Com medo do vírus, candidatos da Fuvest planejam isolamento

Nas vésperas da Fuvest, estudantes têm um tema a mais para estudar: como se proteger da infecção pelo coronavírus na hora da prova. A 1.ª fase do vestibular, principal forma de acesso à USP, ocorre amanhã, em meio ao avanço da covid. Com medo de contrair a doença na prova e levá-la para casa, estudantes planejam isolamento, escolhem máscaras e até eliminam outros vestibulares.

Cerca de 130 mil estudantes são esperados em 148 locais de prova, de 35 cidades. Diferentemente do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não haverá reaplicação para candidatos com a covid-19. Com isso, cresce o temor de que alunos infectados compareçam para não perder um ano de preparação. A Fuvest aumentou o número de salas da aplicação nesta edição e não cogita mudar as regras agora ou adiar a prova, mas admite o risco de que candidatos infectados participem.

O estudante José Maria da Silva Filho, de 23 anos, vai fazer a prova, mas tem medo. No início da pandemia, ele se mudou para a casa do pai, hipertenso de 57 anos, justamente para tentar protegê-lo. Com a maratona de vestibulares, o receio é expor quem ele tenta poupar. “Depois das provas, vou tomar cuidado, ficar de máscara dentro de casa mesmo.” Ele já avaliou um método de isolamento domiciliar para reduzir o contato. “Meu quarto é na parte de cima. Eu ficaria lá, isolado, e a única coisa que a gente dividiria seria cozinha e banheiro”, diz o aluno do curso Anglo que tenta uma vaga em Medicina na USP.

Estratégia parecida será adotada por Emanuele Bizzo, de 23 anos, candidata de Jornalismo. “Pretendo fazer isolamento depois das provas, ficar só no sótão, usar o banheiro na garagem e, quando precisar ir à cozinha, esperar que meus pais saiam”, conta a jovem, que tem evitado saídas desnecessárias. Ela diz ter pensado várias vezes em desistir, por medo de levar a doença para casa, onde vivem os pais idosos – no início da pandemia, o pai parou de trabalhar para reduzir o risco. Também cogita fazer teste da covid após a prova.

Estudantes temem que nem todos os candidatos com sintomas abram mão da prova. No vestibular da Unicamp esta semana, um estudante foi desclassificado depois de ir com febre e tosse – houve aferição de temperatura na entrada, procedimento que não será adotado pela Fuvest para evitar aglomerações.

Risco doméstico

“É um problema porque estamos fazendo a prova bem depois da virada de ano. Várias pessoas foram para a praia, aglomeraram, não dá para saber se a pessoa na sala aglomerou ou não”, diz Samantha dos Santos, de 23 anos, candidata de Medicina. Ela tirou duas faculdades da lista de vestibulares que vai prestar para reduzir riscos – o pai tem doença pulmonar. “Se ele pegar, a chance de desenvolver um quadro muito grave, podendo até morrer, é grande.”

Julia Schmidt, de 26 anos, pensa em desistir. Ela, que mora com a avó de 92 anos e a mãe de 70, vai até o local de prova só para ver se está cheio. “Se estiver muito aglomerado, e tenho certeza que vai estar, não faço.” A jovem voltou da Alemanha, onde estudava Bioquímica Médica, para ficar com a família no início da pandemia.

Sem contar com essa possibilidade, Leticia Abreu, de 26 anos, se isola em casa para tentar chegar saudável ao exame. Nos vestibulares que já fez, no fim do ano passado, não se sentiu segura para tirar a máscara e ficou cinco horas sem comer.

Tipos de proteção facial também são tema de discussão entre alunos. “No grupo de WhatsApp do cursinho, o pessoal manda sugestões de máscaras. É até engraçado ver”, diz Silva Filho, que usará um modelo de tecido. Outros já encomendaram máscaras cirúrgicas profissionais e testam viseiras de acrílico. “Escolhemos tentar o sonho e assumir o risco”, afirma Leticia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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