro você tem que se amar acima de todos”, diz.

“Você tem que pensar: se essa pessoa me trata bem quando precisa e depois quando passa a vontade dela, ela não quer saber de mim, você não pode gostar dela. É preciso ser feliz consigo mesmo, só depois conseguimos fazer alguém feliz.”

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