(FOLHAPRESS) – Todos os imóveis ligados à Prefeitura de Hortolândia, a 97 km da capital paulista, devem passar a utilizar principalmente energia solar até o fim do primeiro semestre deste ano.
A ideia é que usinas fotovoltaicas abasteçam 80% da demanda desses locais, entre os quais estão escolas e unidades de saúde.
No total, 21 fazendas solares fornecerão energia para 199 imóveis, uma escala que, na avaliação de especialistas, torna o projeto pioneiro.
Desde dezembro do ano passado, há quatro fazendas em funcionamento: em uma UPA (unidade de pronto-atendimento), em um hospital, em uma escola e no paço municipal, onde fica a prefeitura. As demais devem ser ativadas ainda neste semestre.
O governo municipal afirma ter investido R$ 16 milhões para implementar as 21 usinas -cada uma reúne entre 300 e mil placas solares. A expectativa é economizar R$ 4 milhões por ano quando o projeto estiver concluído -no ano passado, o gasto com energia foi de R$ 4,7 milhões.
Carlos Roberto Prataviera Júnior, secretário de Planejamento Urbano de Hortolândia, diz que o projeto foi idealizado após a instalação de lâmpadas de LED na iluminação pública na cidade, há quatro anos, o que reduziu em 60% o custo da energia.
Depois dos resultados com o LED, a prefeitura decidiu apostar nas placas, também para diminuir despesa. O programa foi feito em parceria com empresas privadas.
“A incidência dos níveis de sol em Hortolândia é bem alta, e isso tornou mais viável implantar a usina solar”, afirma Prataviera. “O projeto tem duas pegadas: a financeira, por gerar uma economia grande; e a ambiental, já que todo o consumo em prédios públicos da cidade virá de energia limpa.”
Ao todo, 17 imóveis terão usinas instaladas. Locais com maior demanda, como UPAs e hospitais, e os outros sem fazendas solares próprias vão usar a energia excedente proveniente de locais com maior número de placas, como o paço municipal.
Para este ano, a gestão municipal também planeja substituir 20 veículos a combustão da prefeitura por carros elétricos, segundo o secretário de Planejamento Urbano.
A cidade quer, ainda, adquirir ônibus elétricos para o transporte municipal, com financiamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, participou do lançamento da iniciativa de transição energética da cidade, em dezembro do ano passado. Na ocasião, disse que Hortolândia é referência para o governo federal e para outras cidades.
Em nota, a pasta afirma que tem projetos próprios para implementar fontes renováveis e eficiência energética em prédios públicos. Um deles é o Esplanada Solar, lançado em 2021, para instalar usinas fotovoltaicas nos edifícios anexos aos ministérios, em Brasília.
A pasta diz que apoia a implantação de Sistemas de Gestão de Energia nesses prédios, com monitoramento do gasto energético para identificar formas de diminuir o consumo.
Projetos com o uso de usinas solares também são vistos em outras cidades.
No Rio de Janeiro, a prefeitura afirma que vai instalar uma usina de placas solares para abastecer imóveis públicos, com geração para cerca de 45 escolas municipais ou 15 UPAs. A previsão é que 11 mil painéis sejam instalados até agosto deste ano.
Adotar fontes renováveis é um esforço válido na transição energética, mas essa não deve ser a única medida, de acordo com especialistas. Investir em eficiência energética, adotando aparelhos que usam menos energia, e em campanhas de conscientização sobre consumo pode levar a resultados mais eficazes.
“É importante o poder público influenciar na conservação de energia. Qualquer tipo de remodelação das instalações ou melhor isolamento para não gastar muita energia é efetivo, porque, senão, acaba privilegiando o setor de painéis solares”, afirma Suzana Kahn, diretora da Coppe, centro de pesquisa em engenharia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O secretário de Planejamento Urbano de Hortolândia diz que a prefeitura pretende adotar a eficiência energética para reduzir 20% dos gastos de energia que não serão gerados pelas fontes renováveis.
Na avaliação de Fernando Caneppele, professor de energias da USP, o projeto de Hortolândia pode ser aplicado na maior parte das cidades brasileiras, em razão da alta incidência solar do país. Depende, porém, dos recursos financeiros, espaço físico e da quantidade de energia consumida nos prédios municipais.
Locais com uma densidade populacional alta podem não ter espaço físico para instalar usinas, por exemplo -Hortolândia tem 236,6 mil habitantes.
“Quando não há áreas descampadas, a placa é colocada no telhado das edificações. Em cidades maiores, os prédios têm vários andares, e pode não dar para suprir toda a energia necessária para o funcionamento”, afirma o professor.
Já municípios menores podem ter dificuldade em investir nas placas, ainda que haja uma compensação financeira a longo prazo.
Caneppele acrescenta que também é preciso diversificar as matrizes de energia adotadas para garantir segurança. Isso evita que a cidade dependa de apenas uma fonte e, em caso de crise, tenha outras alternativas para se abastecer.
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