RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dois anos após fazer parte do elenco de “Nos Tempos do Imperador”, Cinnara Leal volta a ser convidada para uma novela na Globo. Escalada para interpretar a jornalista Cecília em “Fuzuê”, próxima trama das 19h, a atriz falou pela primeira vez sobre o caso envolvendo o ex-diretor da emissora, Vinícius Coimbra, demitido no ano passado. A emissora apurou o caso de racismo internamente e o afastou sob a justificativa de assédio moral.
Ela, Roberta Rodrigues e Dani Ornellas denunciaram Coimbra e equipe ainda em 2021 por falas preconceituosas e segregação de atores negros nos bastidores da trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão. “O assunto ainda dói, só que silenciar nunca foi uma opção. Fiz e faria novamente porque foi um ensinamento para todo mundo. Nós demos voz a uma luta negra”, afirma.
Cinnara diz acreditar que o episódio envolvendo o trio e o ex-diretor fortaleceu o movimento que a emissora fez em relação ao protagonismo negro. “Não tenho dúvidas. Era [o protagonismo negro] um processo que já estava para acontecer, por um reconhecimento dos atores negros. A casa reconheceu que o preconceito não deve limitar”, diz a atriz.
Cinnara destaca e elogia os trabalhos de Lucy Alves (“Travessia”), Bárbara Reis (“Terra e Paixão”), Sheron Menezzes(“Vai na Fé”) e Diogo Almeida (“Amor Perfeito”). “O que já aconteceu e continua acontecendo é maravilhoso e eu espero que continue assim. Precisamos de negros ocupando mais os espaços, mulheres e pessoas LGBTQIA+ em todos os lugares. Isso é mudança, é resistência e luta. Fico feliz em poder vivenciar tudo isso”.
Sobre a personagem da trama de Gustavo Reiz, a atriz define Cecília como “densa” e fala com animação sobre a jornalista investigativa que vai interpretar. “Ela busca a verdade sobre as mortes dos pais em um incêndio, e isso vira uma obsessão. Cecília não quer matar ninguém nem passar por cima da sua moral e ética, mas é uma justiceira e corre alguns perigos”, descreve.
Cinnara conta algumas de suas inspirações para o papel. “Tentei pegar a doçura da Maju Coutinho e a coragem e determinação de Tim Lopes [repórter da Globo morto em 2002, a mando do traficante Elias Maluco. Ele foi torturado, morto e queimado enquanto fazia uma reportagem investigativa na Vila Cruzeiro, favela da zona norte do Rio de Janeiro].
“Tim era uma referência no jornalismo investigativo. Estou me aprofundando nessa área, tenho observado vários jornalistas. Quero que os profissionais do jornalismo sintam orgulho de mim. Quero fazer esse trabalho com verdade”, diz.