SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A China declarou apoio ao Irã na “garantia de sua soberania” em meio ao aumento da tensão regional após o assassinato de um importante líder militar do Hamas em solo iraniano.
Wang Yi, chanceler da China, expressou apoio do país ao seu homólogo interino do Irã, Ali Bagheri Kani, por meio de ligação no domingo (11). Em comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da China, Yi reiterou que Pequim condena o ataque de Israel em solo iraniano que matou o líder do Hamas Ismail Haniye, em Teerã, em 31 de julho.
No comunicado, o chanceler chinês disse ter expressado ao governo iraniano que o ataque israelense viola as relações internacionais. “A China se opõe firmemente e condena veementemente o assassinato por acreditar que viola gravemente as normas básicas que regem as relações internacionais, por atentar de forma grave contra a soberania, a segurança e a dignidade do Irã”, afirma o comunicado.
China reiterou que o assassinato de Haniye impacta nas negociações de cessar-fogo em Gaza e pela paz na região. “A China apoio o Irã na defesa de sua soberania e segurança de acordo com a lei e também apoia seus esforços para salvaguardar a paz e a estabilidade regionais”, diz o comunicado.
ESCALADA DE TENSÃO REGIONAL
Um escalada no conflito entre Irã e Israel vem sendo acompanhada por todo o mundo nas últimas semanas. Após uma série de assassinatos de nomes importantes dos grupos extremistas Hamas e Hezbollah, Teerã ameaçou atacar o território israelense.
Morte de líderes militares do Hamas. O exército de Israel informou no início de agosto que havia matado, via ataque aéreo, o comandante militar do Hamas, Mohammed Deif, um dos mentores dos ataques de 7 de outubro de 2023 à Israel. O assassinato teria acontecido em 13 de julho em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.
Outro membro poderoso do Hamas foi assassinado em julho. Ismail Haniyeh, líder político e principal nome do Hamas, era membro do grupo desde a sua fundação, em 1987, e atuava como líder da organização nas negociações com Israel promovidas pelo Qatar. No final de julho, Haniyeh morreu em um ataque enquanto estava em Teerã, no Irã. Segundo o jornal The New York Times, uma bomba foi escondida dois meses antes na casa onde Haniyeh costumava se hospedar quando visitava a cidade. O explosivo teria sido detonado remotamente enquanto Haniyeh estava dentro do quarto.
Casa que foi alvo de ataque estava sob a proteção da Guarda Revolucionária do Irã. A Guarda é o braço mais poderoso do exército iraniano e responsável pela segurança de autoridades. No ataque, um guarda-costas de Haniyeh também morreu.
Israel não se manifestou sobre o assassinato de Haniyeh. Autoridades do país não negaram nem confirmaram envolvimento na morte do líder do Hamas. Ele também figurava entre os nomes mais procurados por Israel desde o ataque de outubro.
Morte de comandantes do Hezbollah. Os comandantes Nazih Abed Ali e Fuad Shukr, nomes do alto escalão do grupo extremista Hezbollah também foram assassinados em ataques israelenses. Ali foi morto em um atentado na cidade de Bazuriya. Segundo as Forças de Defesa de Israel, a FDI, Ali era um “importante terrorista” do grupo. Ainda de acordo com as FDI, Ali participou do planejamento e da execução de ataques contra Israel. Seu assassinato foi um “golpe significativo para o funcionamento da frente sul do Hezbollah na região”, declarou a entidade.
Segundo autoridades do Irã, somente um cessar-fogo na Faixa de Gaza seria capaz de impedir o ataque. O Irã, juntamente com aliados como o Hezbollah, lançaria um ataque direto em direção a Israel se as negociações previstas para essa semana fracassassem ou se houvesse indícios de que Israel não está colaborando com as negociações.
AMEAÇAS DE RETALIAÇÃO E APELOS INTERNACIONAIS REJEITADOS
Irã estaria decidido a atacar Israel após série de assassinatos. Segundo Nasser Kanaani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, “a República Islâmica está determinada a defender sua soberania […] e não pede a autorização de ninguém para usar seus direitos legítimos”.
Presidente do Irã também manifestou intenção de vingança. Masoud Pezeshkian afirmou que “Israel se arrependerá pelo assassinato covarde”, em referência à morte de Ismail Haniyeh.
Aiatolá Ali Khamenei, chefe supremo do Irã, também se manifestou após morte de Haniyeh. Khamenei declarou que o país se vingaria e alertou que Israel havia dado base para uma “punição dura e uma vingança muito difícil”. O Hezbollah e os Houthis (grupo armado formado no Iêmen e que também se voltou contra Israel no conflito) indicaram que poderão reagir à morte de Haniyeh. Já o ex-comandante da Guarda Revolucionária Iraniana, Mohsen Rezaei, afirmou que “Israel pagará um preço elevado” pelo assassinato.
Comunidade internacional teme conflitos armados mais amplos na região. O governo iraniano vem recebendo pedidos de diversas nações para não atacar Israel e evitar a escalada da violência local. O chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Keir Starmer, por exemplo, entraram em contato com Pezeshkian em tentativas de frear as intenções de ataque. Grandes potências ocidentais, em especial os Estados Unidos, emitiram comunicado alertando as possíveis consequências do ataque. Os governos da Rússia e da China, aliados dos iranianos, também expressaram preocupação com o eventual conflito que se formaria a partir de uma retaliação do Irã.
Irã rejeitou os apelos internacionais. O Ministério das Relações Exteriores do Irã afirmou que o pedido de europeus e norte-americanos “carece de lógica política, contradiz o direito internacional e constitui um apoio prático e público aos atos de Israel”. Kanaani declarou que o país está determinado a deter Israel e pediu aos líderes de França, Alemanha e Reino Unido que “de uma vez por todas se posicionassem contra a guerra em Gaza e o belicismo de Israel”.
Estados Unidos enviaram reforços a Israel. O governo norte-americano enviou um submarino com capacidade de lançar mísseis e um porta-aviões para fortalecer o poderio militar de Israel. A expectativa dos EUA é de que a retaliação aconteça ainda nesta semana, com “graves consequências” para a segurança na região.
Eventual ataque iraniano pode dar início a uma nova guerra. Após as ameaças do Irã, o ministro israelense Yoav Gallant afirmou que o país prefere evitar outro grande conflito armado, mas que está “preparado para todas as possibilidades”.